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Xácara de Flores-Bela

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Mouro, se fores às guerras
Trazei-me uma cativa,
Que não seja das mais nobres,
Nem também da vilania;
Seja das escolhidas
Que em Castelhana havia.

Saiu o conde Flores
Fazer essa romaria:
A condessa, como nobre,
Foi em sua companhia.
Matam o conde Flores,
Cativaram Lixandria,
E trouxeram de presente
À rainha da Turquia.

"— Vem cá, vem cá, minha moura,
Aqui está vossa cativa;
Já vou entregar as chaves,
As chaves da minha cozinha.
"Entregai, entregai, senhora,
Que a desgraça foi só minha;
Ainda ontem ser senhora,
Hoje escrava de cozinha.

Ao cabo de nove meses
Tiveram os filhos num dia:
A moura teve um filho,
A cativa uma filhinha.
Levantou-se a moura
Com três dias de parida,
Foi à cama da escrava:
—Como estais, escrava minha?
"Como hei de estar, senhora?
Sempre na vossa cozinha.
Foi olhando para a criança,
Foi achando muito linda:

—Se estivesses em tua terra
Que nome tu botarias?
"Botaria Flores-Bela,
Como uma mana que tinha,
Que os mouros carregaram,
Sendo ela pequenina.

—Se tu a visses hoje
Tu a conhecerias?
"Pelo sinal que tinha
Só assim a conhecia;

—Que tinha um lírio roxo
Que todo o peito cobria!
"Pelo sinal que me dais,
Bem parece mana minha.

—Vem cá, vem cá, minha moura.
Que te diz tua cativa?
"Eu já estou bem agastada,
E já me vou anojar.
Tu mandaste lá buscar,
O teu cunhado matar.

—Se eu matei meu cunhado,
Outro melhor te hei de dar.
—"Farei tua irmã senhora
Da minha monarquia!
"Eu não quero ser senhora
Da tua monarquia,
Quero ir para a minha terra
Onde contente assistia.

"—Aprontai, aprontai a nau,
Mais depressa em demasia,
Para levar Lixandria
Ela e sua filhinha.
"Adeus, adeus, Flores-Bela!
Vai-te embora Lixandria.

E dai lá muitas lembranças
À nossa parentaria;
Que eu fico como moura
Entre tanta mouraria.