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{{antissemitismo}}
{{nazismo}}
'''''Kristallnacht''''' ({{IPA-de|kʁɪsˈtalnaχt}}), '''''Reichskristallnacht''''' [{{IPA|ˌʁaɪçs.kʁɪsˈtalnaχt}}], '''''Reichspogromnacht''''' [{{IPA|ˌʁaɪçs.poˈɡʁoːmnaχt}}], '''''Pogromnacht''''' {{IPA-de|poˈɡʁoːmnaχt||Pogromnacht.ogg}} ou '''''Novemberpogrome''''' {{IPA-de|noˈvɛmbɐpoɡʁoːmə||Novemberpogrome.ogg}}, designada em português por '''Noite dos Cristais''', '''Noite de Cristal''' ou '''Noite de Cristal do Reich''', foi um ''[[pogrom]]'' contra os [[judeus]] promovido pela [[Alemanha Nazi]] na noite de [[9 de novembro|9]]–[[10 de novembro]] de 1938, levado a cabo pelas forças paramilitares das [[Sturmabteilung|SA]] e por civis alemães. As autoridades alemãs olharam para o acontecimento sem, no entanto, intervir.<ref name=Gilbert42>"'German Mobs' Vengeance on Jews", ''[[The Daily Telegraph]]'', 11 de Novembro de 1938, citado em [[Martin Gilbert|Gilbert, Martin]]. ''Kristallnacht: Prelude to Destruction''. Harper Collins, 2006, p. 42.</ref><ref>{{Citar enciclopédia|enciclopédia=Holocaust Encyclopedia|título=Kristallnacht|url=https://encyclopedia.ushmm.org/content/en/article/kristallnacht |acessodata=15 de julho de 2019 |editora=United States Holocaust Memorial Museum |língua=inglês }}</ref> O nome ''Kristallnacht'' deve-se aos milhões de pedaços de vidro partidos que encheram as ruas depois das janelas das lojas, edifícios e sinagogas judaicas terem sido partidas.<ref name=Atlantic>[http://www.theatlantic.com/infocus/2011/06/world-war-ii-before-the-war/100089/ "World War II: Before the War"], ''The Atlantic'', 19 de Junho de 2011. "As janelas das lojas dos judeus as quais foram partidas durante uma acção coordenada anti-judeus em Berlim, conhecida como ''Kristallnacht'', a 1o de Novembro de 1938. As autoridades nazis fecharam os olhos quando as membros das SA e civis destruíram as janelas com martelos, deixando as ruas cobertas de pedaços de vidro. Algumas fontes estimam que 91 judeus foram mortos e {{formatnum:30000}} homensn judeus foram levados para campos de concentração."</ref>

As estimativas sobre o número de vítimas causadas pela violência variam. Os primeiros relatos indicavam que 36 judeus tinham sido mortos durante os ataques.<ref name=Atlantic/> Mais recentemente, as análises ao ''progrom'' efectuadas a documentos académicos feitas por historiadores como [[Richard J. Evans]], refere um valor mais elevado, cerca de 91 mortos.<!--Colocar referência--> Quando se inclui as mortes posteriores, devido a maus-tratos dos judeus detidos, e suicídios, o número de mortos ascende a centenas. Para além das vítimas mortais, cerca de {{formatnum:30000}} judeus foram detidos e enviados para campos de concentração.<ref name="Atlantic" />

As casas dos cidadãos judeus, hospitais e escolas foram pilhadas e postas abaixo pelos atacantes com o recurso de marretas.<ref name=Gilbert13/> Mais de mil sinagogas foram incendiadas (95 só em [[Viena]]) e mais de sete mil negócios foram destruídos ou danificados.<ref name="Berenbaum2005p49">[[Michael Berenbaum|Berenbaum, Michael & Kramer, Arnold]] (2005). ''The World Must Know''. [[United States Holocaust Memorial Museum]]. p. 49.</ref><ref name=Gilbert30>Gilbert, pp. 30–33.</ref> Martin Gilbert escreve que mais nenhum acontecimento na história dos judeus alemães entre 1933 e 1945 foi tão difundido à medida que ia acontecendo, e os relatos dos jornalistas estrangeiros a trabalhar na Alemanha causaram ondas de choque em todo o mundo.<ref name=Gilbert13>Gilbert, pp. 13–14.</ref> O ''[[The Times|Times]]'' escreveu na altura: "Nenhum propagandista estrangeiro, empenhado em denegrir a Alemanha perante o mundo, poderia superar a história de incêndios e espancamentos, de agressões violentas a pessoas indefesas e inocentes, que ontem desonraram aquele país.”<ref name=Gilbert41>"Um Dia Negro para a Alemanha", ''The Times'', 11 de Novembro de 1938, citado em Gilbert, Martin (2006): Kristallnacht: prelude to destruction, p. 41.</ref>

