Frances Glessner Lee
Frances Glessner Lee | |
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Nascimento | 25 de março de 1878 Chicago |
Morte | 27 de janeiro de 1962 |
Sepultamento | Bethlehem |
Cidadania | Estados Unidos |
Cônjuge | Blewett Harrison Lee |
Ocupação | forensic scientist |
Obras destacadas | Nutshell Studies of Unexplained Death |
Frances Glessner Lee (25 de Março de 1878 – 27 de Janeiro de 1962) foi uma cientista forense norte-americana. Ela contribuiu para desenvolvimento da ciência forense nos Estados Unidos da América.[1][2] Ela criou o Nutshell Studies of Unexplained Death (Estudos Resumidos de Mortes Não Explicadas) conhecido como Nutshell Studies, constituídos por 20 dioramas de cenas de crime recriadas ao mínimo detalhe e à escala de uma casa de bonecas, para serem usados no treino de investigadores de homicídios.[3] Dezoito deles ainda são usados para fins de ensino pelo escritório do médico legista de Maryland.[4] Para além disto, os dioramas são actualmente considerados obras de arte.[5] Lee também ajudou a criar o Departamento de Medicina Legal da Universidade de Harvard e investiu na Biblioteca Magrath de Medicina Legal de lá.[6] Ela foi primeira mulher a ser capitã da polícia nos EUA. Ficou conhecida como a "mãe da ciência forense".[7][8][2][5][9][10]
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Lee nasceu em Chicago a 25 de Março de 1878. O seu pai, John Jacob Glessner, era um industrial que ficou rico com a companhia International Harvester. Ela e o irmão foram educados em casa. Enquanto o irmão foi para Harvard, ela casou-se com o advogado Blewett Harrison Lee. O casamento acabou em divórcio. No início dos anos 30, ao herdar a fortuna Harvester, deu inicio à sua carreira nas ciências forenses. Ela tinha finalmente dinheiro para descobrir uma forma de ensinar os detectives a observarem uma cena de crime de maneira a recolherem pistas.[11][1][12][13][14][15][10]
Notas pessoais
[editar | editar código-fonte]O perfeccionismo dos dioramas de Lee reflectem a sua história familiar.[16] O pai dela era um ávido coleccionador de móveis finos, com os quais mobilava a casa da família , chegou a escrever um livro sobre o assunto. A casa da família, projectada por Henry Hobson Richardson, é actualmente o museu John J. Glessner House.[15]
Para além disto, Glessner Lee gostava das histórias de Sherlock Holmes, cujas reviravoltas no enredo deviam-se frequentemente a detalhes que passavam despercebidos.[17][18]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Lee foi influenciada por George Burgess Magrath que era amigo do seu irmão e que estudava medicina na Harvard Medical School e estava particularmente interessado em investigar as causas da morte, em particular as que ficavam por explicar. Eles permaneceram amigos até à sua morte em 1938. Magrath tornou-se médico legista em Boston e juntos fizeram pressão para que os médicos legistas tivessem obrigatoriamente formação em medicina.[12][15][5][19]
Glessner Lee apoiou a criação do Departamento de Medicina Legal de Harvard (o primeiro departamento deste tipo nos EUA) e a fundação da Biblioteca George Burgess Magrath. Ela também apoiou a Harvard Associates in Police Science que tem como objectivo promover o avanço da ciência forense e que deu o seu nome a uma escola em sua homenagem, a Frances Glessner Lee Homicide School.[20][12][5]
Nutshell Studies of Unexplained Death
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Durante as décadas de 1940 e 1950, Glessner organizou uma série de seminários semestrais sobre a investigação de homicídios. Organizou inclusive uma conferência com a duração de uma semana para a qual convidou detectives, promotores públicos e outros investigadores, onde apresentou os "Nutshell Studies of Unexplained Death", os seus complexos dioramas de cenas de crime reais, onde não faltavam portas, janelas e luzes de trabalho. Os 20 modelos foram baseados em casos reais complexos e pensados para testar as capacidade dos investigadores recolherem provas relevantes. Os modelos apresentavam múltiplas causas de morte e foram baseados em autópsias e cenas de crime visitados por ela.[20][15][9]
Ela surpreendeu todos com a sua extraordinária capacidade de não deixar escapar mais pequeno dos detalhes da cena ao replicá-la numa maquete. Entre outros detalhes, as salas estavam cheias de ratoeiras que funcionavam, fotos de casamento, jornais velhos, rótulos de latas, cadeiras de balanço, as cozinhas tinham comida e até os cadáveres apresentavam com precisão a descoloração ou o inchaço que teriam ao serem encontrados na cena do crime.[5] A criação de cada modelo custou entre 3.000 a 4.500 dólares.[21] Os participantes convidados para a conferência, assumiam o papel de alunos e tinham 90 minutos para estudar a cena. A semana culminou num banquete no Ritz Carlton.[15][22]
