Pleurotomariidae
Pleurotomariidae | |||||||||||||
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Concha de Mikadotrochus hirasei, da família Pleurotomariidae. Observe a principal característica desta família, o canal, presente na borda externa da abertura da concha e cuja cicatriz se apresenta por todas as voltas anteriores. | |||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||
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Gêneros viventes | |||||||||||||
Entemnotrochus (C. É. Bayle; P. Fischer, 1885) Perotrochus (P. Fischer, 1885) Mikadotrochus (W. A. Lindholm, 1927) Bayerotrochus (Harasewych, 2002) |
Pleurotomariidae é uma família de moluscos gastrópodes marinhos proposta por Swainson em 1840[1] e conhecidos pelo nome comum, em inglês, de slit shells.[2] Inclui espécies bentônicas de águas profundas.[3]
Características da concha
[editar | editar código-fonte]A principal característica de um caramujo da família Pleurotomariidae reside na lateral externa da abertura de sua concha, o que lhes deu a denominação de slit shells (conchas com fenda).[2] Trata-se de um canal, mais ou menos alargado, que se abre na última volta e que se apresenta como uma cicatriz nas voltas anteriores, na medida em que o manto cresce e o cobre com substância calcária. A região desta cicatriz se chama selenizona.[4] O aspecto da concha é cônico (ou como o de um pião tradicional ou turbante), possuindo interior nacarado e superfície com relevo geralmente bem aparente, mais ou menos reticulado, e coloração em tons de creme, com desenhos difusos em rosa ou alaranjado, mais raramente em vermelho. Em alguns exemplares o umbílico é aprofundado. Possuem opérculo córneo, redondo e plano. As dimensões de algumas espécies superam 20 centímetros, enquanto as menores não chegam a 5 centímetros.[5] A maior espécie conhecida é Entemnotrochus rumphii,[6] do oceano Pacífico, podendo atingir acima de 25 centímetros.[7]
Existe uma superfamília de Gastropoda, Scissurelloidea, também dotada de conchas com fendas, similares às de Pleurotomariidae, porém estas conchas não ultrapassam dimensões de um centímetro, quando desenvolvidas.
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Exemplar de Perotrochus atlanticus, onde são visíveis a cicatriz de crescimento, selenizona, de sua fenda lateral, em voltas anteriores, e seu opérculo.
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Relevo da superfície da concha de Perotrochus caledonicus.
Hábitos, habitat, descrição do animal, gêneros, distribuição e registro fóssil
[editar | editar código-fonte]São habitantes dos bentos e paredões de abismos marinhos, geralmente da zona mesopelágica para baixo, daí advindo sua raridade em coleções e altos preços pagos por muitos exemplares,[5] além de muitas espécies serem frágeis para a conservação.[8] O canal da borda da concha é usado para permitir que as águas residuais de sua excreção escapem da câmara do manto.[2][3]
Pleurotomariidae são predados por crustáceos e peixes, mas são notavelmente resistentes ao ataque. Eles secretam um líquido branco, quando em perigo, para repelir predadores. Se alimentam principalmente de Porifera e completam sua dieta com Crinoidea e Octocorallia. Também se alimentam de tecidos mortos de peixes e mariscos,[9] ajuntando e filtrando estes detritos orgânicos nas areias macias da região em que habitam.[2]
Animal primitivo, com duas longas brânquias. Pé, dispositivo de locomoção ventral, grande e amplo. Tentáculos bem desenvolvidos, com os olhos em sua base. Probóscide ampla. Rádula com grande número de dentes (histricoglossa). Sexos separados, com a fecundação ocorrendo na água.[10] As espécies viventes pertencem aos gêneros Entemnotrochus (C. É. Bayle; P. Fischer, 1885), Perotrochus (P. Fischer, 1885), Mikadotrochus (W. A. Lindholm, 1927) e Bayerotrochus (Harasewych, 2002); muitos anteriormente classificados no gênero Pleurotomaria (Defrance, 1826), agora apenas registrado como fóssil.[1]
Os Pleurotomariidae estão continuamente presentes no registro fóssil desde o Cambriano e alcançando maior diversidade numérica e morfológica, dominando a fauna de gastrópodos de águas rasas, durante o Paleozóico e Mesozoico. O primeiro exemplar vivo, da espécie Perotrochus quoyanus (descrito por P. Fischer & A. C. Bernardi, em 1856, através de um exemplar de coleção[11]),[7] foi descoberto em meados do século XIX, no Atlântico ocidental;[12] mais precisamente em 1879 por William Healey Dall, na expedição "Blake".[13] As duas principais zonas de dispersão de espécies ficam na costa oeste do oceano Pacífico, da Nova Zelândia ao Japão, e na costa oeste do oceano Atlântico, região do Caribe e costa leste da América do Sul, com cerca de 30 espécies viventes ao redor do mundo.[14] Uma espécie, Bayerotrochus africanus (Tomlin, 1948), foi encontrada em 1931 ao longo da Província de Natal, na África do Sul.[7]
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Exemplar vivo de Bayerotrochus midas, fotografado em Florida Keys.
