Alboácem Alaxari
Alboácem Alaxari | |
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Alboácem Alaxari em caligrafia árabe | |
Nascimento | 873 Baçorá (Califado Abássida) |
Morte | 935 (61–62 anos) Bagdá (Califado Abássida) |
Ocupação | mutacalim, filósofo, mufassir, alfaqui |
Obras destacadas | al-Ibāna, Maqālāt al-islāmīyīn, Istiḥsān al-ḫauḍ fī ʿilm al-kalām, Risālat ilā Ahl al-thaghr, Al-Luma' fi al-Radd 'ala Ahl al-Zaygh wa al-Bida' |
Religião | Islamismo, sunismo |
Alboácem Ali ibne Ismail/Ismael Alaxari[1][2] (em árabe: ابو الحسن علي ابن إسماعيل اﻷشعري, lit. 'Abū al-Hasan Alī ibn Ismā'īl al-Ash'arī'; Baçorá, 874 — Bagdá, 936) foi um estudioso e teólogo shafi'i que fundou a escola de dogmas de fé que leva o seu nome (axari).[3]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Alaxari nasceu em Baçorá,[4] Iraque, um descendente do famoso companheiro de Maomé, Abu Muça Axari.[3] Quando jovem, estudou sob a orientação de al-Jubba'i, um renomado professor da teologia e filosofia mutazilita.[5] Ele permaneceu um mutazilita até seu quadragésimo ano, quando Alaxari viu o profeta Maomé em um sonho três vezes no Ramadã. Maomé disse-lhe para apoiar o que estivesse relacionado a si mesmo, isto é, as tradições (hádices).[6] Após esta experiência, ele abandonou os mutazilitas e tornou-se um de seus adversários mais notáveis, empregando os métodos filosóficos que aprendeu.[4] Alaxari, então, passou os anos restantes de sua vida envolvido no desenvolvimento de seus pontos de vista e na composição de controvérsias e argumentos contra seus ex-colegas mutazilitas. Provavelmente escreveu mais de uma centena de obras, das quais apenas quatro ou cinco são conhecidas por terem sobrevivido ao tempo.[7]
Pensamentos
[editar | editar código-fonte]Depois de abandonar a escola Mu`tazila, Alaxari formulou a teologia do islamismo sunita.[8] Foi seguido em seu intento por um grande número de importantes acadêmicos, a maioria dos quais pertencia à escola Shafi'i de jurisprudência islâmica.[9] Entre os mais famosos estavam: Abul-Hassan Albaili, Abacar Albaquilani, al-Juwayni, Rasis e Algazali. Assim, a escola de Alaxari tornou-se, juntamente com a Maturidi, as principais escolas que refletem as crenças da suna.[9]
Em consonância com a tradição sunita, Alaxari manteve a visão de que um muçulmano não deve ser considerado um incrédulo por conta de um pecado, mesmo que fosse algo grave como beber vinho roubado. Isto era contrário à posição defendida pelos carijitas.[10]
Alaxari também acreditava que não era permitido se opor violentamente a um líder, mesmo que este abertamente desobedecesse aos mandamentos da lei sagrada.[10]
Grande parte das obras de Alaxari registra os seus pontos de vista contrários à escola Mu`tazila. Em particular, ele rejeita seus ex-companheiros por acreditarem que o Alcorão foi criado e que as ações foram feitas por pessoas segundo sua própria vontade.[9] Refutou também a escola Mu`tazila por negar que Alá pode ouvir, ver e falar. Alaxari confirmou todos esses atributos afirmando que eles diferem da audição, visão e fala das criaturas, incluindo o homem.[9]
Legado
[editar | editar código-fonte]O xá Waliullah, um estudioso islâmico sunita do século XVIII declarou:
- Um mujadid surge ao final de cada século: o mujadid do primeiro século foi o imame do Alal Suna, Omar bin Abdul Aziz. O mujadid do segundo século foi o imame do Ahl al-Sunna, Muhammad Idrees Shaafi. O mujadid do terceiro século foi o imame do Alal Suna, Alboácem Alaxari. O mujadid do quarto século foi Abu Abdullah al-Hakim Nishapuri.[11]
Obras
[editar | editar código-fonte]O estudioso axari Ibn Furak contabiliza as obras de Alboácem Alaxari em trezentas, e o biógrafo Ibn Khallikan, em cinquenta e cinco;[12] Ibn Asāker dá os títulos de noventa e três delas, mas somente um punhado dessas obras, nos campos da heresiografia (descrição das heresias) e teologia, chegaram até nossos dias. As três principais são:
- Maqālāt al-islāmīyīn,[13] compreende não apenas uma relação de seitas islâmicas, mas também um exame dos problemas em kalām, ou teologia escolástica, e os nomes e atributos de Alá; a maior parte destes trabalhos, parece ter sido concluída antes de sua conversão dos mu`tazilites.
