Saltar para o conteúdo

Realismo animista

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Realismo animista é uma ideia de gênero literário proposta como específica para as literaturas africanas frente aos conceitos como o realismo fantástico, realismo mágico e realismo maravilhoso. [1]

O termo foi pensado em 1989 pelo escritor angolano Pepetela em seu romance Lueji.[2]

Pesquisadores africanos, como crítico literário nigeriano Henry Garuba e o angolano Henrique Abranches, estudam o tema. Na crítica em língua inglesa, autores como Mark Mathuray entendem o termo para as literaturas africanas anglófonas como "sacred realism".[3]

Já no Brasil, destacam-se trabalhos de Sueli Saraiva (UNILAB), Jane Tutikian (UFRGS), Flávio Garcia (UERJ) e Silvio Ruiz Paradiso (UFGD).

Garuba vê a necessidade de um conceito próprio africano, visto sua também própria concepção de mundo, de morte, de vida e de tempo, tão diferente da qual fora trazida pelo colonizador entre os séculos XV e XIX. Garuba utiliza o termo realismo animista para nomear uma tendência na ficção africana que, para ele, é muito mais ampla que o realismo mágico:

“Se o realismo mágico caracteriza-se por uma tentativa de capturar a realidade através de uma visão multidimensional do mundo, visível e invisível, a lógica animista subverte e desestabiliza a hierarquia da ciência sobre o mágico e a narrativa secular da modernidade, reabsorvendo o tempo histórico nas matrizes do mito e da mágica” [4]

O animismo explica o mundo africano, onde o mundo ‘natural’ convive com o ‘sobrenatural’, sendo ambas as realidades para vários povos africanos, porém, uma visível e a outra não. Logo, nessa perspectiva, a estética literária mais precisa seria o realismo animista. O fato de o termo e de a ideia de realismo animista terem surgidos em África - da África para a África - é um grande diferencial. Além disso, o conceito ressignifica o termo “animista” (bem como suas variações, “anímico” e “animismo”) que, desde Tylor (1871), passando pelas descrições missionárias durante a colonização, foi demonizado e tratado como sinônimo de primitivismo.[5]

Referências

  1. PARADISO, Silvio Ruiz. Religiosidade na literatura africana: a estética do realismo animista. Estação Literária. Londrina, Volume 13, p. 268-281, jan. 2015.[1]
  2. PEPETELA. Lueji, o nascimento de um império. Porto, Portugal: União dos Escritores Angolanos, 1989.
  3. MATHURAY, Mark (2009). On the sacred in African Literature: old god and news worlds. Hampshire [England] ; New York: Palgrave Macmillan 
  4. GARUBA, H. Explorations in Animist Materialism: Notes on Reading/Writing African Literature, Culture and Society. In: Public Culture 15, n. 2, 2003, pp. 261-285.
  5. PARADISO, S. R. Religião e Religiosidade nas Literaturas pós-coloniais africanas: Um olhar em Things Fall Apart, de Achebe e O outro pé da sereia, de Mia Couto. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Londrina: Paraná. Programa de Pós-Graduação em Letras, 2014. 307p.[2]