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Bacteroides

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Não confundir o gênero "Bacteríoides" com o tipo morfológico de bactérias fixadoras de N (rizóbios) chamado "bacteroide".


Como ler uma infocaixa de taxonomiaBacteroides
Bacteroides spp. cultivado anaerobicamente num meio de ágar sangue
Bacteroides spp. cultivado anaerobicamente num meio de ágar sangue
Classificação científica
Domínio: Bacteria
Filo: Bacteroidetes
Classe: Bacteroidetes
Ordem: Bacteroidales
Família: Bacteroidaceae
Gênero: Bacteroides
Castellani & Chalmers 1919
Espécies

Bacteroides é um género de bactérias gram-negativas, com a forma de bacilo. As espécies de Bacteroides não formam esporas, são anaeróbicas, e existem espécies móveis e imóveis.[2] A composição de bases do seu ADN tem um conteúdo GC de 40-48%. Bacteroides possui esfingolípidos nas suas membranas, algo inusitado nas bactérias. Também contêm ácido meso-diaminopimélico na camada de peptidoglicano da sua parede celular.

As espécies de Bacteroides são normalmente mutualistas, e constituem a parte principal da flora intestinal dos mamíferos,[3] onde desempenham um papel fundamental no processamento de moléculas complexas noutras mais simples no intestino do hóspede.[4][5][6] Nas fezes humanas foi descrita uma quantidade de 1010-1011 células por grama.[7] Embora possam utilizar açucares simples quando os têm, as principais fontes de energia para o género Bacteroides no intestino são os glicanos (polissacáridos) complexos derivados do hóspede ou de plantas.[8] Determinados estudos indicam que a dieta seguida a longo prazo está muito associado à composição da microbiota intestinal, pelo que os que comem muitas proteínas e gorduras animais têm predominantemente Bacteroides, enquanto que nos que consomem mais carboidratos predominam as Prevotella.[9]

Uma das espécies do género clinicamente mais importantes é o Bacteroides fragilis.

O Bacteroides melaninogenicus foi reclassificado recentemente e dividido em Prevotella melaninogenica e Prevotella intermedia.[10]

As espécies de Bacteroides também beneficiam os seus hóspedes ao impedirem que patogénicos potenciais colonizem o intestino. Algumas espécies (B. fragilis, por exemplo) são patógenos humanos oportunistas, que causam infecções na cavidade peritoneal, em casos de cirurgia gastrointestinal, e apendicite por meio da formação de abcessos, inibindo a fagocitose, e inactivando os antibióticos β-lactámicos.[11] Embora as espécies de Bacteroides sejam anaeróbicas, são aerotolerantes e assim podem sobreviver na cavidade abdominal.

Geralmente, os Bacteroides são resistentes a uma ampla gama de antibióticos β-lactámicos, aminoglicósidos, e recentemente muitas espécies adquiriam resistência à eritromicina e à tetraciclina. Este alto nível de resistência a antibióticos é uma preocupação cada vez mais acentuada, porque os Bacteroides pode converter-se num reservatório de genes resistentes para outras cepas bacterianas muito mais patogénicas.[12][13]