O pretexto para os ataques foi o assassinato do diplomata alemão [[Ernst vom Rath]] por [[Herschel Grynszpan]], um [[Polónia|polaco]] judeu nascido na Alemanha a viver em [[Paris]]. À ''Noite de Cristal'' seguiram-se perseguições económicas e políticas aos judeus, vistas pelos historiadores como uma parte da mais abrangente [[Política racial da Alemanha Nazista|política racial da Alemanha nazi]], e o início da [[Solução final|Solução Final]] e do [[Holocausto]].<ref name="Hutchinson 1998">{{citar livro|autor =Multiple authors|título=The Hutchinson Encyclopedia 1998 edition|publicado=Helicon Publishing|local=England|ano=1998|edição=18 (1998)|series=Hutchinson Encyclopedias|volume=1998|página=1199|capítulo=Kristallnacht|isbn=1-85833-951-0}}</ref>

==Antecedentes==
{{further|Leis de Nuremberg}}

===Primeiras perseguições nazis===
Na década de 1920, muitos judeus alemães foram integrados na sociedade alemã como cidadãos alemães. Serviram no exército e na marinha, e contribuíram em todos os sectores empresariais alemães, na ciência e na cultura.<ref>Goldstein, Joseph (1995). ''Jewish History in Modern Times''. Sussex Academic Press. pp. 43–44. ISBN 978-1-898723-06-6.</ref> As condições para os judeus começaram a mudar depois da nomeação de [[Adolf Hitler]] (líder do [[Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães|Partido Nazi]] nascido na [[Áustria]]) para [[Chanceler da Alemanha]] em 30 de Janeiro de 1933, e da [[Lei de Concessão de Plenos Poderes de 1933|Lei de assumpção de poderes]] (23 de Março de 1933) por Hitler depois do [[incêndio do Reichstag]] em 27 de Fevereiro de 1933.<ref>{{citar web|título= Nazi Germany - dictatorship|url= http://www.historylearningsite.co.uk/Nazi_Germany_dictatorship.htm|autor = Trueman, Chris|acessodata= 12 de Março de 2008}}</ref><ref>{{citar web|título= Hitler's Enabling Act|url= http://www.historyplace.com/worldwar2/timeline/enabling.htm|acessodata= 2008-03-12}}</ref> Logo no seu início, o regime de Hitler rapidamente começou a desenvolver alterações para introduzir [[Política racial da Alemanha Nazista|políticas anti-judaicas]]. A [[propaganda nazi]] apontou o dedo a cerca de {{formatnum:500000}} judeus na Alemanha, representantes de apenas 0,86% da população, como o inimigo responsável pela derrota alemã na [[Primeira Guerra Mundial]] e pelo desastre económico que se lhe seguiu, como a  [[Hiperinflação na República de Weimar|hiper-inflação da década de 1920]], e o [[Terça-Feira Negra|''Crash'' de Wall Street]] e a [[Grande Depressão]].<ref name=Gilbert23>Gilbert, p. 23.</ref> Iniciado em 1933, o governo alemão redigiu uma série de [[Legislação anti-judaica na Alemanha Nazi|leis anti-judeus]] restringindo os direitos dos judeus alemães a ganhar o seu próprio sustento, de usufruírem de cidadania plena e de acederem à educação, incluindo a ''[[Lei da Restauração do Serviço Público Profissional]]'' de 7 de abril de 1933, que proibia os judeus de trabalhar na função pública.<ref>{{citar livro|título= Refugee Scholars:Conversations with Tess Simpson|último = Cooper|primeiro = R.M.|local= Leeds|ano= 1992|página= 31}}</ref> As leis seguintes, datadas de 1935 e chamadas de [[Leis de Nuremberg]]a, retiraram a cidadania aos judeus alemães e os proibiam de casar com não-judeus alemães.

