Saltar para o conteúdo

Canal Meio

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Canal Meio
Canal Meio
Periodicidade De segunda a sexta-feira. Edição para assinantes premium aos sábados.
Formato Digital
Sede Rio de Janeiro
País Brasil
Fundação outubro de 2016 (8 anos)
Fundador(es) Pedro Doria, Vitor Conceição.
Idioma Português
Página oficial Canal Meio

Canal Meio é um boletim informativo (ou newsletter) com um resumo diário de notícias, criado em outubro de 2016 pelo jornalista Pedro Doria e pelo empreendedor na área de Tecnologia e Inovação Vitor Conceição. Circulando de segunda a sexta, sua publicação se insere na tendência mundial de ressurgimento de boletins informativos digitais[1][2] como veículo gratuitos, sem cobrança por acesso nem requisitos de registro (embora em outubro de 2018 o Meio tenha lançado sua versão paga,[3] que incluiu, entre outras benesses, uma newsletter extra, mais abrangente, aos sábados[4]), onde o leitor encontra, de maneira sucinta, as notícias mais importantes do dia.

Desde o fim da primeira década dos anos 2000, os meios de comunicação veem a introdução das novas tecnologias e profundas mudanças no mercado de trabalho para jornalistas. Os grandes veículos passaram a não mais absorver a maior parte dos profissionais, além de dividir espaço com o jornalismo alternativo.[5] De acordo com levantamento da Volt Data Lab,[6] desde 2012 mais de sete mil profissionais foram demitidos de empresas de mídia; destes, mais de dois mil eram jornalistas.

O ano de 2012 foi também o de lançamento da Quartz, publicação exclusivamente digital voltada para o mundo dos negócios e projetada para fornecer conteúdo principalmente para usuários de dispositivos móveis e tablets. Menos de um ano após o lançamento, a audiência da Quartz nos Estados Unidos superou a da The Economist, um de seus principais concorrentes no setor de notícias corporativas, e chegou perto da conquistada pelo Financial Times.[7] No meio dessas drásticas mudanças na maneira de se fazer jornalismo com a chegada dos meios digitais, os boletins informativos começaram a dar voz a profissionais que, escrevendo de maneira pessoal, passaram a atingir o leitor quase que de maneira literária.[8] A jornalista Ann Friedman foi uma das pioneiras: ao ser demitida da revista GOOD também em 2012, fundou, junto com a equipe dispensada e via financiamento coletivo, a revista eletrônica Tomorrow.[9][10] No ano seguinte, criou a sua newsletter, enviando todas as quintas-feiras um boletim que primava pela diversidade de notícias: segundo ela, "minha newsletter está cheia de ótimos textos e links para coisas dos cantos mais distantes da internet".[11]

Com a migração de jornais e revistas para a web, a criação de publicações totalmente digitais e os avanços da tecnologia, as newsletters tornaram-se a melhor representação do jornalismo com curadoria,[12] dando pistas dos caminhos que as mídias digitais tomariam.[13] Tristan Ferne,[14] responsável pela equipe de Serviços de Pesquisa e Futuro da Internet[15] do Laboratório de Notícias da BBC, onde desenvolve e executa projetos que usam tecnologia e design para prever o futuro da mídia, fez uma pesquisa sobre quais os meios, hoje, são usados para veicular digitalmente as notícias. Entre os canais levantados por Ferne,[16][17] as newsletters aparecem como aquele que prima pela agilidade e concisão necessários à divulgação de notícias via celulares, num ressurgimento dentro da chamada web 3.0.[18]

Na migração para o mundo digital, surgiram canais exclusivos para disparo de newsletters, como o The Skimm, segmentados ou não. A grande mídia, por sua vez, investiu no envio de conteúdo diretamente ao leitor como forma de atrair assinantes e fidelizar o consumidor de conteúdo gratuito - o jornal The New York Times, por exemplo, contava com 66 tipos de newsletters[19] no início de 2019.

O Canal Meio apareceu na web em outubro de 2016, contando com apenas quatro editorias (Política, Viver, Cultura e Cotidiano Digital).[20] Em janeiro de 2017, juntaram-se aos fundadores Pedro Doria e Vitor Conceição a jornalista Audrey Furlaneto e a programadora Anne Camille. Audrey deixou o Canal Meio em outubro do mesmo ano, passando a trabalhar no Hysteria (portal feminista da Conspiração Filmes). Em seu lugar, entrou Bárbara Libório, que permaneceu no posto até março de 2019, quando saiu para assumir como editora do portal da revista Época. Claudia Castelo Branco ocupou a vaga aberta, trabalhando também como editora-adjunta.

