Psicoterapia da forma
A psicoterapia da forma[1] (em alemão: gestalt) ou gestalt-terapia[2] (Não confundir com Psicologia da Gestalt ou Psicologia da forma, uma outra área da psicologia criada por Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção área da psicologia[3]) é uma abordagem psicoterapêutica de base existencial, fenomenológica e humanista, que busca ampliar a consciência do indivíduo sobre si mesmo e sobre suas relações com o mundo. Ela enfatiza a experiência do "aqui e agora", promovendo a autorregulação e o autoconhecimento como formas de possibilitar escolhas autênticas e responsáveis[4].
Fundamentada no pensamento holístico e na teoria organísmica, a Gestalt-terapia compreende o ser humano como uma totalidade indivisível em interação constante com seu ambiente. Dessa forma, o adoecimento psicológico não é visto como uma condição isolada do indivíduo, mas como um processo que emerge da relação organismo-meio.[4]
Influenciada por filósofos como Martin Buber e pelo pensamento de campo de Kurt Lewin, a Gestalt-terapia valoriza o diálogo e a relação terapêutica como elementos essenciais no processo de transformação do paciente. Foi desenvolvido por Fritz Perls, Laura Perls, Ralph Hefferline e Paul Goodman nas décadas de 1940 e 1950, e foi descrito pela primeira vez no livro Gestalt Therapy de 1951.[5]
História
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A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica de base fenomenológica e existencial. Criada pelos psicoterapeutas alemães Friedrich Salomon Perls (Fritz) e Lore Posner Perls (Laura), sua origem está ligada ao contexto político e cultural da Alemanha dos anos 1920. Seu desenvolvimento ocorreu na África do Sul, na década de 1940, e sua consolidação como método terapêutico se deu nos Estados Unidos, em 1951. Nesse período, emergia nos Estados Unidos a chamada "Terceira Força" da psicologia, representada pela Psicologia humanista, que se colocava como alternativa ao Behaviorismo e à Psicanálise. A Gestalt-terapia se alinhava a esse movimento, enfatizando o autoconhecimento, a autorregulação e o crescimento pessoal, considerando o indivíduo como sujeito ativo e responsável por suas escolhas.[6] Os fundamentos teóricos da Gestalt-terapia estão intimamente ligados à trajetória de seus criadores. Entre 1920 e 1933, Fritz Perls obteve seu doutorado em neuropsiquiatria e trabalhou como assistente de Kurt Goldstein, no Instituto para Soldados com Lesão Cerebral. Nesse período, conheceu Laura, que havia concluído seu doutorado em Psicologia da Gestalt[6] (Uma outra área da psicologia cujo nome é muito parecido. Criada por Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção área da psicologia[3]). O casal teve contato com influentes pensadores da Psicologia da Gestalt e do Existencialismo, o que contribuiu para a formação das bases conceituais de sua abordagem terapêutica.[6] Com a ascensão do regime nazista, Fritz e Laura emigraram para a África do Sul em 1934, onde fundaram o Instituto Sul-Africano de Psicanálise. Durante esse período, entraram em contato com Jan Smuts, criador do conceito de Holismo, e publicaram "Ego, Fome e Agressão" (1941-1942), uma obra que antecipava princípios fundamentais da Gestalt-terapia ao integrar influências do Holismo, da Psicologia da Gestalt e da Teoria Organísmica.[6] No pós-guerra, insatisfeitos com o regime do apartheid sul-africano, os Perls se mudaram para Nova York, onde, em 1950, formaram o "Grupo dos Sete", um coletivo dedicado ao desenvolvimento da Gestalt-terapia. No ano seguinte, Fritz Perls, em parceria com Paul Goodman e Ralph Hefferline, publicou a obra Gestalt Therapy, formalizando os princípios teóricos e práticos da abordagem. A partir de então, a Gestalt-terapia se estabeleceu como um método psicoterapêutico independente, influenciando o campo da psicologia clínica e sendo amplamente adotada em diferentes contextos terapêuticos.[6] No Brasil, sua introdução ocorreu na década de 1970, inicialmente em São Paulo, e desde então tem se expandido para diferentes estados. Além de ser ensinada em cursos de graduação em psicologia, também está presente em programas de pós-graduação, consolidando-se como uma das principais abordagens dentro da psicoterapia contemporânea.[6]
No Brasil, a Gestalt-terapia começou a ser conhecida na década de 1970, em um contexto marcado pela ditadura militar e pela repressão. Sua visão de homem e sua forma horizontal de relação despertaram o interesse de um grupo de psicólogos brasileiros, que passou a estudar e promover no país. A primeira publicação da área no Brasil ocorreu em 1976.[4]
Situação atual
[editar | editar código-fonte]Formação de terapeutas
[editar | editar código-fonte]Abordagem pedagógica
