Leonel de Sousa
Leonel de Sousa, foi um fidalgo natural do Algarve,[1] que se notabilizou como segundo capitão-mor de Macau em 1558 (cargo equivalente ao de governador), após ter sido o responsável por um acordo com as autoridades locais de Cantão conhecido como o primeiro acordo Luso-Chinês de 1554,[2] que permitiu a legalização das actividades comerciais portuguesas na China mediante o pagamento de impostos. Este acordo abriu uma nova era nas relações sino-portuguesas, umas vez que de 1522 a 1554 os portugueses estavam oficialmente impedidos de comerciar:[3] até aí várias embaixadas tinham falhado e o comércio era realizado como contrabando e combatido pelas autoridades, que os consideravam "folanji"[4] combatendo-os como piratas.
O acordo Luso-Chinês de 1554
[editar | editar código-fonte]Leonel de Sousa chegou à costa de Guangdong em 1552, onde soube que todos os estrangeiros podiam comerciar mediante o pagamento de impostos aos chineses, excepto os "Folanji", como eram chamados os europeus pejorativamente e em particular os portugueses, então tomados por piratas[5] Solicitou então que se cumprissem as premissas de paz e o pagamento de impostos, comprometendo-se a mudar este "nome".
Em 1554 Leonel de Sousa, capitão-mor da viagem do Japão,[6] junto com o capitão-mor de Chaúl,[7] fizeram um acordo com oficiais de Cantão para legalizar o comércio português, na condição de pagarem direitos alfandegários especialmente estipulados.
O único testemunho escrito deste acordo é uma carta de Leonel de Sousa de 1556 ao infante D.Luís, onde afirma que os portugueses se comprometiam pagar as taxas devidas e a não erguer fortificações.[8] A carta, um dos mais importantes documentos da história das relações Sino-portuguesas, descreve as prolongadas negociações com o superintendente da marinha de Cantão,[9] o Haitao Wang Po, identificado nas fontes chinesas como tendo aceite um suborno dos portugueses para secar a sua carga deixando-os pagar impostos em Cantão.[10][11] Ambos os lados se mostraram disponíveis para encontrar uma solução para o impasse, uma vez que o porto de Cantão também enfrentava um empobrecimento desde que fora fechado.[12] Leonel de Sousa tentou negociar o pagamento de apenas 10% das taxas, ao que Wan Po contrapôs os obrigatórios 20% mas incidindo apenas sobre metade da carga, o que Leonel de Sousa levou em frente com ajuda do rico mercador Simão d'Almeida, e à margem do governo de Pequim. A este tratado seguir-se-ia o reconhecimento de Macau como entreposto oficial português em 1557.
Referências
- ↑ ZHANG, Tianze, "Sino-portuguese Trade from 1514 to 1644, A synthesis of Portuguese and Chinese sources", E. J. Brill, 1969
- ↑ BRAGA, José Maria, "O primeiro acordo Luso-Chines realizado por Leonel de Sousa em 1554 reproduzido e anotado por J.M. Braga (Macau, 1939)
- ↑ Urs Bitterli, Ritchie Robertson, Cultures in Conflict: Encounters Between European and Non-European Cultures, p.139, 1492-1800, Stanford University Press, 1993, ISBN 0804721769
- ↑ "Folangji" (佛郎機) de Franques ou Francos, o nome genérico pelo qual os muçulmanos se referiam aos europeus desde as cruzadas, que declinou no termo indiano e sul asiático ferengi. Os chineses adoptaram este termo.
- ↑ The Cambridge history of China, p.344
- ↑ DIFFIE, SHAFER, WINIUS, Bailey Wallys, Boyd C., George Davison, "Foundations of the Portuguese empire, 1415-1580", p.389
- ↑ Zhang, p.89
- ↑ Diffie, p.389
- ↑ A carta inicialmente publicada por Jordão de Freitas em 1910; Bitterli, p. 140
- ↑ Nos registos chineses contrastam ao afirmar que "em 1553 chegaram a Hao-ching navios estrangeiros cujos capitães alegaram ter sido apanhados por uma tempestade que molhara os produtos que traziam como tributo, pedindo permissão para os secar na costa de Hao-ching (Macau). Wang Po, o Hai-tao, deu-lhes permissão, mas os Folanji e outros estrangeiros viriam a construir cabanas na costa, assim iniciando a instalação em Macau". Veja-se Zhang, p.91
- ↑ Denis Crispin Twitchett, John King Fairbank, The Cambridge history of China, Volume 2; Volume 8, Cambridge University Press, 1978, ISBN 0521243335
- ↑ Bitterli, p. 140