O método das diferenças finitas (MDF) é um método de resolução de equações diferenciais que se baseia na aproximação de derivadas por diferenças finitas. A fórmula de aproximação obtém-se da série de Taylor da função derivada.[1] Hoje, os MDFs são a abordagem dominante das soluções numéricas de equações diferenciais parciais.[2]
O operador de diferenças finitas para derivada pode ser obtido a partir da série de Taylor para as seguintes funções:


Portanto, a derivada primeira pode ser escrita de três formas distintas como uma diferença-quociente mais um termo de erro, obtido ao desprezar-se termos de ordem superior :
, que é conhecida como fórmula das diferenças progressivas, ou
, que é conhecida como fórmula das diferenças regressivas, ou ainda
, que é conhecida como fórmula das diferenças centradas.
- Além disso, é possível obter derivadas de ordem superior. A derivada de segunda ordem é obtida a partir de

e é dada por
A partir das aproximações por diferença-quociente para derivadas de qualquer ordem, é possível transformar equações diferenciais em problemas lineares. Para isso, é necessário ignorar o termo de erro e tornar
um número muito pequeno, mas grande o suficiente para que não cause instabilidades nas aproximações das derivadas.
Para uma equação diferencial do tipo
, onde
varia de
até
,
e
.
A equação é aproximada pelo método das diferenças finitas, com um erro de truncamento igual a
, substituindo-se as derivadas pelas suas representações numéricas, que são dadas por:
Como é possível perceber, necessita-se definir um valor para
. Este valor pode ser definido pela divisão do intervalo em que se está interessado para a resolução do problema em
intervalos menores. Assim, o valor de
é dado por:
.
As extremidades destes subintervalos são dadas por
, para
.
Para a resolução do problema, a equação é escrita na forma
, que após a substituição das derivadas, torna-se:
, para
.
Como
e
, aquela equação pode ser reescrita como
.
Isolando os termos
,
e
na fórmula acima, obtêm-se
A partir desta equação é possível resolver o sistema linear a partir de uma matriz
de coeficientes que multiplica os valores de
, sendo que a solução deste sistema é dada por
. Esse sistema linear é representado a seguir.
Onde a aproximação para
é dada pelos pontos que são solução do sistema
.
A partir do método das diferenças finitas também é possível obter o método de Euler, que é usado para obter soluções de problemas de valor inicial bem-posto. Leonhard Euler (1707 - 1783) foi o primeiro matemático de sua época a apresentar o uso do método de diferenças finitas para encontrar aproximações de soluções de equações diferenciais. Entretanto, o método de Euler não é usado na prática, pois possui pouca precisão. Alternativamente a este, são utilizados com maior frequência o método de Euler modificado ou o método de Runge-Kutta para solução de problemas de valor inicial.
Para um dado problema de valor inicial bem posto
,
≤
≤
,
.
Divide-se o intervalo
em
subintervalos e define-se que
, para
. Onde
é o espaçamento da malha.
A partir disto, temos que
, para
.
Aproximando a equação diferencial pelo método das diferenças finitas, desprezando-se o termo de erro, temos
, que é usada para
A equação acima é conhecida como equação de diferença associada ao método de Euler.
O sistema linear é inicializado com
e é de fácil solução.
O método das diferenças finitas é análogo ao utilizado para problemas lineares. Entretanto, é utilizado um processo iterativo para a obtenção da solução do problema, que não é linear.
Para um problema de contorno não-linear geral, dado por
com
variando de
até
, e sendo as condições de contorno
e
,
há garantia de solução única se as seguintes condições forem satisfeitas.
e suas derivadas parciais em relação a
e
são contínuas em
{
≤
≤
-
<
<
, -
<
<
};
>
, para um certo
>
;
- Existem constantes
e
tais que:
é o valor máximo que o módulo da derivada parcial de
em relação a
atinge em
e
é o valor máximo que o módulo da derivada parcial de
em relação a
atinge em
.
Como no caso anterior, a aproximação para a equação é obtida quando os termos de erro são desprezados.
Assim,
torna-se
, que com a mesma divisão em intervalos anterior, é dada por
, para
.
As condições de contorno são
e
.
A partir da equação
, para
e das condições de contorno, obtemos um sistema não linear que pode ser resolvido via Método de Newton para sistemas não-lineares. Sendo que o sistema terá solução única se
<
. Se a aproximação inicial utilizada no método de Newton for suficientemente próxima da solução e se a matriz Jacobiana do sistema for não-singular, o sistema converge para a solução exata.
Referências
- ↑ Richard L. Burden; J. Douglas Faires. Análise Numérica, Editora CENGAGE Learning, 8° edição. [S.l.: s.n.]
- ↑ Christian Grossmann; Hans-G. Roos; Martin Stynes (2007). Numerical Treatment of Partial Differential Equations. [S.l.]: Springer Science & Business Media. p. 23. ISBN 978-3-540-71584-9