O boletim informativo do Meio é disparado nas manhãs de segunda a sexta (há uma edição aos sábados apenas para assinaturas pagas) com resumos das matérias produzidas pelos principais veículos de informação do país. Seu tempo de leitura é de oito minutos.[21]

O canal usa cerca de 650 feeds de sites de notícias, manualmente escolhidos e organizados em listas temáticas de acordo com as editorias, totalizando cerca de 5.500 posts ao dia e 17 mil tweets de um painel de cerca de 1.600 perfis de profissionais considerados de referência (jornalistas, acadêmicos, políticos, economistas e especialistas em diversos segmentos).Todo o material é monitorado por um software que segue e organiza informações de diferentes fontes e utiliza algoritmos para filtrar e hierarquizar as notícias.[22]

Além da publicação da newsletter, o Meio ainda oferece:

  • "Painel das Bolhas": os dez assuntos que os dois lados do espectro político do país mais compartilham diariamente.[23]
  • "Programa Pioneiros": canal criado para que os leitores façam recomendações de assuntos e links de notícias.[24]
  • "Monitor": acesso ao software que o Meio usa para ver as notícias de todos os sites em tempo real.[25]

Perfil do leitor do Meio

[editar | editar código-fonte]

Segundo dados de maio de 2019, o Canal Meio conta com 80 mil assinantes, espalhados pelo Brasil e pelo exterior (5.6% do total de leitores, distribuídos por 35 países, incluindo China, Malásia, Eslovênia e Arábia Saudita). Homens são maioria: 52%, contra 48% de mulheres. Os leitores são jovens e adultos (16% têm 24 anos ou menos, 64% estão entre 25 e 44 anos e os outros 20% encontram-se acima dos 45 anos), altamente qualificados (82% tem superior completo ou pós-graduação) e usuários contumazes do WhatsApp - Instagram é a segunda rede mais usada, seguida pelo Youtube, Facebook e Twitter.[26]

Atuação no cenário digital

[editar | editar código-fonte]

Desde seu lançamento, o Meio participa de eventos que debatem o futuro do jornalismo digital[27][28][29][30] [31] e discutem a divulgação de notícias e formas de publicidade com o uso de novas tecnologias da informação.[32][33][34] O veículo foi um dos participantes de um estudo, levado a cabo pela SembraMedia (uma organização sem fins lucrativos dedicada ao crescimento da diversidade de vozes e conteúdo de qualidade em espanhol, ajudando empreendedores de mídia digital se tornarem mais sustentáveis e bem-sucedidos), sobre a formação de "um jornalismo digital de qualidade e independente. Para realizar esta pesquisa, a SembraMedia estudou 100 startups de notícias digitais na Argentina, Colômbia, no Brasil e México".[35]

Dentro da discussão dos novos rumos do jornalismo digital nacional,[36] o Meio já é tema de publicações universitárias[37][38][39] e acadêmicas.[40]