Estas leis tiveram como resultado a exclusão dos judeus da vida social e política da Alemanha.<ref>{{citar web|título= The Holocaust|url= http://www.ushmm.org/wlc/article.php?lang=en&ModuleId=10005143|acessodata= 12 de Março de 2008}}</ref> Muitos procuram asilo no estrangeiro; centenas de milhares emigraram, mas como [[Chaim Weizmann]] escreveu em 1936: "O Mundo parecia estar dividido em duas partes—aqueles lugares onde os judeus não podiam viver, e aqueles onde não podiam entrar".<ref>''Manchester Guardian'', 23 de Maio de 1936, citado em ''Island Refuge, Britain and the Refugees from the Third Reich, 1933–1939'' de A.J. Sherman, (Londres, Elek Books Ltd, 1973), p. 112, e também em [http://christianactionforisrael.org/antiholo/evian/evian.html ''The Evian Conference — Hitler's Green Light for Genocide''] {{Wayback|url=http://christianactionforisrael.org/antiholo/evian/evian.html |date=20130827082632 }}, de Annette Shaw</ref> Na [[Conferência de Évian]] a 6 de julho de 1938, foi discutida a questão da imigração dos judeus e dos ciganos para outros países. Na altura em que a conferência teve lugar, mais de {{formatnum:250000}} judeus já tinham fugido da Alemanha e da [[Áustria]] (que tinha sido [[Anschluss|anexada pela Alemanha]] em março de 1938); mais de {{formatnum:300000}} judeus alemães e austríacos continuaram a procurar refúgio e asilo derivados da opressão. À medida que o número de judeus e de ciganos desejosos de fugir aumentava, as restrições contra eles cresceram, com muitos países a restringir as suas políticas de admissão de refugiados. Em 1938, a Alemanha "tinha entrado numa nova fase de actividade anti-semita".<ref>Johnson, Eric. ''The Nazi Terror: Gestapo, Jews and Ordinary Germans''. United States: Basic Books, 1999, p. 117.</ref> Alguns historiadores acreditam que o governo nazi tinha planeado novas operações de violência contra os judeus, e estavam à espera de serem provocados; existem evidências destes planos em 1937.<ref>Friedländer, Saul. ''Nazi Germany and The Jews'', volume 1: ''The Years of Persecution 1933–1939'', London: Phoenix, 1997, p. 270</ref> Numa entrevista de 1997, o historiador alemão [[Hans Mommsen]] afirmou que uma das principais motivações para o ''pogrom'' era o desejo por parte dos ''[[Gauleiter]]s'' do NSDAP de se apropriarem dos bens e dos negócios dos judeus.<ref name="yadvashem1997">{{citar web|último = Mommsen|primeiro = Hans|título= Interview with Hans Mommsen|publicado= Yad Vashem|data= 12 de Dezembro de 1997|url= http://www1.yadvashem.org/odot_pdf/Microsoft%20Word%20-%203850.pdf|acessodata= 6 de Fevereiro de 2010}}</ref> Mommsen disse:

<blockquote>A necessidade de dinheiro que a organização do partido tinha, vinha do facto de o o tesoureiro do partido, [[Franz Xaver Schwarz]], manter as organizações regionais do partido com pouco dinheiro em caixa. No outono de 1938, a pressão crescente sobre os bens judeus, alimentou a ambição do partido, em especial desde que Hjalmar Schacht foi nomeado ministro da Economia do ''Reich''. Isto, contudo, era apenas um aspecto da origem do ''progrom'' de novembro de 1938. O governo polaco ameaçou extraditar todos os judeus que eram cidadãos polacos, mas que ficariam na Alemanha, criando, assim, um fardo de responsabilidade do lado alemão. A reacção imediata da Gestapo foi empurrar os judeus polacos—{{formatnum:16000}} pessoas—para a fronteira, mas esta medida fracassou devido à teimosia das autoridades alfandegárias polacas. A perda de prestígio devido ao cancelamento desta operação forçou um pedido de compensação. Assim, a reacção radical ao ataque de Herschel Grynszpan contra o diplomata Ernst vom Rath resultou no ''progrom'' de novembro. Os antecedentes do ''progrom''  ficaram marcados por uma significativa oposição de interesses entre as diferentes agências do partido e do Estado. Enquanto o Partido Nazi estava interessado em melhorar a sua força financeira ao nível local e regional, apropriando-se dos bens judeus, [[Hermann Göring]], responsável pelo [[Plano de Quatro Anos]], esperava ganhar acesso às divisas estrangeiras para poder pagar as importações de matérias-primas. Heydrich e Himmler tinham interesse em promover a emigração judaica".<ref name="yadvashem1997"/> </blockquote>

