*Rangel Alves da
Costa
Em muita
coisa eu não acredito. Também não gosto de muita coisa. E não sou de meio
termo, ou sim ou não, e está acabado. Também não me deixo levar pelos outros
nem me conduzir por falsos floreios de modismos ou propagandas. Faço meu
próprio modismo e só me sirvo daquilo que reflita o meu jeito de ser e viver.
Nem luxo nem lixo, mas o comedimento necessário à humildade, à simplicidade, ao
existir para a compreensão e não para a ostentação.
Eu não
conheço nem reconheço pessoas pela fama, status, posses, poderes, brilhos ou
instantâneos. Eu só conheço pessoas pelo que são enquanto seres humanos, e não
pela aparência ou representação social. Não reconheço quem aos outros
desconhece, não reconheço que não avista pessoas, mas tão somente submissos ou
subordinados. Não reconheço quem se protege em escudos e esconde suas mazelas.
Mas conheço o pobre, a pessoa comum, o humilde, aquele qualquer um que por
tantos é desprezado.
Eu não dou
o mínimo valor àqueles que se acham sempre um patamar acima das demais pessoas,
que se sentem sempre como em pedestais, que olham para baixo como se estivessem
em cima das escadas da fama e do reinado da celebridade. Igualmente não comungo
com intelectualismos exacerbados nem com sabedorias forjadas em poucos livros.
Repugnante é toda expressão forjada para que o comum não entenda, é toda
escrita cuja leitura seja incompreensível até mesmo para os idiotas de mesma
monta. Ou a palavra é expressa para ser compreendida ou a inteligência tem de
sair da ignorância.
Eu nunca
acreditei em frases atribuídas a filósofos, soberanos, estudiosos, famosos ou
se já lá quem seja visto como exemplar sabedoria. De vez em quando, surgem
fatos novos transferindo ou modificando as autorais, quando não as negando
totalmente. Comumente surgem afirmações de frases que foram citadas nos leitos
de morte, ditas como últimos suspiros. Ou ainda frases que seriam impossíveis
de serem ditas perante as situações e mesmo registradas por alguém. Quem ouviu
o moribundo e solitário alpinista das geleiras do Everest dizer como últimas
palavras que “A morte é fria demais”?
Eu não
beijarei qualquer boca sem antes perguntar à sua dona se realmente sabe beijar.
Acaso ela avance de boca aberta e lábios ávidos por sugar, então não me servirá.
Acaso ela pense que beijo é sucção, é mordida ou melação, certamente que não me
servirá. Será que tenho de ensinar e dizer que beijo é toque suave, é carinho,
é roçar de lábios, é como um amoroso sussurro? Será que terei de dizer que o beijo
possui asas e faz voar, que é diálogo entre lábios e não mangueira ou aspirador?
Eu não
tiro foto com prato de pouca coisa, com folhinhas e filetes, se o que gosto
mesmo é de comida com farinha, arroz, feijão e carne de panela. Gorda, ainda
por cima. E se possível com uma pimentinha do lado e um caldo num pires para
fazer bolo de feijão com a mão e tascar pra dentro. Comida boa não é aquela de
cardápio grã-fino, de menu impronunciável, de chiqueza e etiquetas. Comida boa
é aquela que faça gostar, saborear com prazer, querer sempre um pouco mais. E
se come bem sem ter de pagar absurdos e levantar da mesa ainda faminto.
Eu não
posto fotografia com fotoshop, todo costurado e remendado, maquiado e alisado,
com pele de anjo e cabelo de seda, se assim não me reconheço. Acaso eu vivesse
escondido e as pessoas jamais confrontassem o que verdadeiramente sou com o que
finjo ser, então tudo bem. Mas quero ser sempre reconhecido e não
irreconhecível. É melhor se mostrar como é e assim ser avistado, sem se iludir
a si mesmo nem querer enganar ninguém. O que é jamais deixará de ser por causa
de uma arrumação fotográfica. O belo sempre estará na autêntica simplicidade.
A vida e o
viver necessitam, assim, de olhares sem disfarces. As realidades não podem ser
fingidas ou maquiadas. Ou a pessoa enfrenta as situações com a sua verdade ou
viverá apenas pelas aparências. Ou, o que é pior, num mundo irreal e alheio a
si mesmo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com