Voo Aeroflot 593
Voo Aeroflot 593 | |
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O avião destruído. | |
Sumário | |
Data | 23 de março de 1994 |
Causa | erro do piloto/aeronave pilotada por pessoa inabilitada |
Local | 20 km a leste de Mejdurechensk |
Origem | Aeroporto Internacional Sheremetyevo, Moscou |
Destino | Aeroporto Internacional Kai Tak, Hong Kong |
Passageiros | 63 |
Tripulantes | 12 |
Mortos | 75 |
Feridos | 0 |
Sobreviventes | 0 |
Aeronave | |
Modelo | Airbus A310-300 |
Operador | Air France /alugado para a Aeroflot |
Prefixo | F-OGQS |
Primeiro voo | 11 de setembro de 1991 |
O voo Aeroflot 593 era uma linha aérea da companhia russa Aeroflot, ligando Moscou a Hong Kong. No dia 23 de março de 1994, um Airbus A-310 que realizava essa rota caiu sob circunstâncias suspeitas, a 20 km a leste de Mejdurechensk. A queda da aeronave causaria a morte dos seus 75 ocupantes.[1] As investigações levariam a descoberta de um dos mais bizarros acidentes aéreos da história.[2]
Aeronave
[editar | editar código-fonte]O Airbus A-310-300 destruído no acidente foi fabricado em 1991, tendo realizado seu primeiro voo em setembro de 1991.[3] A aeronave seria adquirida pela companhia nacional francesa Air France, onde recebeu o prefixo F-WWCS. Cerca de um ano depois, a Air France alugaria cinco A-310-300 para a Aeroflot, entre elas o F-WWCS , que seria rematriculado como F-OGQS. A empresa russa iria empregar a aeronave, batizada de Glinka, nas ligações entre a Ásia e a Europa, através da sua subsidiária Aeroflot - Russian Airlines.[4]
Acidente
[editar | editar código-fonte]Após ter decolado de Moscou com destino a Hong Kong, realizando o Voo Aeroflot SU 593, com 10 horas de duração, o Airbus A-310-300 sobrevoava o sul da Sibéria quando subitamente mergulharia rumo ao solo na madrugada de 23 de março, onde atingiria um morro de 600 m. Com o violento choque, a aeronave explodiria, espalhando destroços por uma região de floresta a 20 km a leste da cidade de Mejdurechensk.[4]
Após a falta de comunicação do voo 593, o ATC (Controle de tráfego aéreo) de Novokuznetsk mobilizaria as primeiras equipes de resgate duas horas depois do desaparecimento daquele voo. As autoridades russas mobilizariam uma operação de busca e salvamento composta de 238 homens, 4 aviões e 3 helicópteros. Porém, o mau tempo (nevasca) e o local da queda, de difícil acesso, atrasariam o resgate dos corpos e destroços. As caixas pretas seriam encontradas e seriam fundamentais para a revelação da causa do acidente.[4]
As autoridades russas suspeitaram inicialmente de atentado terrorista e/ou despressurização da cabine, pois nenhuma comunicação de anormalidade fora feita pela tripulação do voo 593 até à sua abrupta queda.[1][5]
Investigações
[editar | editar código-fonte]Segundo dados de manutenção, o Airbus A-310 estava com sua manutenção em dia, e era pilotado por duas tripulações experientes. A análise dos dados das caixas pretas revelou a causa do acidente.[3][6]
Durante aquela viagem, o comandante Yaroslav Kudrinsky levou seus filhos Yana e Eldar a bordo. Em um trecho do voo no qual o Airbus voava sob o comando do piloto automático, o comandante conduziu seus filhos até a cabine e os convidou a sentar em sua poltrona. Depois disso, ele os incentivou a movimentar o manche da aeronave.[7] Yana simulou uma curva com a aeronave (previamente programada pelo comandante através do piloto automático), e, depois disso, Eldar, de 15 anos, realizou a mesma manobra. No entanto, Eldar exerceu uma força suficiente no manche para desconectar parcialmente o piloto automático. Sem perceber isso, a tripulação continou o voo sob o comando parcial do piloto automático, que havia tornado manual o controle dos ailerons. Assim, a aeronave se inclinou a 45 graus, de forma que sua asa direita afundou.[3][6]