A liderança [[Sionismo|sionista]] na [[Mandato Britânico da Palestina|Palestina]] escreveu em fevereiro de 1938 que, de acordo com "uma fonte privada muito segura—a qual pode ser encontrada nas mais altas instâncias da liderança SS", havia "uma intenção de colocar em prática um verdadeiro e genuíno ''pogrom'' na Alemanha, em larga escala, num futuro próximo".<ref>Georg Landauer para Martin Rosenbluth, 8 de Fevereiro de 1938, citado em Friedländer, loc. cit.</ref>

===Expulsão dos judeus polacos da Alemanha===
[[Imagem:Bundesarchiv Bild 146-1982-174-27, Nürnberg, Ausweisung polnischer Juden.jpg|thumb|Judeus polacos expulsos da Alemanha em outubro de 1938]]
Em agosto de 1938, as autoridades alemãs anunciaram que as permissões de residência para estrangeiros estavam a ser canceladas e teriam que ser renovadas. Nos estrangeiros incluíam os judeus nascidos na Alemanha mas de origem exterior. Um polaco disse que não seria aceito [[História dos Judeus na Polónia|judeus de origem polaca]] depois de outubro. Na chamada ''Polenaktion'', mais de {{formatnum:12000}} judeus polacos, entre os quais o filósofo e teólogo rabi [[Abraham J. Heschel|Abraham Joshua Heschel]], e o futuro crítico literário [[Marcel Reich-Ranicki]], foram expulsos da Alemanha em 28 de outubro de 1938, por ordem de Hitler. Receberam ordens para abandonar as suas casas nessa mesma noite, e apenas tinham direito a levar uma mala por pessoa para levar os seus pertences. À medida que os judeus eram expulsos, os seus bens deixados para trás eram confiscados tanto pelas [[Gestapo|autoridades nazis]] como pelos seus vizinhos.

Os deportados eram levados desde as suas casas para estações ferroviárias e colocados dentro de comboios que iam até à fronteira com a Polónia, onde os guardas polacos os enviavam de volta, através do rio, para a Alemanha. Este impasse continuou durante vários dias, debaixo de chuva torrencial, com os judeus a marchar sem comida ou abrigo entre as fronteiras. Cerca de quatro mil tiveram autorização para passar para a Polónia, mas cerca de oito mil foram forçados a ficar na fronteira. Ali aguardaram em condições muito complicadas para receberem autorização para entrar na Polónia. Um jornal britânico escreveu aos seus leitores que centenas (de pessoas) "estão espalhadas no terreno, sem dinheiro e sem ajuda, em pequenas aldeias ao longo da fronteira para onde tinham sido levadas".<ref>{{citar jornal|título=Expelled Jews' Dark Outlook|url=http://www.timesonline.co.uk/tol/comment/obituaries/article3531693.ece |obra=Newspaper article|publicado=The Times|data=1 de Novembro de 1938|acessodata=12 de Março de 2008|local=London}}</ref> As condições nos campos de refugiados "eram tão más que alguns tentaram fugir para a Alemanha e foram mortos", recorda uma mulher britânica que tinha sido enviada para ajudar os que tinham sido expulsos.<ref>"Recollections of Rosalind Herzfled," ''Jewish Chronicle,'' 28 September 1979, p. 80; citado em Gilbert, ''The Holocaust—The Jewish Tragedy'', Londres: William Collins Sons & Co. Ltd, 1986.</ref>

