Rasgam as entranhas do meu corpo palestiniano frases e palavras em portugu�s, um idioma que ainda vou aprendendo. Resisto com toda a for�a, s� algumas conseguem escapar. Aperto os l�bios diante da impossibilidade de falar do meu corpo que n�o �, do seu lugar que � nunca. N�o digo a nenhuma alma que n�o distingo o �c� do �l�. Nem que as l�nguas e os desejos acontecem em mim em simult�neo. N�o consigo, n�o consigo, n�o consigo soletrar o nome �rabe de quem morreu ontem em Gaza, nem no dia seguinte. Fecho a boca perante o caminho da hist�ria da minha fam�lia que foi expulsa da sua terra ap�s a cat�strofe palestiniana Nakba, em 1948. Coloco a m�o � frente da minha voz para evitar um erro de portugu�s, enquanto conto uma piada ou at� um sonho de liberdade, mesmo se toda a liberdade. N�o declamo nada. Aguento um golpe atr�s de outro de um verso que me quis abandonar. Mantenho o sil�ncio.
�Este ser� o primeiro livro palestiniano da poesia portuguesa. Ou vice-versa? Shahd Wadi fez de Portugal a sua morada � at� que ir para casa seja poss�vel. Enquanto a Palestina estiver ocupada, o mundo � a Palestina.�
ALEXANDRA LUCAS COELHO