[editar | editar código-fonte]Muitas organizações de treinamento em psicoterapia da forma existem em todo o mundo. Ansel Woldt afirmou que o ensino e o treinamento dela são construídos sobre a crença de que as pessoas são, por natureza, buscadoras de saúde. Assim, compromissos como autenticidade, otimismo, holismo, saúde e confiança tornam-se princípios importantes a serem considerados quando envolvidos na atividade de ensino e aprendizagem – especialmente a teoria e a prática da terapia da forma.[7]
Associações
[editar | editar código-fonte]Associação para o Avanço da Gestalt-terapia realiza uma conferência internacional bienal em vários locais — a primeira foi em Nova Orleães, em 1995. As conferências subsequentes foram realizadas em São Francisco, Cleveland, Nova Iorque, Dallas, St. Pete's Beach, Vancouver (Colúmbia Britânica), Manchester (Inglaterra) e Filadélfia. Além disso, realiza conferências regionais e a sua rede regional gerou conferências regionais em Amesterdão, no sudoeste e no sudeste dos Estados Unidos, na Inglaterra e na Austrália. Sua Força-Tarefa de Pesquisa gera e estimula projetos de pesquisa ativos e uma conferência internacional sobre pesquisa.[8]
Associação Europeia de Gestalt-terapia, fundada em 1985 para reunir psicoterapeutas da forma individuais europeus, institutos de formação e associações nacionais de mais de vinte nações europeias.[9]
GANZ - Gestalt Australia & New Zealand foram formalmente estabelecidas na primeira Conferência de Terapia da Forma realizada em Perth em setembro de 1998.[10]
Limitações
[editar | editar código-fonte]Foi demonstrado que a Terapia da Forma não foi projetada nem destinada ao tratamento de adolescentes jovens, especialmente aqueles que manifestam distúrbios psiquiátricos ou comportamentais graves.[11]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Ribeiro, Jorge Ponciano (17 de março de 2021). Gestalt-terapia: refazendo um caminho. [S.l.]: Summus Editorial
- ↑ Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de Letras.
- ↑ a b Bock, Ana (2004). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva. ISBN 8502029002
- ↑ a b c Frazão, Lilian (2013). Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas: 1. [S.l.]: Summus. 184 páginas. ISBN 8532309089
- ↑ Perls, Fritz; Hefferline, Ralph; Goodman, Paul (1951). Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality (em inglês). [S.l.]: The Gestalt Journal Press: New Edition. ISBN 0939266245
- ↑ a b c d e f «Gestalt-terapia». Consultado em 3 de Março de 2025
- ↑ Woldt, A. (2005) Pre-text: Gestalt pedagogy: Creating the field for teaching and learning, in Ansel Woldt & Sarah Toman (eds), Gestalt Therapy, History, Theory, and Practice. London, UK: Sage Publications.
- ↑ «AAGT – Association for the Advancement of Gestalt Therapy». www.aagt.org
- ↑ «EAGT European Association for Gestalt Therapy». www.eagt.org
- ↑ GANZ Gestalt Australia & New Zealand
- ↑ Neill RB (1979). «Gestalt therapy in a social psychiatric setting: the 'oil & water' solution». Adolescence. 14 (56): 775-796
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Perls, F. (1969) Ego, Hunger, and Aggression: The Beginning of Gestalt Therapy. New York, NY: Random House. (originally published in 1942, and re-published in 1947)
- Perls, F. (1969) Gestalt Therapy Verbatim[ligação inativa]. Moab, UT: Real People Press.
- Perls, F., Hefferline, R., & Goodman, P. (1951) Gestalt Therapy: Excitement and growth in the human personality. New York, NY: Julian.
- Perls, F. (1973) The Gestalt Approach & Eye Witness to Therapy. New York, NY: Bantam Books.
- Brownell, P. (2012) Gestalt Therapy for Addictive and Self-Medicating Behaviors. New York, NY: Springer Publishing.
- Levine, T.B-Y. (2011) Gestalt Therapy: Advances in Theory and Practice. New York, NY: Routledge.
- Bloom, D. & Brownell, P. (eds)(2011) Continuity and Change: Gestalt Therapy Now. Newcastle, UK: Cambridge Scholars Publishing
- Mann, D. (2010) Gestalt Therapy: 100 Key Points & Techniques. London & New York: Routledge.
- Truscott, Derek (2010). «Gestalt therapy». Becoming an effective psychotherapist: adopting a theory of psychotherapy that's right for you and your client. Washington, D.C.: American Psychological Association. pp. 83–96. ISBN 978-1-4338-0473-1. OCLC 612728376
- Staemmler, F-M. (2009) Aggression, Time, and Understanding: Contributions to the Evolution of Gestalt Therapy. New York, NY, US: Routledge/Taylor & Francis Group; GestaltPress Book
- Woldt, A. & Toman, S. (2005) "Gestalt Therapy: History, Theory and Practice." Thousand Oaks, CA: Sage Publications.
- Bretz, HJ; Heekerens, HP; Schmitz, B (1994). «Eine Metaanalyse der Wirksamkeit von Gestalttherapie» [A meta-analysis of the effectiveness of gestalt therapy]. Zeitschrift für klinische Psychologie, Psychopathologie und Psychotherapie (em alemão). 42 (3): 241–60. ISSN 0723-6557. PMID 7941644
- Toman, Sarah; Woldt, Ansel, eds. (2005). Gestalt Therapy History, Theory, and Practice pbk. ed. [S.l.]: Gestalt Press. ISBN 0761927913