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Cordão de Pássaros

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O Cordão de Pássaro ou Pássaro Junino é uma manifestação cultural tipicamente paraense, não sendo registrada fora do seu estado de origem.[1] Nos dias de hoje, é composto por basicamente dois tipos: o Cordão de Pássaro propriamente dito, ou Pássaro Meia Lua do meio rural, interiorano, e o Pássaro Melodrama Fantasia, nas regiões urbanas (notadamente em Belém), onde apresenta características tomadas por empréstimo de óperas e operetas, sendo chamado às vezes de "Ópera Cabocla".[2]

Em 2009, o Pássaro Junino foi declarado Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará.[3]

A origem do Cordão de Pássaro é incerta, mas sugere-se que tenha surgido no século XIX entre escravizados, nas mesmas rodas de capoeira e carimbó onde estes se divertiam. Deve-se ressaltar que embora tenha elementos folclóricos, o Cordão de Pássaro é, na verdade, uma forma de teatro popular, com raízes na Renascença e até mesmo na Idade Média.[1]

Populares até meados do século XX, juntamente com outras formas de folguedos teatralizados como o boi-bumbá, os grupos de Pássaros Juninos apresentavam-se em tablados de construção própria, circos, áreas cedidas pela prefeitura de Belém, cinemas populares, e até mesmo em teatros, como o Teatro São Cristóvão (o qual ficou conhecido justamente como Teatro dos Pássaros). Todavia, por vários fatores, esta arte cênica entrou em decadência a partir da década de 1960, quando a maioria dos espaços para apresentações foram sendo fechados.[4]

No início do século XXI, a sobrevivência da ópera cabocla depende em grande parte de verbas oficiais, seja do governo do estado do Pará, ou da prefeitura de Belém, apresentando-se quase sempre apenas na época dos festejos juninos.[4]

Apresentação

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As duas variantes dos Pássaros Juninos diferenciam-se não somente pela complexidade, mas também pela forma de apresentação:[1]

  • Cordão de Pássaro: os participantes formam um semicírculo ou meia-lua e permanecem o tempo todo no espaço de apresentação, somente se deslocando para o centro no momento da sua performance e retornando à posição original em seguida.[1]
  • Pássaro Melodrama Fantasia: exige um espaço cênico mais elaborado, com coxias, camarins para troca de figurinos e até mesmo "ponto" (para "soprar" as falas para os atores). Todavia, diferentemente do teatro tradicional, geralmente não apresentam cenários.[1]

A trama básica pode ser descrita da seguinte maneira:[1]

  • Um caçador fere (ou mata) um pássaro de estimação;
  • O caçador é perseguido e preso por índios que o levam ao guardião do pássaro;
  • O guardião leva o caçador à presença do dono do pássaro;
  • Ameaçado de receber uma punição severa, o caçador implora misericórdia;
  • O dono do pássaro promete perdoar o caçador se ele curar (ou ressuscitar) o pássaro.

Em ambas as variantes dos Cordões Juninos, há personagens e funções dramáticas comuns:[1]

  • Porta-pássaro: representa o Pássaro e é interpretado por uma menina, vestida luxuosamente (em comparação com os demais);
  • Nobres: podem também ser Coronéis ou Fazendeiros; representam o poder socioeconômico, a classe dominante;
  • Caçador: um dos principais personagens da peça;
  • Matutos: fazem a parte cômica do espetáculo e se vestem com fantasias de festa junina (homens de chapéu de palha e camisa xadrez, mulheres de vestido de chita);
  • Fada: personagem retirado dos contos de fada europeus, inclusive com a varinha de condão; representa o Bem, que sempre vence;
  • Pajé: realiza curas físicas e espirituais;
  • Feiticeira: também pode ser chamada de "Mãe de Santo"; representa o mal e é auxiliada por "Filhas de Santo";
  • Tuxaua ou Morubixaba: chefe da tribo, protetor da floresta e guardião do Pássaro. Responsável por prender o Caçador.

Referências

  1. a b c d e f g Jefferson Aloysio de Melo Luz. «Era tão bonito... conflitos de sensibilidade musical e o desaparecimento de um Cordão de Pássaro» (PDF). Universidade Federal do Pará. Consultado em 21 de junho de 2023 
  2. Marton Maués. «Pássaros juninos do Pará: a matutagem e suas relações com o cômico popular medieval e renascentista» (PDF). Repertório. Consultado em 21 de junho de 2023 
  3. «Lei Ordinária Nº 7.352, de 7 de dezembro de 2009». Governo do Estado do Pará. Consultado em 22 de junho de 2023 
  4. a b Paulo Murilo Guerreiro do Amaral; Anderson Sandim e Sâmela Jorge. «Entre o popular e o erudito: considerações sobre o Pássaro Junino em Belém do Pará» (PDF). XXVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. Consultado em 21 de junho de 2023 

Ligações externas

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