Marcha do Orgulho Trans de São Paulo
Parte da série sobre a |
Diversidade sexual no Brasil |
---|
Portal LGBT Portal do Brasil Commons |
A Marcha do Orgulho Trans de São Paulo é um evento que acontece anualmente no Largo do Arouche, no Centro da capital paulista, desde sua primeira edição em 2018.[2] A marcha é idealizada e organizada pelo Instituto [SSEX BBOX], com produção e organização de Pri Bertucci e Van Marcelino, em conjunto com a prefeitura de São Paulo e tem como objetivo promover a visibilidade e os direitos das pessoas trans, sendo a primeira a focar nessa parcela da comunidade a acontecer no Brasil e se diferencia da Parada do Orgulho LGBT+, que visa a comunidade como um todo.
A escolha do Largo do Arouche como local de realização da Marcha é uma referência à Operação Tarântula,[3] deflagrada na década de 1980, que tinha como objetivo a “remoção” de travestis da região, sob pretexto de “luta contra a AIDS”.[4]
Contexto e necessidade
[editar | editar código-fonte]A luta de travestis e pessoas transgênero é um dos principais contribuintes para o debate de gênero e sexualidade.[5] Marginalizadas, muitas travestis e mulheres trans brasileiras, além expulsas de suas casas durante a adolescência, também evadem dos estudos e, ao perderem dois importantes pilares sociais – a família e a escola – a rua se torna sua única opção.[6]
De acordo com levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) em 2017, cerca de 90% das mulheres trans no Brasil recorrem à prostituição como meio de subsistência.[7] Aquelas que chegam ao mercado de trabalho também enfrentam preconceitos em relação aos seus nomes, que não são respeitados.[7]
Por conta dessas complexidades, o Instituto [SSEX BBOX] percebeu a necessidade de debater e mostrar as mazelas vividas por essa parcela da comunidade LGBT, que mesmo compondo parte da Parada Orgulho LGBT+, tem suas demandas específicas a serem compartilhadas.[8]
Visibilidade, primeiros passos e impacto
[editar | editar código-fonte]Em janeiro de 2015, a prefeitura de São Paulo lançou o programa Transcidadania,[9] uma das primeiras políticas públicas do município para essa população, que além de uma grande conquista para o movimento, também trouxe visibilidade no espaço político e social para o surgimento de novos debates.
O Programa Transcidadania é regulamentado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania[10] e tem como objetivo promover a reintegração e mulheres e homens trans em situação de vulnerabilidade a partir da conclusão da educação básica e do ensino médio, através da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e pela qualificação profissional. Logo de início, o programa expôs algumas das vulnerabilidades sofridas pela população trans, como alto índice de expulsão familiar e evasão escolar, prostituição compulsória, uso de substâncias tóxicas sem acompanhamento médico como silicone industrial e hormônios, que apenas justificaram sua necessidade social.
Em 2017, as movimentações de Pri Bertucci e o Instituto [SSEX BBOX] revelaram as complexidades e desafios enfrentados ao tentar unificar diferentes vozes e organizações dentro da comunidade trans e mais amplamente na comunidade LGBTQIAP+. O instituto estendeu convites a várias organizações influentes e figuras proeminentes do movimento trans, como Mães Pela Diversidade, ANTRA e a Rede Trans dentre outras, buscando criar uma coalizão de vozes que ecoassem a unidade e força do movimento.[2]
A partir de parceria iniciada em 2018 com Van Marcelino como diretor de produção, a primeira Marcha Trans aconteceu no centro de São Paulo[2] e de imediato transformou-se num poderoso símbolo de resistência e celebração da identidade trans. Com a participação de artistas renomados como Johnny Hooker, Liniker, Mel, Pepita, Leonora Vingativa, MC Xuxu, Erica Hilton e Erika Malunguinho, a Marcha não só destacou a rica tapeçaria cultural da comunidade trans, mas também proporcionou um espaço vital para sua expressão e visibilidade.
Essa marcha colocou o Brasil no mapa global das marchas trans, uma série de eventos que acontecem em diversas cidades ao redor do mundo, geralmente dois dias antes das paradas gays, que tendem a ser mais comerciais e focadas principalmente nos direitos e cidadania de pessoas LGB, muitas vezes centradas em homens gays brancos.[5][11]
As Marchas Trans são realizadas como uma forma de protesto e reivindicação de espaço,[12] destacando a exclusão histórica de mulheres, pessoas trans, homens trans, e pessoas não binárias nas narrativas dominantes de gênero e sexualidade. Estes grupos frequentemente enfrentam opressão adicional em meio às masculinidades tóxicas e hegemônicas presentes na sociedade.
Referências
- ↑ https://www.flickr.com/search/?text=marcha%20trans%202019&view_all=1
- ↑ a b c Mídia Ninja (1 de junho de 2018). «Primeira Marcha do Orgulho Trans acontece hoje em São Paulo». Mídia Ninja. Consultado em 25 de março de 2018
- ↑ Cândido, Marcos (25 de agosto de 2019). «Arouche 100% gay: grupo luta para região de 'Sai de Baixo' continuar LGBT». Universa UOL. Consultado em 25 de março de 2024
- ↑ Nascimento, Rafael (27 de fevereiro de 2023). «Operação Tarântula: perseguição a trans e travestis completa 35 anos». IG Queer. Consultado em 25 de março de 2024
- ↑ a b Alves, Isabela (20 de setembro de 2021). «A luta política e a importância das mulheres trans para o Movimento LGBTQIA+». Politize!. Consultado em 25 de março de 2024
- ↑ Lisboa, Vinicius (31 de dezembro de 2022). «Pesquisa descreve barreiras para acesso de pessoas trans ao emprego». Agência Brasil. Consultado em 25 de março de 2024
- ↑ a b Ferreira, Letícia (29 de janeiro de 2022). «Emprego formal ainda é exceção entre pessoas trans». Folha de São Paulo. Consultado em 25 de março de 2024
- ↑ https://orgulhotrans.com.br/justificativa/
- ↑ Carta Capital (29 de janeiro de 2015). «Prefeitura lança programa de apoio às transexuais». Carta Capital. Consultado em 25 de março de 2024
- ↑ https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/mulheres/noticias/?p=189290
- ↑ G1 (20 de junho de 2024). «26ª Parada LGBT+ de SP: presença de turistas mais do que dobrou em relação à última edição, aponta levantamento». g1. Consultado em 25 de março de 2024
- ↑ Cruz, Elaine Patrícia (9 de junho de 2023). «Marcha Trans ocupa ruas centrais de São Paulo e pede mais visibilidade». Consultado em 25 de março de 2024