Deserto de Notícia
Em jornalismo, Deserto de Notícia é um município que não possui veículos de imprensa sediados em sua área geográfica, e que portanto carece de acesso à cobertura jornalística do noticiário local.
Origem do termo
[editar | editar código-fonte]O termo ganhou destaque nos Estados Unidos a partir do levantamento America's Growing News Deserts publicado na Columbia Journalismo Review em 2017, o qual mostrou o cenário de fechamentos de jornais no país[1]. Nos EUA, o termo é atribuído à ausência de jornais impressos, sejam diários ou não.
No Brasil, o termo é utilizado para descrever localidades sem a presença de nenhum tipo de veículo de notícia (online, impresso, TV ou rádio), e a principal pesquisa é publicada no Atlas da Notícia, um levantamento que abrange todo o território nacional, cuja metododologia é "baseada, principalmente, na contabilização de veículos de notícia no Brasil, seja através de pesquisa própria como de colaboração de terceiros"[2].
Em Portugal, o termo também utilizado para descrever localidades sem a presença de nenhum tipo de veículo de notícia. A principal investigação é da Universidade da Beira Interior.
Atlas da Notícia
[editar | editar código-fonte]O Atlas da Notícia é uma iniciativa realizada pela organização não-governamental Instituto Para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor)[3], organização criada em 2002 pelo renomado jornalista Alberto Dines (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1932 — São Paulo, 22 de maio de 2018), em parceria com a agência brasileira de jornalismo de dados Volt Data Lab.
O pesquisa do Atlas da Notícia trata de um mapeamento geográfico da imprensa, e não uma qualificação dos veículos ou acompanhamento trabalhista.
A primeira edição foi lançada em 2017[4] e constatou que 70 milhões de brasileiros viviam em localidades sem jornais impressos nem sites de notícia. Essa edição não considerou veículos de radiodifusão (TV e rádio).
Após mudanças e aprimoramentos na metodologia da pesquisa, em 2021, o Atlas da Notícia publicou os resultados[5] de sua quarta edição, considerando quatro formatos (online, impresso, TV e rádio) e também fechamentos de veículos.
A partir de 2018 o projeto passou a contar com apoio financeiro do Facebook e com apoio insticional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).
Segundo publicação no Observatório da Imprensa, o Atlas da Notícia já foi fonte[6] para mais de 81 citações do Atlas da Notícia em trabalhos acadêmicos e 175 menções na imprensa entre 2017 e janeiro de 2021.
VEÍCULOS TOTAIS MAPEADOS
[editar | editar código-fonte]Número de iniciativas cadastradas no banco de dados
VERSÃO ATLAS | VEÍCULOS | % SOBRE ANO ANTERIOR |
---|---|---|
v.1.0 | 11.829 | - |
v.2.0 | 12.467 | 5,4% |
v.3.0 | 13.732 | 10,1% |
v.4.0 | 15.216 | 10,8% |
Desertos de Notícia no Brasil
[editar | editar código-fonte]A edição do ano de 2021 do relatório do Atlas da Notícia constatou que 34 milhões de brasileiros não têm acesso a qualquer informação jornalística sobre o lugar onde vivem. Eles fazem parte da população de 3.280 municípios que são considerados desertos de notícias. Seis em cada dez municípios no Brasil estão nessa situação.[7]
Alguns dos principais pontos do levantamento[8]:
- Veículos digitais são agora a segunda maior categoria no Brasil, atrás apenas de rádios
- Mídia impressa teve fechamento de pelo menos 200 veículos
- Desertos de notícia encolhem 5,9%, num total de 3.280 municípios
- População em desertos de notícia tem queda de 9,6%, para 33,7 milhões de habitantes
MUNICÍPIOS COM NOTICIÁRIO
[editar | editar código-fonte]Considera não desertos (+3 veiculos) e quase desertos (1-2 veículos)
VERSÃO | N | % DO TOTAL DE MUNICÍPIOS | DIFERENÇA AO ANO ANTERIOR | FONTE |
---|---|---|---|---|
v2 (2018) | 2.710 | 49% | [9] | |
v3 (2019) | 2.083 | 37,4% | [9] | |
v4 (2021) | 2.290 | 41,1% | 207 | [9] |
v5 (2022) | 2.602 | 46,70% | 312 | [9] |
v6 (2023) | 2.858 | 51,30% | 256 | [9] |
Deserto de notícia por Região brasileira
[editar | editar código-fonte]Percentual de municípios que não possuem veículos transmitindo noticiário local por regiões brasileiras.
Norte | Nordeste | Centro-Oeste | Sudeste | Sul | Data do acesso | Fonte |
---|---|---|---|---|---|---|
189 | 1031 | 139 | 852 | 495 | 03/10/2024 | [10] |
Desertos de Notícia em Portugal (2021)
[editar | editar código-fonte]O mapeamento do Deserto de Notícias em Portugal foi feito investigador Giovanni Ramos, da Universidade da Beira Interior, nos anos de 2020 e 2021, no âmbito do projeto Re/media.Lab, associado ao LabCom. Em 2022, o estudo passou para o projeto MediaTrust.
Dos 308 concelhos portugueses, 61 estavam no deserto de notícias segundo levantamento[11]. Em 2020, eram 57. A maioria dos concelhos encontram-se distantes do litoral, principalmente nas regiões do Alentejo e Trás-os-Montes.
Referências
- ↑ Bucay, Yemile. «Desertos de Notícia nos EUA». Columbia Journalism Review. America’s growing news deserts: https://www.cjr.org/local_news/american-news-deserts-donuts-local.php
- ↑ «Atlas da Notícia - Metodologia»
- ↑ «Instituto Para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor)»
- ↑ «Lançamento do Atlas da Notícia». Observatório da Imprensa. 11 de setembro de 2017. Consultado em 23 de novembro de 2021. Cópia arquivada em
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(ajuda) 🔗 - ↑ «Atlas da Notícia - 4a Edição (2021)»
- ↑ «Citações do Atlas da Notícia»
- ↑ «Relatórios - 2017 a 2022». Atlas. Consultado em 3 de outubro de 2024
- ↑ «Jornalismo digital reduz abrangência de desertos de notícia»
- ↑ a b c d e «Relatórios - 2017 a 2022». Atlas da Notícia. Consultado em 3 de outubro de 2024
- ↑ «Dados e estatísticas». Atlas da Notícia. Consultado em 3 de outubro de 2024
- ↑ «Deserto de Notícias em Portugal atinge 61 municípios»