- Kitāb al-luma[14]
- Kitāb al-ibāna 'an usūl al-diyāna,[15] é de acordo com os seus discípulos uma falsificação[16] atribuída a Alaxari; uma suposta exposição de seus pontos de vista teológicos e argumentos contra as doutrinas mu`tazilites onde ele se retratou de suas crenças anteriores. Contudo, os salafistas geralmente alegam que ela marca o seu último arrependimento e seu retorno às crenças do "salaf". O livro foi supostamente escrito após ele trocar as suas crenças ortodoxas do Ahl al-Sunna pelas crenças heterodoxas antropomórficas após seu encontro com o proscrito sectário al-Hasan ibn 'Ali al-Barbahari e foi principalmente uma tentativa de trazer de volta ao Islã seus antigos seguidores.[17]
Notas
- ↑ Alves, Adalberto (2014). Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Leya. p. 113. ISBN 9722721798
- ↑ Dias 1940, p. 277.
- ↑ a b I.M.N. Al-Jubouri, History of Islamic Philosophy: With View of Greek Philosophy and Early History of Islam, p 182. ISBN 0755210115
- ↑ a b John L. Esposito, The Islamic World: Abbasid-Historian, p 54. ISBN 0195165209
- ↑ Marshall Cavendish Reference, Illustrated Dictionary of the Muslim World, p 87. ISBN 0761479295
- ↑ William Montgomery Watt, Islamic Philosophy and Theology, p 84. ISBN 0202362728
- ↑ I. M. Al-Jubouri, Islamic Thought: From Mohammed to 11 de setembro de 2001, p 177. ISBN 1453595856
- ↑ John L. Esposito, The Oxford History of Islam, p 280. ISBN 0199880417
- ↑ a b c d http://www.arabnews.com/node/211921
- ↑ a b Jeffry R. Halverson, Theology and Creed in Sunni Islam: The Muslim Brotherhood, Ash'arism, and Political Sunnism, p 77. ISBN 0230106587
- ↑ Izalat al-Khafa, p. 77, part 7.
- ↑ Beirut, III, p.286, tr. de Slaine, II, p.228
- ↑ ed. H. Ritter, Istanbul, 1929-30
- ↑ ed. e tr. R.C. McCarthy, Beirut, 1953
- ↑ tr. W.C. Klein, New Haven, 1940
- ↑ «Problems with al-Ibana of Imam al-Ash'ari - by Shaykh Wahbi ibn Sulayman Ghawiji». Darul Tahqiq (em inglês). 11 de março de 2013. Consultado em 30 de julho de 2021
- ↑ Richard M. Frank, Early Islamic Theology: The Mu'tazilites and al-Ash'ari, Texts and studies on the development and history of kalām, vol. 2, pg. 172. Farnham: Ashgate Publishing, 2007. ISBN 9780860789789
Referências
- Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
- Chisholm, Hugh, ed. (1911). «Ash'Arī». Encyclopædia Britannica (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia Britannica, Inc. (atualmente em domínio público)
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Dias, Eduardo (1940). Árabes e muçulmanos. Lisboa: Livraria clássica editora, A. M. Teixeira & c.a.
Ligações externas
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