===Atentado contra Ernst vom Rath===
[[File:Bundesarchiv Bild 146-1988-078-07, Herschel Feibel Grynszpan.jpg|thumb|upright|[[Herschel Grynszpan]], 7 de novembro de 1938]]
[[File:Ernst-vom-Rath.jpg|thumb|upright|[[Ernst vom Rath]] ]]
Entre aqueles que foram expulsos encontrava-se a família de Sendel e Riva Grynszpan, judeus polacos que tinham emigrado para a Alemanha em 1911 e estabelecido a sua vida em [[Hanôver]]. No julgamento de [[Adolf Eichmann]] em 1961, Sendel Grynszpan recordou os acontecimentos sobre a sua deportação de Hanôver na noite de 27 de outubro de 1938: "E então puseram-nos em carros da polícia, em camionetas de prisioneiros, cerca de 20 homens em cada veículo, e levaram-nos para a estação de comboios. As ruas estavam cheias de pessoas a gritar: ''Juden raus! Auf nach Palästina!''" ("Fora com os judeus! Para a Palestina!").<ref>Hannah Arendt, ''Eichmann in Jerusalem'', p. 228.</ref> O seu filho de 17 anos de idade, [[Herschel Grynszpan|Herschel]], vivia em Paris com um tio.<ref name="Hutchinson 1998"/> Herschel recebeu um postal da sua família a partir da fronteira polaca, descrevendo a expulsão da família: "Ninguém nos disse o que estava a acontecer, mas apercebemo-nos que que ia ser o nosso fim...Não temos um tostão. Podes enviar-nos alguma coisa?".<ref name="GSA">German State Archives, [[Potsdam]], citado por  Rita Thalmann e Emmanuel Feinermann, ''Crystal night, 9–10 November 1938'', pp. 33, 42.</ref> Ele recebeu o postal em 3 novembro de 1938.

Na manhã de segunda-feira, 7 de novembro de 1938, comprou um revólver e uma caixa de balas, depois dirigiu-se para a embaixada alemã e pediu para ver um responsável pela embaixada. Após ser levado para o gabinete de [[Ernst vom Rath]], Grynszpan disparou cinco tiros contra Vom Rath, dois dos quais o atingiram no abdómen. Vom Rath era um diplomata do Ministérios das Relações Exteriores que tinha uma opinião anti-nazi, por causa do tratamento que os nazis davam aos judeus, e estava sob a investigação da Gestapo por ser politicamente pouco confiável.<ref>William L. Shirer, ''The Rise And Fall Of The Third Reich'', p. 430.</ref> Grynszpan não tentou escapar da polícia francesa e confessou livremente os disparos. No seu bolso, tinha um postal para a sua família com a mensagem: "Que Deus me perdoe ... Tenho que protestar assim para que todo o mundo ouça o meu protesto, e que o vou fazer".

No dia seguinte, o governo alemão retaliou, proibindo as crianças judias das escolas básicas alemãs de as frequentarem, suspendendo as actividades culturais dos judeus, e proibindo a publicação dos jornais e revistas judeus, incluindo os três jornais nacionais alemães judeus. Um jornal do Reino Unido descreve a última acção, que impôs uma barreira entre a população e os seus líderes, como "tendo a intenção de criar a desordem na comunidade judaica e quebrar os últimos laços que a unem...".<ref name=Gilbert23/> Os seus direitos como cidadãos tinham acabado.<ref>"Nazis Planning Revenge on Jews", ''News Chronicle'', 9 de Novembro de 1938</ref>

==Pogrom==

===Morte de Ernst vom Rath===
[[Imagem:Kristallnacht rh telegram pg1.png|thumb|Telegrama enviado por Reinhard Heydrich, 9 de novembro de 1938]]
Ernst vom Rath morreu dos ferimentos a 9 de novembro. As notícias da sua morte chegaram a Hitler nessa noite enquanto jantava com elementos-chave do Partido Nazi num jantar comemorativo do [[Putsch da Cervejaria]] em 1923. Após intensas discussões, Hitler deixou o jantar repentinamente sem efectuar o seu discurso habitual. O ministro da Propaganda [[Joseph Goebbels]] fez esse discurso, em seu lugar, e disse que "o Führer decidiu que... as demonstrações não devem ser preparadas ou organizadas pelo partido, mas devem acontecer de forma espontânea, não podem ser prejudicadas".<ref>Friedländer, op.cit., p. 268.</ref> O chefe do partido [[Walter Buch]] afirmaria mais tarde que essa mensagem era clara; com estas palavras, Goebbels tinha dado ordens aos chefes do partido para organizar um ''pogrom''.<ref>Walter Buch para Goring, 13.2.1939, Michaelis e Schraepler, Ursachen, Vol.12, p. 582 como citado em Friedländer, p. 271.</ref>