Com a queda repentina a uma grande velocidade, a força G fez com que os ocupantes da cabine ficassem presos aos seus assentos. Alarmes na cabine indicaram o desligamento do piloto automático e o risco iminente de perda de sustentação. No último instante, um dispositivo automático da aeronave conseguiu corrigir a posição e atitude da aeronave, o que permitiria a uma tripulação experiente corrigir a altitude e a rota da mesma.[3][6]
O co-piloto, num esforço desesperado, conseguiu tirar a aeronave da queda. Mas ao realizar a manobra para fazê-la subir, fez com que a mesma perdesse sustentação e iniciasse um violento mergulho em parafuso. O comandante conseguiu retomar seu lugar e iniciou os procedimentos juntamente com o co-piloto para recuperar o controle da aeronave, mas ela estava voando abaixo do limite de segurança para aquela região e, com isso, colidiu com um morro de 600 metros.[3][6]
Os investigadores descobriram que o filho do comandante exerceu uma força no manche suficiente para desligar parcialmente o piloto automático. As aeronaves russas anteriormente operadas pela Aeroflot possuíam alarmes sonoros para informar o desligamento total do piloto automático, mas não para informar o desligamento parcial do mesmo. A tripulação russa não foi instruída quanto à possibilidade de desligamento parcial do piloto automático, de forma que demoraria a entender o que estava ocorrendo com a aeronave.[3][6]
A descoberta dos corpos dos filhos do comandante nos destroços da cabine confirmou as informações transcritas das caixas pretas. O acidente causou uma crise no alto escalão da Aeroflot, que, temendo o vazamento da história e seus efeitos negativos, tentou em vão ocultar a história. Quase um mês após o acidente, a imprensa russa obteve a informação de que o filho do comandante estava pilotando a aeronave.[3]
Consequências
[editar | editar código-fonte]Após o acidente com o voo 593, a indústria da aviação comercial investiu em melhorias no treinamento de tripulações e a indústria aeronáutica introduziu alarmes para o caso de desligamento parcial do piloto automático.[6]
A Aeroflot mudou o número do voo para Hong Kong em 2012, quando passou a ser chamado SU212.[8]
Transcrição dos últimos minutos na cabine
[editar | editar código-fonte]O horário mostrado refere-se ao tempo marcado no gravador de dados do voo e não ao horário local ou GMT.[9]
2258 Eldar (filho de Kudrinsky): Por que ele está virando?
2259 Kudrinsky (comandante): Está virando sozinho?
2260 Eldar: Sim...
2261 Kudrinsky: Eu não sei por que ele está virando.
2266 Eldar: Será que ele está saindo do curso?
2267 Piskarev (co-piloto): Estamos entrando em movimentação circular (holding pattern).
2268 Kudrinsky: Sério?
2269 Piskarev: Com certeza.
2270 Makarov: Rapazes...
O avião entra em um ângulo de inclinação de 45°. A força g aumenta fazendo com que Kudrinsky encontre dificuldades para voltar ao seu assento.
2272 Kudrinsky: Segura, segura o manche, segura.
2275 Makarov: A velocidade...
2276 Piskarev: O outro jeito!
2277 Kudrinsky: Do outro jeito, vire a esquerda.
2281 Piskarev: Esquerda!
2281 Kudrinsky: Esquerda... do outro jeito!
2282 Piskarev: Esquerda!
2284 Eldar: Estou virando para a esquerda...
2284 Piskarev: Para a direita!
2285 Kudrinsky: À direita
2288 Piskarev: Você não pode ver, ou o quê?
Neste momento os dois tripulantes ainda não haviam conseguido retornar aos seus assentos e tentavam em vão instruir Eldar de forma confusa e desesperada. Os alarmes de perda de altitude, desligamento total do piloto automático e de excesso de velocidade começaram a soar conjuntamente.
