Manrique Gil de Soverosa
Manrique Gil de Soverosa | |
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Rico-homem/Senhor | |
Meirinho-mor/Adiantado-mor do Reino de Leão | |
Reinado | 1278-1281 |
Antecessor(a) | Rodrigo Rodrigues Osorio |
Sucessor(a) | Rui Fernandes |
Nascimento | Depois de 1213 |
Reino de Portugal | |
Morte | Depois de 1281 |
Reino de Leão e Castela | |
Nome completo | |
Manrique Gil [de Soverosa][1] | |
Cônjuge | Teresa Ramires |
Descendência | Sancha Manriques |
Dinastia | Soverosa |
Pai | Gil Vasques I, Senhor de Soverosa |
Mãe | Sancha Gonçalves de Orvaneja |
Religião | Catolicismo romano |
Brasão |
Manrique Gil de Soverosa (c.1210 - Depois de 1281[2][3]), foi um importante rico-homem português dos meados do século XIII. Como vários seus homólogos, Manrique envolveu-se na guerra que grassou em Portugal entre 1245-47 e que opunha Sancho II de Portugal e o seu irmão, o conde Afonso de Bolonha.
Primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Nascido possivelmente depois de 1213, Manrique era filho de Gil Vasques de Soverosa e da sua segunda esposa, Sancha Gonçalves de Orvaneja[2][3], sendo assim meia-irmão do importante rico-homem e valido de Sancho II de Portugal, Martim Gil de Soverosa[4][5], e irmão do trovador Vasco Gil de Soverosa.
Na corte
[editar | editar código-fonte]Conflitos internos em Portugal
[editar | editar código-fonte]O papel dos Soverosas começa a ganhar especial relevância precisamente entre as décadas de 30 e 40, quando Martim Gil começou a deter uma grande influência na cúria[5]. Tendo em conta que o meio-irmão fora o braço-direito de Sancho II de Portugal, Manrique toma o partido do monarca, tornando-se num dos ricos-homens que se opuseram ao partido do conde Afonso de Bolonha, no conflito de 1245. Em dezembro de 1247[6], Manrique participa na doação que Martim Gil faz, com todos os seus irmãos, com exceção de Fernão e Guiomar Gil, de bens paternos, sitos em Amarante, a Gonçalo Gil, seu meio-irmão[7][5].
Exílio
[editar | editar código-fonte]O conde de Bolonha declarou-se vencedor do conflito em 1247, e Sancho, que Manrique apoiava, e que havia sido deposto por uma bula do Papa Inocêncio IV, sai definitivamente de Portugal e refugia-se em Toledo, Reino de Castela, onde falece no ano seguinte. Manrique, bem como os seus irmãos, o valido Martim Gil, João e Vasco Gil, acompanham, assim, o deposto monarca para o exílio em Castela[8].
Os irmãos participaram na tomada de Sevilha de 1248, junto a muitos outros aristocratas (de entre os quais vários portugueses[8]), e surge entre os recompensados, em 1253, por Fernando III de Leão e Castela com herdades na cidade (Repartimientos). Manrique recebeu uma doação composta de sessenta arançadas e oito jugadas, no termo de Tejada[2]. Juntamente com o seu meio-irmão João Gil de Soverosa, integrou o conjunto de vinte e seis nobres portugueses que participaram também na conquista de Guadalquivir[6].
A estadia em Castela foi importante para vários membros da família: o seu irmão Vasco, além de ter contactado com a cultura trovadoresca[9]fez também casamentos vanatajosos: a filha, Sancha Vasques de Soverosa, com o magnate Fernão Fernandes de Lima, filho de Fernão Anes de Lima e Teresa Anes da Maia. O casamento do filho deste, Gil Vasques II de Soverosa com Aldonça Anes da Maia, neta de Martim Pires da Maia e prima direita do noivo de Sancha, pode ter sido também concertado nesse período[10]. Os seus irmãos Martim e Teresa produziam algumas alianças que prometiam sucesso: a sua sobrinha, Sancha Afonso de Leão, filha bastarda de Teresa Gil de Soverosa e Afonso IX de Leão, desposava Simão Rodrigues dos Cameros, irmão da deposta rainha Mécia Lopes de Haro; uma outra sua sobrinha, Teresa, filha de Martim Gil de Soverosa, desposava Rodrigo Anes de Meneses, filho de João Afonso de Albuquerque e Berengária Gonçalves Girão.
Sabe-se que tanto João Gil, que terá acompanhado o séquito da infanta Beatriz, sua sobrinha, quando esta se deslocou para Portugal em 1253 para desposar o então rei Afonso III de Portugal[11], e Vasco, que se encontraria em Portugal em 1258[12], acabaram por regressar ao reino português. Não é o caso, contudo de Manrique e do seu meio-irmão Martim Gil, por seu turno, parecem ter-se mantido por terras castelhanas. Martim encontra-se ainda em Castela em 1259, a presenciar, em Toledo, a investidura de Frederico III da Lorena.[13].