Algumas das chefias do partido discordaram das acções de Goebbels, temendo a crise diplomática que elas provocariam. [[Heinrich Himmler]] escreveu: "Suponho que isso seja da megalomania de Goebbels...e da estupidez que são responsáveis por dar início a esta operação agora, num momento particularmente difícil na diplomacia".<ref>Graml, Anti-Semitism, p. 13 citado em Friedländer, op.cit., p 272</ref> O historiador israelita [[Saul Friedländer]] acredita que Goebbels tinha razões pessoais para ir em frente com a ''Kristallnacht''. Goebbels tinha passado, recentemente, pela humilhação de a sua campanha de propaganda durante a [[Ocupação alemã da Checoslováquia|crise nos Sudetas]] ter sido ineficaz, e encontrava-se a passar por uma crise no relacionamento com a actriz [[Checoslováquia|checa]] [[Lída Baarová]]. Goebbels precisava de uma oportunidade para ficar bem visto aos olhos de Hitler. À 1h20 do dia 10 de novembro de 1938, [[Reinhard Heydrich]] enviou um telegrama urgente e secreto à [[Sicherheitspolizei]] (Polícia de Segurança) e às [[Sturmabteilung]] (SA), com instruções acerca dos motins. Incluía as linhas gerais para a protecção dos negócios estrangeiros não-judeus e propriedades. A polícia recebe ordens para não interferir nos motins a não ser que as instruções fossem violadas. A polícia também foi instruída para recolher os arquivos das sinagogas e dos escritórios comunitários judeus, e para prender "os judeus adultos saudáveis, que não sejam muito velhos", para serem transferidos para [[Campo de concentração|campos de concentração]].<ref>[http://motlc.wiesenthal.com/site/pp.asp?c=gvKVLcMVIuG&b=394829 "Heydrich's secret instructions regarding the riots in November 1938"], ([[Simon Wiesenthal Center]])</ref>
== Ver também ==
* [[Antissemitismo]]

{{Referências}}

== Bibliografia ==
;Em inglês
{{Refbegin|2}}
* {{citar livro|autor =Browning, Christopher R.|título=Collected memories: Holocaust history and postwar testimony|publicado=University of Wisconsin Press|local=Madison|ano=2003|isbn=0-299-18984-8
  |series=George L. Mosse Series in Modern European Cultural and Intellectual History}}
* {{citar livro|autor =Friedlander, Saul|título=Nazi Germany and the Jews : Volume 1: The Years of Persecution 1933-1939|publicado=Perennial|local=New York, NY|ano=1998|isbn=0-06-092878-6}}
* {{citar livro|autor =Gilbert, Martin|título=The Holocaust: the Jewish tragedy|ano=1986|publicado=Collins|local=London| isbn=0-00-216305-5}}
* {{citar livro|autor =Johnson, Eric J.|título=Nazi terror: the Gestapo, Jews, and ordinary Germans|ano=1999|publicado=Basic Books|local=New York| isbn=0-465-04906-0}}
* {{citar livro|autor =Mosse, George L.|título=Toward the Final Solution: A History of European Racism|publicado=Howard Fertig|local=New York|ano=1978|isbn=0-86527-941-1}}
** {{citar livro|autor =Mosse, George L.|título=Confronting history: a memoir|publicado=University of Wisconsin Press|local=Madison|ano=2000|isbn=0-299-16580-9}}
** {{citar livro|autor =Mosse, George L.|título=Nazi culture: intellectual, cultural and social life in the Third Reich|publicado=University of Wisconsin Press|local=Madison|ano=2003|isbn=0-299-19304-7}}
** {{citar livro|autor =Mosse, George L.|título=The Crisis of German Ideology : Intellectual Origins of the Third Reich|publicado=Howard Fertig|local=New York|ano=1999|isbn=0-86527-426-6}}
* {{citar livro|autor =Schwab, Gerald|título=The day the Holocaust began: the odyssey of Herschel Grynszpan|publicado=Praeger|local=New York|ano=1990|isbn=0-275-93576-0}}
* {{citar livro|autor =[[William L. Shirer|Shirer, William L.]]|título=[[The Rise and Fall of the Third Reich]]|publicado=Simon & Schuster|local=New York|ano=1990|isbn=0-671-72868-7}}
* {{citar livro|autor =Yahil, Leni|título=The Holocaust: the fate of European Jewry, 1932-1945|publicado=Oxford University Press|local=Oxford [Oxfordshire]|ano=1990|isbn=0-19-504523-8}}
* {{citar livro|autor =Dawidowicz, Lucy|título=The War Against the Jews: 1933-1945|publicado=Bantam|local=UK|outros=1991 (Re-issue)|isbn=978-0553345322}}
{{Refend}}