Aplicações microbiológicas

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Foi sugerido o uso de Bacteroides como um indicador fecal alternativo aos coliformes, porque constitui uma significativa porção da povoação fecal bacteriana,[2] tem um alto grau de especificidade de hóspede, reflecte as diferenças do sistema digestivo do animal hóspede,[14] e tem um potencial de crescimento pequeno para crescer no ambiente exterior.[15] Foram utilizados os métodos da reacção em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR) para detectar a presença de vários micróbios patógenos amplificando as suas sequências de ADN específicas em amostras ambientais sem cultivar as bactérias. Um destes estudos mediu a quantidade de Bacteroides utilizando a qPCR para quantificar os marcadores genéticos de ARNr de 16S específicos do hóspede.[16] Esta técnica permite fazer quantificações de marcadores genéticos que são específicos do hóspede da bactéria e permite a detecção de contaminações recentes. Num estudo recente constatou-se que a temperatura represente um papel muito importante na quantidade de tempo que esta bactéria persiste no ambiente, e que a sua longevidade aumentava com as temperaturas frias (0-4 °C).[17]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai aj ak al am an ao ap aq Parte, A.C. «Bacteroides». www.bacterio.net 
  2. a b Madigan M, Martinko J, ed. (2005). Brock Biology of Microorganisms 11th ed. [S.l.]: Prentice Hall. ISBN 0-131-44329-1 
  3. Dorland WAN (editor) (2003). Dorland's Illustrated Medical Dictionary 30th ed. [S.l.]: W.B. Saunders. ISBN 0-721-60146-4 
  4. Wexler, H. M. (Oct 2007). "Bacteroides: the good, the bad, and the nitty-gritty" (Free full text). Clinical Microbiology Reviews 20 (4): 593–621. doi:10.1128/CMR.00008-07. ISSN 0893-8512. PMC 2176045. PMID 17934076. http://cmr.asm.org/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=17934076.
  5. Xu, J. .; Gordon, I. . (Sep 2003). "Inaugural Article: Honor thy symbionts" (Free full text). Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 100 (18): 10452–10459. Bibcode 2003PNAS..10010452X. doi:10.1073/pnas.1734063100. ISSN 0027-8424. PMC 193582. PMID 12923294. http://www.pnas.org/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=12923294.
  6. Xu, P.; Mahowald, A.; Ley, E.; Lozupone, A.; Hamady, M.; Martens, C.; Henrissat, B.; Coutinho, M. et al. (Jul 2007). "Evolution of symbiotic bacteria in the distal human intestine" (Free full text). PLoS Biology 5 (7): e156. doi:10.1371/journal.pbio.0050156. ISSN 1544-9173. PMC 1892571. PMID 17579514. http://dx.plos.org/10.1371/journal.pbio.0050156.
  7. Finegold SM, Sutter VL, Mathisen GE (1983). Normal indigenous intestinal flora (pp. 3-31) in Human intestinal microflora in health and disease. [S.l.]: Academic Press. ISBN 0-123-41280-3 
  8. Martens EC, Chiang HC, Gordon JI (2008). «Mucosal Glycan Foraging Enhances Fitness and Transmission of a Saccharolytic Human Gut Bacterial Symbiont». Cell Host Microbe. 13 (4): 447–57. PMC 2605320Acessível livremente. PMID 18996345. doi:10.1016/j.chom.2008.09.007 
  9. Wu GD, Chen J, Hoffmann C, Bittinger K, Chen YY, Keilbaugh SA, Bewtra M, Knights D, Walters WA, Knight R, Sinha R, Gilroy E, Gupta K, Baldassano R, Nessel L, Li H, Bushman FD, Lewis JD (7 de outubro de 2011). «Linking long-term dietary patterns with gut microbial enterotypes». Science. 334 (6052): 105-8. PMC 3368382Acessível livremente. PMID 21885731 
  10. «Bacteroides Infection: Overview - eMedicine». Consultado em 11 de dezembro de 2008. Cópia arquivada em 22 de dezembro de 2008 
  11. Ryan KJ, Ray CG, ed. (2004). Sherris Medical Microbiology 4th ed. [S.l.]: McGraw Hill. ISBN 0-838-58529-9 
  12. Salyers AA, Gupta A, Wang Y (2004). «Human intestinal bacteria as reservoirs for antibiotic resistance genes». Trends Microbiol. 12 (9): 412–416. PMID 15337162. doi:10.1016/j.tim.2004.07.004 
  13. Löfmark, S.; Jernberg, C.; Jansson, K.; Edlund, C. (Dec 2006). "Clindamycin-induced enrichment and long-term persistence of resistant Bacteroides spp. And resistance genes" (Free full text). The Journal of antimicrobial chemotherapy 58 (6): 1160–1167. doi:10.1093/jac/dkl420. ISSN 0305-7453. PMID 17046967. http://jac.oxfordjournals.org/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=17046967.
  14. Bernhard AE, Field KG. A PCR assay To discriminate human and ruminant feces on the basis of host differences in Bacteroides-Prevotella genes encoding 16S rRNA (2000). «A PCR assay to discriminate human and ruminant feces on the basis of host differences in Bacteroides-Prevotella genes encoding 16S rRNA» (PDF). Applied and Environmental Microbiology. 66 (10): 4571–4574. PMC 92346Acessível livremente. PMID 11010920. doi:10.1128/AEM.66.10.4571-4574.2000 
  15. Kreader, CA (1998). «Persistence of PCR-detectable Bacteroides distasonis from human feces in river water» (PDF). Applied and Environmental Microbiology. 64 (10): 4103–4105. PMC 106613Acessível livremente. PMID 9758854 
  16. Layton, A.; McKay, L; Williams, D; Garrett, V; Gentry, R; Sayler, G (2006). «Development of Bacteroides 16S rRNA Gene TaqMan-Based Real-Time PCR Assays for Estimation of Total, Human,and Bovine Fecal Pollution in Water». Applied and Environmental Microbiology. 72 (6): 4214–4224. PMC 1489674Acessível livremente. PMID 16751534. doi:10.1128/AEM.01036-05 
  17. Bell A, Layton AC, McKay L, Williams D, Gentry R, Sayler GS (27 de abril de 2009). «Factors influencing the persistence of fecal Bacteroides in stream water». J Environ Qual. 38 (3): 1224–1232. PMID 19398520. doi:10.2134/jeq2008.0258 

Ligações externas

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