Dezoito dos 20 dioramas originais ainda são usados para treinar pelos membros da Harvard Associates in Police Science.[23][20][12]
Pelo seu trabalho, Lee foi nomeada capitã honorária da polícia do estado de New Hampshire em 1943, tornando-se na primeira mulher a fazer parte da Associação Internacional de Chefes de Polícia.[6][21][23][12][19][18]
Homenagens e Cultura Popular
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- A biografia de Frances Glessner Lee, 18 mortes minúsculas: a história não contada de Frances Glessner Lee e a invenção da ciência forense moderna, de Bruce Goldfarb, foi lançada pela Sourcebooks a 4 de Fevereiro de 2020.[1]
- Os Nutshell Studies of Unexplained Death inspiraram o episódio sobre o Miniature Killer, da série de televisão CSI: Crime Scene Investigation.[24]
- Glessner Lee é homenageada no premiado livro Encyclopedia Horrifica de Joshua Gee.[25]
- Frances Glessner Lee e o escritor Erle Stanley Gardner eram amigos, ele dedicou-lhe vários dos seus romances policiais, incluindo "O caso do noivo duvidoso".[4][26][27]
- A personagem de Agnes Lesser, do episódio "The Smallest of Things" da série policial Father Brown da BBC, é inspirada em Glessner Lee.[28]
- A Galeria Renwick do Smithsonian American Art Museum, exibiu 18 dos Nutshell Studies of Unexplained Death, de 20 de Outubro de 2017 a 28 de Janeiro de 2018. A Academia Americana de Ciências Forenses foi um dos patrocinadores da exposição.[7]
- A 18 de Novembro de 2017, o documentário Murder in a Nutshell: The Frances Glessner Lee Story, dirigido por Susan Marks, estreou na Galeria Renwick, seguido de um debate com a cineasta.[7]
- Frances Glessner Lee e o seu trabalho pioneiro com os dioramas de cena de crimes, desempenham um papel crucial no episódio "In a nutshell", da 17ª temporada da serie televisiva NCIS.[29][30]
- O departamento de recursos culturais de New Hampshire colocou uma placa em sua homenagem na estrada 302 em Bethlehem.[31]
Leitura adicional
[editar | editar código-fonte]- Botz, Corinne May: Nutshell Studies of Unexplained Death, Nova York, Monacelli, 2004, ISBN 978-1-58093-145-8, OCLC 54826032
- Frank, Priscilla. «How A Doll-Loving Heiress Became The Mother Of Forensic Science». Huffington Post. Consultado em 30 de junho de 2020, 23 de Outubro de 2017
- Jeltsen, Melissa: These Bloody Dollhouse Scenes Reveal A Secret Truth About American Crime ", Huffington Post, 2 de Fevereiro de 2018
- Rosberg, Gerald M: A Colloquium on Violent Death Brings 30 Detectives to Harvard . Harvard Crimson, 6 de Dezembro de 1966
- Uebel, M.:Corpus Delicti: Frances Glessner Lee and the Art of Suspicion, in Epidemiology and Psychiatric Sciences, 2017[32]
- Valero, María G. Valero: La muerte en miniatura: La vida de Frances Glessner Lee, Casiopea, 2019[33][34]
Referências
- ↑ a b c Goldfarb, Bruce (2020). 18 tiny deaths : the untold story of Frances Glessner Lee and the invention of modern forensics. Naperville, Illinois: [s.n.] ISBN 978-1-4926-8047-5. OCLC 1096529139
- ↑ a b «A estudiosa que criou maquetes realistas de crimes sinistros». R7.com. 13 de outubro de 2019. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ Paiva, Vitor (26 de setembro de 2017). «Como casinhas de bonecas criadas por uma americana nos anos 1940 ajudaram a desvendar crimes violentos nos EUA». Hypeness. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b Hamilton, William L. (2018). «Heiress Plotted 19 Grisly Crimes. Investigation Underway.». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 20 de junho de 2020
- ↑ a b c d e Idris, Ana (25 de maio de 2020). «Frances Glessner Lee – A união entre arte e ciências forenses». Ciência Contra o Crime. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b «Visible Proofs - Biographies: Frances Glessner Lee (1878–1962)». United States National Library of Medicine. United States National Library of Medicine. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b c «Murder Is Her Hobby: Frances Glessner Lee and The Nutshell Studies of Unexplained Death». Smithsonian American Art Museum (em inglês). Consultado em 7 de fevereiro de 2021
- ↑ Main, Douglas (2014). «The 'Mother Of Forensic Science' Built Dollhouse Crime Scenes». Popular Science (em inglês). Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b «A macabra casa de bonecas onde a "mãe da ciência forense" simulou cenários criminais». idealista.pt/news. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b «Como uma mulher que gostava de bonecas se tornou a 'mãe da ciência forense'». HuffPost Brasil. 8 de novembro de 2017. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ «The People». Glessner House Museum. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b c d e admin (21 de janeiro de 2020). «Grandes Nomes da Ciência: Frances Glessner Lee». Ceticismo.net. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ Botz, Corinne. The Nutshell Studies of Unexplained Death, The Monacelli Press (2004), p. 18.
