Coparentalidade
A coparentalidade é uma iniciativa empreendida por pais que juntos assumem a socialização, o cuidado e a educação dos filhos pelos quais compartilham responsabilidades iguais.[1][2] O relacionamento coparental difere de um relacionamento íntimo entre adultos porque se concentra apenas na criança.[3] O termo equivalente em biologia evolutiva é cuidado biparental, em que o investimento parental é fornecido pela mãe e pelo pai.[4][5][6]
O significado original de coparentalidade estava relacionado principalmente a famílias nucleares. No entanto, desde a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1989, o princípio de que uma criança deve continuar a manter uma relação forte com ambos os pais, mesmo se separada, tornou-se um direito mais reconhecido. Assim, o conceito de coparentalidade foi estendido a pais divorciados e separados e também a pais que nunca viveram juntos.[7][8]
Pais casados e coabitantes
[editar | editar código-fonte]Os filhos se beneficiam de mais coparentalidade, mas a quantidade de coparentalidade varia entre os casais. Bryndl Hohmann-Marriott descobriu que o nível de coparentalidade colaborativa era maior entre os pais solteiros que coabitavam e entre aqueles que se casaram em resposta a uma gravidez, em comparação com casais que engravidaram durante o casamento.[9]
Em um casamento com rendimentos de pais compartilhados, os cuidados com os filhos são divididos igualmente ou aproximadamente igualmente entre os dois pais. Em um casamento entre os pais, os pais vivem e criam seus filhos juntos em um casamento baseado em um propósito, sem intimidade física ou expectativa de compartilhar amor romântico mútuo.[10][11] O reconhecimento pode variar conforme a jurisdição.[12]
Pais separados
[editar | editar código-fonte]A co-parentalidade pós-separação descreve uma situação em que dois pais trabalham juntos para criar um filho depois que se divorciaram, se separaram ou nunca viveram juntos.[13][14][15] Os defensores da coparentalidade se opõem ao hábito de conceder a custódia de uma criança exclusivamente a um dos pais solteiros e promovem a parentalidade compartilhada como uma proteção do direito das crianças de continuar a receber cuidados e amor de todos os pais.[16][17] Estudos epidemiológicos demonstraram que a guarda compartilhada e outros acordos em que as crianças têm maior acesso a ambos os pais levam a melhores resultados físicos, mentais e de saúde para as crianças.[18][19]
A coparentalidade eletiva, também conhecida como parceria parental ou parentalidade parceira,[20] pode ser usada como uma escolha por indivíduos que procuram ter filhos, mas que não desejam entrar em um relacionamento convencional.[21] Este fenômeno foi uma prática comum para gays e lésbicas no passado,[22] o conceito tornou-se recentemente mais comum entre homens e mulheres heterossexuais,[23][24][25] bem como assexuais e arromânticos.[26][27][28]
Coparentalidade por mais de dois adultos
[editar | editar código-fonte]Sujeito às leis de seu país de residência, mais de dois adultos podem entrar em um acordo formal para cuidar de uma criança juntos, embora apenas dois deles possam receber a custódia legal oficial na maioria dos países.[29] A Holanda está considerando uma nova lei que torna legal a concessão da custódia oficial de até quatro coparentes (copaternidade, comaternidade, conaternidade).[30][31][32] Em um caso, uma família de quatro pais, composta por um casal de gays e um de lésbicas, cuida de seus filhos com base em um acordo formal.[33][34][35] Nesses casos, os termos pluriparentalidade ou multiparentalidade são usados para denominar essas estruturas familiares.[36][37][38]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Adoção homoparental
- Casamento lavanda
- Casamento por conveniência
- Concubinato
- Gravidez transgênero
- Homoparentalidade
- Relacionamento queerplatônico
- Theyby
Referências
- ↑ McHale, James; Lindahl, Kristen (2011). Coparenting: A conceptual and clinical examination of family systems. [S.l.]: American Psychological Association. ISBN 978-1-4338-0991-0
- ↑ «IBDFAM: Coparentalidade abre novas formas de estrutura familiar». ibdfam.org.br. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Ellie, McCann; Kjersti, Olson; Eugene, Hall; Maisha, Giles; Stephen, Onell; Rose, McCullough; Jenifer, McGuire; Cari, Michaels (outubro de 2015). «Children in Common: Ensuring the Emotional Well-being of Children When Parenting Apart»
- ↑ Clutton-Brock, T.H. 1991. The Evolution of Parental Care. Princeton, NJ: Princeton U. Press. pg. 9
- ↑ Trivers, R.L. (1972). Parental investment and sexual selection. In B. Campbell (Ed.), Sexual selection and the descent of man, 1871-1971 (pp. 136–179). Chicago, IL: Aldine. ISBN 0-435-62157-2.
- ↑ «Laboratório de Demografia e Estudos Populacionais» (em inglês). Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Feinberg, Mark E. (maio de 2003). «The Internal Structure and Ecological Context of Coparenting: A Framework for Research and Intervention». Parenting. 3: 95–131. PMC 3185375. PMID 21980259. doi:10.1207/S15327922PAR0302_01
- ↑ «Pais Amigos: a primeira Rede Social para quem quer ter filho». Terra. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Hohmann‐Marriott B. Coparenting and father involvement in married and unmarried coresident couples. Journal of Marriage and Family. 2011 Feb 1;73(1):296-309.