Vida em Castela
[editar | editar código-fonte]Sabe-se que Manrique mantinha as suas propriedades portuguesas, apesar de não ter regressado a Portugal, como consta nas Inquirições Gerais de 1258[14]. Casou possivelmente com a leonesa Teresa Ramires, entre o final da década de 50 e o início da de 60 do século, fortalecendo os laços entre as famílias de Soverosa e Girão, uma vez que Teresa era sobrinha da sua madrasta, Maria Gonçalves Girão, terceira mulher do seu pai[14]. Não parecem ter tido filhos, uma vez que Teresa, no seu testamento redigido em 1276, não menciona nem o esposo nem qualquer descendente.
Desconhece-se a posição que terá tomado durante a revolta nobiliárquica que sacudiu o reino em 1272, embora, numa carta datada desse mesmo ano, se relatem os danos de Manrique Gil ao Mosteiro de Lorenzana, onde expulsou os monges e lhes arrebatou as propriedades que detinham. Afonso X de Leão e Castela protegeu os monges, ordenando a Manrique que lhes devolvesse os bens retirados[15]. No entanto, o monarca, em janeiro de 1278, entrega a Manrique o cargo de Adiantado-mor (ou Meirinho-mor) do Reino de Leão e das Astúrias, que mantém, pelo menos, até ao ano seguinte, embora a posse do cargo se possa estender até 1281. Em outubro de 1278 recebeu a tenência de Torres de León.
Desconhece-se a data de morte de Manrique, mas deverá ter sido posterior a 1281. Quando Dinis I de Portugal media a partição dos bens de Manrique Gil, em 1289, apresentam-se como seus herdeiros os sobrinhos, Martim Anes de Soverosa e Guiomar Gil II de Soverosa[16].
Matrimónio e descendência
[editar | editar código-fonte]Manrique desposou, entre o final da década de 50 e início da de 60 do século XIII, Teresa Ramires (m. c. 1276), filha de Ramiro Froilaz e sobrinha de Maria Gonçalves Girão, terceira mulher do seu pai[14]. Não parece ter havido descendência deste matrimónio, mas sabe-se que, através do patronímico e das posses detidas, que Manrique teve pelo menos uma filha, provavelmente bastarda:
- Sancha Manriques de Soverosa (m. depois de 1296), referida nas partições testamentárias do seu primo Martim Anes de Soverosa, feitas nesse ano de 1296[16]. Provavelmente era menor na partição de 1289, não paracendo, por isso, na lista dos herdeiros[16].
Referências
- ↑ O epíteto de Soverosa é uma designação posterior dada aos membros desta linhagem, uma vez que nenhum deles é é mencionado por fontes contemporâneas com este apelido. Cf. Calderón Medina, 2018, p.209
- ↑ a b c Calderón Medina 2018, p. 164.
- ↑ a b Sottomayor-Pizarro 1997, p. 813-14.
- ↑ David 1986, p. 67.
- ↑ a b c Sottomayor-Pizarro 1997, p. 809.
- ↑ a b Calderón Medina 2018, p. 173.
- ↑ Calderón Medina 2018, p. 143.
- ↑ a b David 1986, p. 62.
- ↑ Vasco Gil de Soverosa - Cantigas
- ↑ Calderón Medina 2018, p. 162.
- ↑ Calderón Medina 2018, p. 174.
- ↑ Calderón Medina 2018, p. 163.
- ↑ David & Sottomayor-Pizarro 1986, p. 141–142.
- ↑ a b c Calderón Medina 2018, p. 165.
- ↑ Calderón Medina 2018, p. 165-166.
- ↑ a b c Sottomayor-Pizarro 1997, p. 811.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Calderón Medina, Inés (2018). Los Soverosa - Una parentela entre tres reinos - Poder y parentesco en la Edad Media hispana (ss.XI-XIII). Valladolid: Universidad de Valladolid
- Correia, Francisco Carvalho (2008). O Mosteiro de Santo Tirso, de 978 a 1588: A silhueta de uma entidade projectada no chao de uma história milenária. Santiago de Compostela: Tese de doutoramento. Facultade de Xeografía e História. Universidade de Santiago de Compostela. ISBN 978-8498-8703-81
- David, Henrique; Sottomayor-Pizarro, José Augusto P. (1990). «Nobres Portugueses em Leão e Castela (Século XIII)». Actas de las II Jornadas de Historia sobre Andalucía y el Algarve (Siglos XIII-XVIII), La Rábida, 24-26 abril, 1986 (PDF). Sevilha: Departamento de Historia Medieval, Universidad de Sevilla. pp. 135–150. ISBN 8487165125
- David, Henrique (1986). «Os portugueses nos livros de Repartimiento da Andaluzia (século XIII)» (PDF). Universidade de Oporto. Revista da Faculdade de Letras. Historia (3): 51-. OCLC 770912493
- Salazar y Acha, Jaime de (1989). «Los descendientes del conde Ero Fernández, fundador de Monasterio de Santa María de Ferreira de Pallares». El Museo de Pontevedra (em espanhol) (43): 67-86. ISSN 0210-7791
- Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325. Porto: Tese de Doutoramento, Edicão do Autor