Referências

  1. Tessler, Eduardo (11 de abril de 2018). «O fenômeno das newsletters». Meio & Mensagem. Consultado em 23 de maio de 2019 
  2. Ramos, Giovanni (18 de julho de 2017). «Newsletter: a volta do e-mail como alternativa às redes sociais». Consultado em 23 de maio de 2019 
  3. Pacete, Luiz Gustavo (3 de abril de 2018). «Meio cria formato para marcas e prepara captação». Meio & Mensagem. Consultado em 23 de maio de 2019 
  4. Bacega, Sheila (17 de outubro de 2018). «Meio lança assinatura premium». Portal dos Jornalistas. Consultado em 23 de maio de 2019 
  5. Pacete, Luiz Gustavo (27 de novembro de 2017). «"Apesar da crise, jornalismo se abriu a novos formatos"». Meio & Mensagem. Consultado em 23 de maio de 2019 
  6. «A Conta dos Passaralhos - Um panorama sobre demissões de jornalistas nas redações do Brasil desde 2012». Volt Data Lab. Consultado em 23 de maio de 2019 
  7. Fiegerman, Seth (15 de agosto de 2013). «'Quartz' Passes 'The Economist' in U.S. Web Traffic» (em inglês). Consultado em 23 de maio de 2019 
  8. Goujard, Chothilde (1º de agosto de 2018). «Journalists share insights for successful newsletters» (em inglês). International Journalists' Network. Consultado em 25 de maio de 2019 
  9. Kellog, Carolyn (26 de junho de 2012). «Tomorrow magazine, the next Good thing» (em inglês). Los Angeles Times. Consultado em 25 de maio de 2019 
  10. Coscarelli, Joe (26 de junho de 2012). «Daily Intelligencer: Fired GOOD Staff Raises $20,000 for Tomorrow» (em inglês). Intelligencer. Consultado em 25 de maio de 2019 
  11. «The Ann Friedman Weekly» (Newsletter) (em inglês). Consultado em 25 de maio de 2019 
  12. Bonilla, Angela (16 de abril de 2018). «Newsletters create meaningful connections with news enthusiasts via email» (em inglês). Knight Center for Journalism in the Americas. Consultado em 25 de maio de 2019 
  13. Fagerlund, Charlotte (fevereiro de 2016). «Back to the Future- Email Newsletters as a Digital Channel for Journalism» (PDF) (em inglês). The London School of Economics and Political Science. Consultado em 25 de maio de 2019 
  14. «Tristan Ferne - Lead Producer» (em inglês). Consultado em 23 de maio de 2019 
  15. «BBC Research & Development» (em inglês). Consultado em 23 de maio de 2019 
  16. Ferne, Tristan (26 de setembro de 2017). «Beyond 800 words - New digital story formats for news» (em inglês). Medium. Consultado em 23 de maio de 2019 
  17. Tessler, Eduardo (5 de outubro de 2017). «As 12 formas de apresentar uma notícia». Meio & Mensagem. Consultado em 23 de maio de 2019 
  18. Gamonar, Flavia (28 de outubro de 2016). «A volta dos newsletters e blogs na web 3.0». Consultado em 23 de maio de 2019 
  19. «Sign up for free newsletters and get more of The New York Times delivered to your inbox.» (em inglês). The New York Times. Consultado em 23 de maio de 2019 
  20. Riato, Giovanna (8 de fevereiro de 2017). «Canal Meio: uma startup de jornalismo que quer resolver nada menos do que a desinformação». Draft. Consultado em 23 de maio de 2019 
  21. Leite, Helena; Baldochi, Marina; Brunato, Ingredi; Capelli, Anna; Espir, Giulia, e Saraiva, Maria Laura (30 de agosto de 2018). «O Meio digital de informar». Medium. Consultado em 23 de maio de 2019 
  22. Conceição, Vitor (17 de julho de 2017). «Quer investir em newsletters? Conheça a tecnologia por trás do Meio». IDGNow!. Consultado em 23 de maio de 2019 
  23. «Canal Meio - Painel das Bolhas». Canal Meio. Consultado em 23 de maio de 2019 
  24. «Canal Meio - Programa Pioneiros». Canal Meio. Consultado em 23 de maio de 2019 
  25. «Canal Meio - Monitor». Canal Meio. Consultado em 23 de maio de 2019 
  26. «Quem é o leitor do Meio?». Canal Meio. 17 de maio de 2019. Consultado em 25 de maio de 2019 
  27. Assis, Evandro de (13 de março de 2017). «Cinco tendências do Newsgeist América Latina». Objethos - Observatório da Ética Jornalística. Consultado em 23 de maio de 2019 
  28. Guimarães, Agnes Sofia (1º de julho de 2017). «Newsletters cedem espaço ao jornalismo». Boletim do 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Consultado em 23 de maio de 2019 
  29. Santos, Cecília (3 de novembro de 2017). «Jornalismo em meios digitais: newsletter, checagem e investigação». ESPM-Rio. Consultado em 23 de maio de 2019 
  30. Contreras, Patricio (16 de agosto de 2018). «Once medios digitales para conocer mejor el panorama del periodismo emprendedor brasileño» (em espanhol). Consultado em 23 de maio de 2019 
  31. «Palestrantes Coda.BR 2018». 10 de novembro de 2018. Consultado em 23 de maio de 2019 
  32. Souza, Edney (12 de setembro de 2017). «8 fontes de informação para criar conteúdo para o seu site ou blog». WordPress.com. Consultado em 23 de maio de 2019 
  33. Conceição, Vitor (7 de junho de 2018). «Em busca de um novo modelo de publicidade no jornalismo». LinkedIn. Consultado em 23 de maio de 2019 
  34. «How to choose an original media audience and design a funding formula: Peru and Brazil case studies» (em inglês). Agosto de 2018. Consultado em 23 de maio de 2019 
  35. «Meios nativos digitais». SembraMedia. Setembro de 2017. Consultado em 23 de maio de 2019 
  36. Souza, Vinicius (julho de 2017). «Quem é que vai pagar por isso? - Um olhar sobre os modelos de negócio no Jornalismo em mídias digitais». Jornalistas Livres. Consultado em 23 de maio de 2019 
  37. Bertocchi, Daniela (janeiro de 2017). «Startups de jornalismo: Desafios e possibilidades de inovação». Revista Contemporânea - Universidade Federal da Bahia. Consultado em 23 de maio de 2019 
  38. «Empreendedorismo - Desafie o status quo». Revista Cásper n.21. Maio de 2017. pp. 10–11. Consultado em 23 de maio de 2019 
  39. Esperandio, Daniela (16 de outubro de 2018). «Novas vertentes do Jornalismo no universo digital». Faesa Digital. Consultado em 23 de maio de 2019 
  40. Oliveira, Thaisa Cristina (dezembro de 2017). «Newsletters e curadoria no jornalismo: um estudo de caso do Canal Meio» (PDF). Universidade de Brasília. Consultado em 23 de maio de 2019 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]