- ↑ Gadoua, Susan Pease (10 de dezembro de 2017). «Give Your Spouse the Gift of a Parenting Marriage This Year | Psychology Today». www.psychologytoday.com (em inglês). Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Comércio, GeraçãoE-Jornal do. «Militante cria em Porto Alegre plataforma que conecta pessoas para terem filhos». GeraçãoE - Jornal do Comércio. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ «Justiça de SP reconhece amigos como pais de criança que nasceu nos EUA | Radar». VEJA. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Grzybowski, Luciana Suárez; Wagner, Adriana (março de 2010). «Casa do pai, casa da mãe: a coparentalidade após o divórcio». Psicologia: Teoria e Pesquisa: 77–87. ISSN 0102-3772. doi:10.1590/S0102-37722010000100010. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Sá, Gabriel Francisco Cabrera de; Rodrigues, Cibele; Sato, Meire Cristina Queiroz (22 de novembro de 2021). «COPARENTALIDADE RESPONSÁVEL: UM NOVO MODELO FAMILIAR?». Atena Editora: 45–56. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Laranjo, Lilianne Luiza de Figueiredo Moreira; Massaro, Ana Carolina Pedrosa; Tárrega, Maria Cristina Vidotte Blanco (2021). «Coparentalidade: Novo Formato Familiar e a Psicanálise» (PDF). Centro de Investigação de Direito Privado (CIDP). Revista Jurídica Luso-Brasileira (Ano 7, N.º 6)
- ↑ «Coparentalidade: brasileiros buscam parceiros para ter filhos sem relação amorosa». BBC News Brasil. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Souza, Priscilla Bellard Mendes de; Ramos, Maely da Silva; Pontes, Fernando Augusto Ramos; Silva, Simone Souza da Costa (17 de dezembro de 2016). «Coparenting: a study of systematic literature review». Estilos da Clinica (em inglês) (3): 700–720. ISSN 1981-1624. doi:10.11606/issn.1981-1624.v21i3p700-720. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Baude, Amandine; Pearson, Jessica; Drapeau, Sylvie (27 de junho de 2016). «Child Adjustment in Joint Physical Custody Versus Sole Custody: A Meta-Analytic Review». Journal of Divorce & Remarriage. 57: 338–360. doi:10.1080/10502556.2016.1185203
- ↑ Souza, Érica Renata de (2012). «Interseções entre homossexualidade, família e violência: relações entre lésbicas na região de Campinas (SP)». Sociedade e Cultura (2): 10.5216/sec.v15i2.22398–10.5216/sec.v15i2.22398. ISSN 1980-8194. doi:10.5216/sec.v15i2.22398. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Nascimento, Marcella (2024). «Coparentalidade : os efeitos jurídicos do contrato de geração de filhos/as no ordenamento brasileiro.». Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Javda, V.; Freeman, T.; Tranfield, E.; Golombok, S. (1 de junho de 2015). «'Friendly allies in raising a child': a survey of men and women seeking elective co-parenting arrangements via an online connection website». Human Reproduction. 30: 1896–1906. PMC 4507329. PMID 26040481. doi:10.1093/humrep/dev120
- ↑ «Mãe decide ter filho com o melhor amigo gay: 'Me sentia confortável e segura na presença dele'». Crescer. 30 de janeiro de 2024. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Jadva, V.; Freeman, T.; Tranfield, E.; Golombok, S. (1 de agosto de 2015). «'Friendly allies in raising a child': a survey of men and women seeking elective co-parenting arrangements via an online connection website». Human Reproduction (em inglês). 30: 1896–1906. ISSN 0268-1161. PMC 4507329. PMID 26040481. doi:10.1093/humrep/dev120
- ↑ «Comunidade virtual une gente que está atrás de parceiro para ter filho». Fantástico. 23 de julho de 2017. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Cunha, Rândyna da (7 de novembro de 2016). «Coparentalidade: o tabu de abraçar um novo formato familiar». aEmpreendedora. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Pereira, Rodrigo da Cunha (14 de dezembro de 2020). «IBDFAM: O contrato de geração de filhos e os novos paradigmas da família contemporânea». ibdfam.org.br. Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ de Melo, Lorena Alves Aguiar Lopes. «Coparentalidade responsável, uma análise de um novo formato de família». Portal Jurídico Investidura - Direito. Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ «Gravidez ainda é o principal caminho para a parentalidade de homens trans». Jornal da USP. 26 de setembro de 2024. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Carpenter, Louise (15 de dezembro de 2013). «Meet the co-parents». The Guardian. Consultado em 2 de junho de 2017
- ↑ «The Netherlands may let children have more than two legal parents». The Economist. 31 de agosto de 2017. Consultado em 2 de maio de 2018
- ↑ Marinho, Enilda Valéria Gomes (19 de julho de 2021). «Quem tem medo da linguagem não-binária?» (PDF). Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ Cordeiro, Tiago. «Quem são os “theybies”, os bebês criados sem gênero». Gazeta do Povo. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ «Twee moeders, twee vaders: volgt nu ook de wet? (Two mothers, two fathers: now also follows the law?)» (em neerlandês). Netherlands Broadcasting Foundation, Nederlandse Omroep Stichting. 6 de dezembro de 2016. Consultado em 2 de junho de 2017
- ↑ «IBDFAM: Multiparentalidade: uma análise entre o reconhecimento e seus efeitos no âmbito do direito da família». ibdfam.org.br. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ «Multiparentalidade - Entenda o conceito e os efeitos jurídicos». Aurum. 8 de janeiro de 2021. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ «A família reconstruída e o reconhecimento jurídico da pluriparentalidade». 1 de maio de 2017. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ «A pluriparentalidade e o direito à felicidade». Migalhas. 1 de outubro de 2017. Consultado em 19 de novembro de 2024
- ↑ «A multiparentalidade traz todas as implicações inerentes à filiação, com deveres e direitos recíprocos». TJDFT. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Cópia arquivada em 6 de março de 2021