2291 Piskarev: Vire à direita. Vire à direita! Vire à direita!
2297 Kudrinsky: DIREITA!
2298 Piskarev: Esquerda! Lá está o chão!
2303 Kudrinsky: Eldar, sai daí... desce daí... desce daí Eldar.
2314 Piskarev: Manetes em idle!
O co-piloto consegue assumir a aeronave e tirá-la da posição de mergulho, porém, ainda atordoado, exagera ao puxar o manche. A aeronave então começa a subir quase que verticalmente com o nariz empinado.
Kudrinsky ainda encontrava dificuldades para voltar a sua poltrona. Desesperado, grita sem parar para o filho sair de seu assento.
2319 Kudrinsky: Eldar, saia! Saia, Eldar, saia... saia, Eldar, saia, saia... saia... [ofegante] saia! Eu disse para sair!
2334 Piskarev: Potência máxima! Potência máxima! Potência máxima!
Kudrinsky consegue retornar aos controles do avião.
2336 Kudrinsky: Está em potência máxima, entendi.
2337 Piskarev: Potência máxima!
2338 Kudrinsky: Entendi.
2340 Piskarev: Potência máxima.
2346 Kudrinsky: Eu dei-lhe potência máxima.
2348 Piskarev: Qual é a velocidade?
2354 Kudrinsky: [ofegante] Força total!
2365 Piskarev: A velocidade está muito alta.
2367 Kudrinsky: Alta, né?
2368 Piskarev: Sim, não é?
2369 Kudrinsky: Eu desliguei...
2371 Piskarev: Estamos saindo, estamos saindo! Direita! Para a direita! A velocidade está alta, reduza a potência.
2377 Kudrinsky: Feito.
2382 Piskarev: Devagar! Droga, de novo não...
2388 Kudrinsky: Não vire para a direita, a velocidade [ininteligível]
2392 Piskarev: [ininteligível]
2393 Kudrinsky: Nós vamos sair em um segundo. Tudo está bem. Delicadamente... [ininteligível] Delicadamente. Puxe delicadamente.
2400 [Som de impacto, fim da gravação]
Na cultura popular
[editar | editar código-fonte]O acidente com o Voo 593 da Aeroflot seria retratado na 3.ª temporada da série Mayday, do National Geographic Channel.[10]
Referências
- ↑ a b «Acidente aéreo». Jornal do Brasil,Ano CIII, edição 348,Seção Internacional-página, 15/Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira. 24 de março de 1994. Consultado em 27 de março de 2013
- ↑ «Strange and Unusual Accidents-Details of the accidents can be obtained by looking up the dates in the main database». Plane Crash Info. Consultado em 27 de março de 2013
- ↑ a b c d e f g «Accident Description». Aviation Safety Network. Consultado em 27 de março de 2013
- ↑ a b c Gianfranco Beting. «Aeroflot 593 - trágica insensatez». Jetsite- seção Blackboxes. Consultado em 27 de março de 2013. Arquivado do original em 2 de maio de 2012
- ↑ «Queda de avião mata 75 na Sibéria». Acervo Folha. Folha de S. Paulo. Ano 74, nº 23731, Dinheiro/Mundo, p. 11. 24 de março de 1994. Consultado em 6 de maio de 2021
- ↑ a b c d e f Mayday: Season 3, Episode 9 - Kid in the Cockpit
- ↑ «A ciência da mentira». Super Interessante (Portugal), edição 169. Maio de 2012. Consultado em 27 de março de 2013
- ↑ «Online schedule». Aeroflot. Consultado em 27 de março de 2013. Arquivado do original em 13 de junho de 2011
- ↑ Aviation Knowledge - Child in the cockpit (em inglês)
- ↑ National Geographic Channel (2005). «Kid in the Cockpit-Mayday: Season 3, Episode 9». Internet Movie Database (IMDB). Consultado em 27 de março de 2013
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Descrição do acidente» (em inglês). Aviation Safety Network (aviation-safety.net)