;Em alemão
{{Refbegin|2}}
* [[Hans-Dieter Arntz]] "Reichskristallnacht". Der Novemberpogrom 1938 auf dem Lande - Gerichtsakten und Zeugenaussagen am Beispiel der Eifel und Voreifel, Helios-Verlag, Aachen 2008, ISBN  978-3-938208-69-4
* {{citar livro|autor =Doscher, Hans-Jurgen|título=Reichskristallnacht: Die Novemberpogrome 1938|ano= 1988|publicado=Ullstein|língua=de| isbn=978-3-550-07495-0 }}
* {{citar livro|autor =Kaul, Friedrich Karl|coautor=Herschel Feibel Grynszpan|título=Der Fall des Herschel Grynszpan|ano=1965|publicado=Akademie-Verl|local=Berlin|língua=de}} ''ISBN Unknown. ASIN B0014NJ88M. Available at [http://hgs.oxfordjournals.org/cgi/reprint/1/2/217.pdf Oxford Journals] (PDF)''
* {{citar livro|autor =Korb, Alexander|título=Reaktionen der deutschen Bevölkerung auf die Novemberpogrome im Spiegel amtlicher Berichte|publicado=VDM|local=Saarbrücken|língua=de|ano=2007
  |ISBN=978-3-8364-4823-9}}
* {{citar livro|autor =Lauber, Heinz|título=Judenpogrom: "Reichskristallnacht" November 1938 in Grossdeutschland : Daten, Fakten, Dokumente, Quellentexte, Thesen und Bewertungen (Aktuelles Taschenbuch)|publicado=Bleicher|língua=de|ano=1981|isbn=3-88350-005-4}}
* {{citar livro|autor =Pätzold, Kurt & Runge, Irene|título=Kristallnacht: Zum Pogrom 1938 (Geschichte)|publicado=Pahl-Rugenstein|local=Köln|ano=1988|língua=de|isbn=3-7609-1233-8}}
* {{citar livro|autor =Pehle, Walter H.|título=Der Judenpogrom 1938: Von der "Reichskristallnacht" zum Volkermord|publicado=Fischer Taschenbuch Verlag|local=Frankfurt am Main|ano=1988|isbn=3-596-24386-6|língua=de}}
* {{citar livro|autor =Schultheis, Herbert|título=Die Reichskristallnacht in Deutschland nach Augenzeugenberichten (Bad Neustadter Beitrage zur Geschichte und Heimatkunde Frankens)|publicado=Rotter Druck und Verlag|local=Bad Neustadt a. d. Saale|ano=1985|isbn=3-9800482-3-3|língua=de}}
{{Refend}}