- ↑ Kahn, Eve (7 de outubro de 2004). «Murder Downsized». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331
- ↑ a b c d e Laura J. Miller, "Frances Glessner Lee: Brief life of a forensic miniaturist: 1878–1962", Harvard Magazine September–October 2005.
- ↑ Botz, Corinne. The Nutshell Studies of Unexplained Death, The Monacelli Press (2004).
- ↑ Horowitz-Ghazi, Alexi (2017). «The Tiny, Murderous World Of Frances Glessner Lee». National Public Radio (em inglês). Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b «Como uma mulher que gostava de bonecas se tornou a 'mãe da ciência forense'». HuffPost Brasil. 8 de novembro de 2017. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b Mundi, Postado por Magnus (30 de junho de 2016). «Os assassinatos em miniatura de Frances Glessner Lee». Magnus Mundi. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b c Paiva, Vitor (26 de setembro de 2017). «Como casinhas de bonecas criadas por uma americana nos anos 1940 ajudaram a desvendar crimes violentos nos EUA». Hypeness. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ a b Nuwer, Rachel (9 de junho de 2014). «Murder in Miniature». Slate (em inglês). ISSN 1091-2339. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ "The Nutshell Studies of Unexplained Death," Arquivado em 2016-07-25 no Wayback Machine from American Medical News, August 17, 1992, archived at brucegoldfarb.com, retrieved February 4, 2018.
- ↑ a b Lisa Respers, "Helping to Crack Cases: 'Nutshells': Miniature replicas of crime scenes from the 1930s and 1940s are used in forensics training", The Baltimore Sun, February 24, 1999.
- ↑ Crabtree, Sheigh (2007). «The devil is in 'CSI's' details». Los Angeles Times (em inglês). ISSN 0458-3035. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ Gee, Joshua (2007). Encyclopedia Horrifica. Scholastic. [S.l.: s.n.] pp. 127. ISBN 978-0439922555
- ↑ Kennedy, Cray (2017). «Frances Glessner Lee and Erle Stanley Gardner». Glessner House Museum
- ↑ «Biblioteca Minicipal de Reguengos de Monsaraz». www.cm-reguengos-monsaraz.pt. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ «The Smallest of Things». IMDb
- ↑ https://www.imdb.com/title/tt11786836/reference
- ↑ «NCIS: Investigação Criminal, episódio "In a nutshell"». IMDB. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ «New NH Historical Highway Marker honors 'Mother of Forensic Science,' NH Department of Natural and Cultural Resources». www.nh.gov. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ Uebel, M. (2017). «Corpus Delicti: Frances Glessner Lee and the Art of Suspicion». Cambridge University Press. Epidemiology and Psychiatric Sciences. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ «La Muerte En Miniatura - eBook - WOOK». www.wook.pt. Consultado em 30 de junho de 2020
- ↑ Valero, María G. (5 de novembro de 2019). La muerte en miniatura: La vida de Frances Glessner Lee (em espanhol). [S.l.]: Casiopea
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Fotografias d' Os estudos resumidos de inexplicáveis de mortes
- Site do documentário Of Dolls and Murder
- Site da Casa Glessner
- Frances Glessner Lee (em inglês) no Find a Grave [fonte confiável?]
- Trailer Murder in a Nutshell: The Frances Glessner Lee Story
- The dollhouses of death that changed forensic science
- Destemidas: Frances Glessner Lee, ep. 22