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Concha fóssil de Pleurotomaria anglica.
Espécies viventes de Pleurotomariidae
[editar | editar código-fonte]Lista de espécies viventes de Pleurotomariidae segundo a página WoRMS, juntamente com a região geográfica de distribuição:
- Gênero Entemnotrochus P. Fischer, 1885[15]
- Entemnotrochus adansonianus (Crosse & P. Fischer, 1861) - OA
- Entemnotrochus rumphii (Schepman, 1879) - OP
- Gênero Mikadotrochus Lindholm, 1927[16]
- Mikadotrochus beyrichii (Hilgendorf, 1877) - OP
- Mikadotrochus gotoi (Anseeuw, 1990) - OP
- Mikadotrochus hirasei (Pilsbry, 1903) - OP
- Mikadotrochus salmianus (Rolle, 1899) - OP
- Gênero Perotrochus P. Fischer, 1885[17]
- Perotrochus amabilis (Bayer, 1963) - OA
- Perotrochus anseeuwi Kanazawa & Goto, 1991 - OP
- Perotrochus atlanticus Rios & Matthews, 1968 - OA
- Perotrochus caledonicus Bouchet & Métivier, 1982 - OP
- Perotrochus charlestonensis Askew, 1987 - OA
- Perotrochus deforgesi Métivier, 1990 - OP
- Perotrochus lucaya Bayer, 1965 - OA
- Perotrochus maureri Harasewych & Askew, 1993 - OA
- Perotrochus metivieri Anseeuw & Goto, 1995 - OP
- Perotrochus oishii (Shikama, 1973) - OP
- Perotrochus pseudogranulosus Anseeuw, Puillandre, Utge & Bouchet, 2015 - OP
- Perotrochus quoyanus (P. Fischer & Bernardi, 1856) - OA
- Perotrochus tosatoi Anseeuw, Goto & Abdi, 2005 - OA
- Perotrochus vicdani Kosuge, 1980 - OP
- Perotrochus wareni Anseeuw, Puillandre, Utge & Bouchet, 2015 - OP
- Gênero Bayerotrochus Harasewych, 2002[18]
- Bayerotrochus africanus (Tomlin, 1948) - OI
- Bayerotrochus boucheti (Anseeuw & Poppe, 2001) - OP
- Bayerotrochus diluculum (Okutani, 1979) - OP
- Bayerotrochus indicus (Anseeuw, 1999) - OI
- Bayerotrochus midas (Bayer, 1965) - OA
- Bayerotrochus philpoppei Anseeuw, Poppe & Goto, 2006 - OP
- Bayerotrochus poppei Anseeuw, 2003 - OP
- Bayerotrochus pyramus (Bayer, 1967) - OA
- Bayerotrochus tangaroanus (Bouchet & Métivier, 1982) - OP
- Bayerotrochus teramachii (Kuroda, 1955) - OP
- Bayerotrochus westralis (Whitehead, 1987) - I-P
Referências
- ↑ a b c «Pleurotomariidae» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 25 de março de 2016
- ↑ a b c d «Pleurotomariidae» (em inglês). Gladys Archerd Shell Collection. 1 páginas. Consultado em 25 de março de 2016
- ↑ a b ABBOTT, R. Tucker; DANCE, S. Peter (1982). Compendium of Seashells. A color Guide to More than 4.200 of the World's Marine Shells (em inglês). New York: E. P. Dutton. p. 18. 412 páginas. ISBN 0-525-93269-0
- ↑ Pieroni, Vittorio. «Rasatomaria gentilii: un nuovo gasteropode Pleurotomariidae fossile, scoperto nelle rocce Triassiche della Rasa di Varese» (em italiano). Biologia Marina. 1 páginas. Consultado em 28 de abril de 2016