== Ligações externas ==
{{Commons category|Kristallnacht}}
{{Refbegin|2}}
* {{en}} Hitler 'led henchmen' in Kristallnacht riots, Daily Telegraph, Oct. 21, 2008 [http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/germany/3235356/Hitler-led-henchmen-in-Kristallnacht-riots.html]
* {{en}} Hitler gave the order, Haaretz, Oct. 31, 2008 [http://www.haaretz.com/hasen/spages/1032989.html]
* {{fr}} [https://web.archive.org/web/20081212164857/http://www.jewishtraces.org/rubriques/?keyRubrique=la_nuit_de_cristal - La nuit de cristal ]
* {{fr}} [https://web.archive.org/web/20090717095730/http://www.jewishtraces.org/rubriques/?keyRubrique=Schmuell_grynszpan - le témoignage de Shmuel Grynszpan au procès Eichmann]
* {{en}} [https://web.archive.org/web/20090720034048/http://www.jewishtraces.org/rubriques/?keyRubrique=TheNightofbrokenglasses - The night of broken glasses]
* {{en}} [https://web.archive.org/web/20081212165005/http://www.jewishtraces.org/rubriques/?keyRubrique=the_grynszpans_at_the_eichmann_trial The  Grynszpan's testimony at the Eichmann trial]
* {{citar web|título= Kristallnacht|obra= Holocaust studies|autor = Rabbi Eliahu Ellis & Rabbi Shmuel Silinsky|publicado= Aish.com| url = http://www.aish.com/holocaust/overview/Kristallnacht.asp|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= Germany commemorates Nazi era 'Kristallnacht'|publicado= CNN.com| url = http://edition.cnn.com/WORLD/europe/9811/09/germany.kristallnacht/|data= 1998-11-09|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= November 9/10 1938 – Kristallnacht, The Night of Broken Glass|obra= World War 2 in Europe|publicado= The History Place| url = http://www.historyplace.com/worldwar2/timeline/knacht.htm|ano= 1996|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= What Was Kristallnacht?|obra= THHP Short Essays|publicado= The Holocaust History Project|url= http://www.holocaust-history.org/short-essays/kristallnacht.shtml|data= 2003-11-28|acessodata= 2008-05-20|arquivourl= https://web.archive.org/web/20080511205805/http://www.holocaust-history.org/short-essays/kristallnacht.shtml|arquivodata= 2008-05-11|urlmorta= yes
  }}
* {{citar web|título= Kristallnacht "Night of Crystal"  -  "Night of Broken Glass"|obra= Holocaust Prelude|publicado= Holocaust Education & Archive Research Team| url = http://www.holocaustresearchproject.net/holoprelude/kristallnacht.html|data= 2006–2007|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= Kristallnacht|obra= From Aryanization to Cultural Loss: The Destruction of the Jewish Fashion Industry in Germany and Austria|autor = Frieda Miller, Vancouver Holocaust Education Center|publicado= Center for Holocaust & Genocide Studies, University of Minnesota| url = http://www.chgs.umn.edu/educational/brokenThreads/kristallnacht.html|data= 2008-02-25|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= Sitting at Nuremberg, Germany 29th July to 8th August 1946|obra= The Trial of German Major War Criminals Volume 20|publicado= The Nizkor Project| url = http://www.nizkor.org/hweb/imt/tgmwc/tgmwc-20/tgmwc-20-194-03.shtml|ano= 2006|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= The Eleanor Roosevelt Papers - Kristallnacht|obra= Teaching Eleanor Roosevelt; [[Eleanor Roosevelt]] National Historic Site, Hyde Park, New York|autor = Allida Black, June Hopkins, |numero-autores=et al.|publicado= US National Park Service archive (nps.gov)| url = http://www.nps.gov/archive/elro/glossary/kristallnacht.htm|ano= 2003|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= Kristallnacht: A Nationwide Pogrom, November 9–10, 1938|obra= Holocaust Encyclopedia|publicado= US Holocaust Memorial Museum| url = http://www.ushmm.org/wlc/en/index.php?lang=en&ModuleId=10005201|acessodata= 2008-05-20}}
* {{citar web|título= Kristallnacht: The November 1938 Pogroms|obra= Online exhibitions, special topics|publicado= US Holocaust Memorial Museum|url= http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/kristallnacht_02/|acessodata= 2008-05-20|arquivourl= https://web.archive.org/web/20080517110411/http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/kristallnacht_02/|arquivodata= 2008-05-17|urlmorta= yes
  }}
* {{citar web|título= Kristallnacht|obra= Yad Vashem’s Photo Archives|autor = Yad Vashem|publicado= The Holocaust Martyrs' and Heroes' Remembrance Authority| url = http://www1.yadvashem.org/exhibitions/kristallnacht/kristallnacht_home_photo.html|ano= 2004|acessodata= 2008-05-21}}
* [https://web.archive.org/web/20130903160517/http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/antisemitism/voices/transcript/?content=20080424 ''Voices on Antisemitism'' Interview with Susan Warsinger] from the [http://www.ushmm.org/ United States Holocaust Memorial Museum]
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