- ↑ a b FERRARIO, Marco (1992). Guia del Coleccionista de Conchas (em espanhol). Barcelona, Espanha: Editorial de Vecchi. p. 57. 220 páginas. ISBN 84-315-1972-X
- ↑ «Pleurotomariidae» (em inglês). Worldwide Conchology. 1 páginas. Consultado em 27 de março de 2016
- ↑ a b c OLIVER, A. P. H.; NICHOLLS, James (1975). The Country Life Guide to Shells of the World (em inglês). England: The Hamlyn Publishing Group. p. 16. 320 páginas. ISBN 0-600-34397-9
- ↑ Dance, S. Peter (2002). Smithsonian Handbooks: Shells. The clearest recognition guides available (em inglês). London, England: Dorling Kindersley. p. 31. 256 páginas. ISBN 0-7894-8987-2
- ↑ SOUTHWARD, Alan J.; TYLER, P. A.;YOUNG, Craig M.;FUIMAN, Lee A. (2002). Advances in Marine Biology: "Pleurotomarioidean gastropods" (em inglês). [S.l.]: Academic Press. p. 42. 308 páginas. ISBN 9780120261420
- ↑ RIOS, Eliézer (1994). Seashells of Brazil (em inglês) 2ª ed. Rio Grande, RS. Brazil: FURG. p. 20. 492 páginas. ISBN 85-85042-36-2
- ↑ «The case history of the Pleurotomariids» (PDF) (em inglês). Hawaiian Shell News (Wayback Machine). Agosto de 1971. 1 páginas. Consultado em 5 de janeiro de 2023
- ↑ «Pleurotomarioidean gastropods» (em inglês). National Center for Biotechnology Information. 1 páginas. Consultado em 25 de março de 2016
- ↑ «Slit shells are more than just an ancient group of mollusks» (PDF) (em inglês). Coral Reef Photos. 1 páginas. Consultado em 26 de março de 2016. Arquivado do original (PDF) em 7 de abril de 2016
- ↑ «Pleurotomariidae» (PDF) (em inglês). WMSDB - Worldwide Mollusc Species Data Base. 1 páginas. Consultado em 25 de março de 2016
- ↑ «Entemnotrochus» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 2 de abril de 2016
- ↑ «Mikadotrochus» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 2 de abril de 2016
- ↑ «Perotrochus» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 2 de abril de 2016
- ↑ «Bayerotrochus» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 2 de abril de 2016
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Espécies de Pleurotomariidae.
- Perotrochus atlanticus (Brasil) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Perotrochus vicdani (Filipinas) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Entemnotrochus rumphii (Taiwan) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Mikadotrochus hirasei (Taiwan) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Mikadotrochus salmianus (Taiwan) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Mikadotrochus gotoi (Filipinas) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Bayerotrochus westralis (Austrália) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Bayerotrochus teramachii (Taiwan) no Flickr, por Pei-Jan Wang.
- Bayerotrochus tangaroanus (Nova Zelândia) no Flickr, por Andrea Nappus.