Saltar para o conteúdo

Plano Cohen

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Plano Cohen foi uma conspiração elaborada por militares brasileiros[1] com a intenção de simular uma revolução "judaico-comunista" no Brasil. A suposta conspiração foi atribuída à Internacional Comunista e usada por Getúlio Vargas[2][3] como instrumento político no golpe de estado de 1937 e na ditadura do Estado Novo.[4][5][6][7]

Origens

À época capitão do exército brasileiro, Olímpio Mourão Filho foi o articulador do Plano Cohen

O plano foi elaborado pelo então capitão e futuro general do exército brasileiro, Olímpio Mourão Filho. Ele era o chefe do estado-maior da milícia da Ação Integralista Brasileira e também o chefe de seu serviço secreto.[5] Embora tenha sido usado politicamente como sendo fruto de uma conspiração comunista, seu conteúdo refere-se mais especificamente a uma conspiração judaico-comunista, incluindo elementos típicos do antissemitismo da época e uma série de traços em comum com outros documentos forjados com intenções semelhantes, como Os Protocolos dos Sábios de Sião.[4][8]

O Golpe de 1937

Getúlio Vargas ao lado de Góes Monteiro (em pé)

No dia 30 de setembro] de 1937, o general Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, noticiou através do programa radiofônico Hora do Brasil, a descoberta de um plano cujo objetivo era derrubar o presidente Getúlio Vargas. Segundo o general, o Plano Cohen, como passou a ser chamado, tinha sido arquitetado em conjunto pelo Partido Comunista Brasileiro e por organizações comunistas internacionais. O nome "Cohen" foi dado em referência ao líder comunista Bela Cohen, que governara a Hungria entre março e julho de 1919.[4][5][9]

Pouco tempo depois, com o apoio de várias lideranças nacionais, Getúlio autorizou o Exército a cercar o Congresso Nacional, no Rio de Janeiro. À noite, em pronunciamento ao país, o presidente anunciou a outorga da nova Constituição. Começava assim, o período ditatorial de Vargas conhecido como Estado Novo.[4][5]

Ver também

Referências

  1. McCann, Frank D. (2009). Soldados da pátria : história do exército brasileiro (1889-1937). São Paulo: Companhia das Letras - Biblioteca do Exército. p. 525. OCLC 754223150. O certo é que, mais uma vez, estimulou-se um significativo envolvimento do Exército na política com base, ao menos parcialmente, em mentiras. Em 1889, fora a mentira de que o governo imperial dissolveria o Exército e prenderia Deodoro e Benjamin Constant; em 1922, foi a carta forjada na qual o presidente Bernardes supostamente insultara o exército; e agora, em 1937, era o pretenso Plano Cohen dos comunistas. Se não havia uma conspiração comunista que exigia uma reação militar salvacionista para proteger o Brasil, por que os generais apoiaram o golpe de 10 de novembro de 1937. 
  2. Schwarcz, Lilia Moritz; Starling, Heloisa Maria Murgel (2015). Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras. OCLC 910721715. Para justificar o combate ao seu maior inimigo, Vargas forjou acusações a rodo. No dia 30 de setembro de 1937, o país foi sacudido pela denúncia, publicada pela imprensa, da existência de preparativos para um novo levante orientado por Moscou. O Exército havia capturado um minucioso programa secreto de tomada do poder — o Plano Cohen —, repleto de instruções atemorizantes: incêndio de prédios públicos, saques, fuzilamentos sumários de civis. O documento tinha nome judaico e era falso. Foi escrito pelo então coronel Olympio Mourão Filho, organizador da milícia paramilitar da AIB, responsável pelo serviço secreto integralista e lotado no setor de inteligência do Estado-Maior do Exército. O general Góes Monteiro recebeu a papelada produzida por Mourão, tratou-a como autêntica e a encaminhou a Vargas. Ato contínuo, o documento foi tornado público. 
  3. Fausto, Boris (2015). História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp. p. 199. OCLC 1020492242. Ao longo de 1937, para aparar possíveis dificuldades regionais, o governo interveio em alguns estados e no Distrito Federal. Faltava porém um pretexto para acender o clima golpista. Ele apareceu com o Plano Cohen cuja verdadeira história tem muitos aspectos obscuros. 
  4. a b c d Motta, Rodrigo Patto Sá (1998). «O mito da conspiração judaico-comunista». Revista de História (138): 93-105. doi:10.11606/issn.2316-9141.v0i138p93-105. O “Plano Cohen” é um exemplo eloqüente de como foi forte a influência do anti-semitismo no Brasil da década de 1930. Tratava-se de um suposto plano comunista para a conquista do poder, “descoberto” pelo Exército às vésperas do golpe de 1937 e utilizado para legitimar a implantação da ditadura estadonovista, apresentada como necessária para a defesa contra o perigo comunista. Na verdade, o documento foi redigido pelo então capitão Olímpio Mourão Filho, que acumulava as funções de oficial do Estado-Maior do Exército e chefe do serviço de informações da AIB. 
  5. a b c d Mezzaroba, Orides (1992). «Plano Cohen: a consolidação do anticomunismo no Brasil». Seqüência: Estudos Jurídicos e Políticos. 24 (13): 92-101 
  6. Bevins, Story by Vincent. «Where Conspiracy Reigns». The Atlantic. ISSN 1072-7825. Consultado em 26 de dezembro de 2020. Two years later, right-wing forces came up with another fake conspiracy, one that would stoke paranoia for decades. Plano Cohen, or the “Cohen Plan,” was, supposedly, a dastardly Jewish-Communist plot to overthrow the government. It was a forgery, drawn up by the fascist General Olímpio Mourão Filho. But it was presented—and covered by the press—as if it were real, and Vargas used the invented crisis as justification to carry out a new coup and launch a full-fledged dictatorship. 
  7. Rodrigo Patto Sá Motta (2000), Em guarda contra o "perigo vermelho": o anticomunismo no Brasil (1917-1964), São Paulo: Universidade de São Paulo, Wikidata Q104522480, Quando o governo anunciou a “descoberta” do Plano Cohen, no início de outubro de 1937, os integralistas exultaram de contentamento. Os fatos estariam lhes dando razão, já que vinham denunciando a iminência do “perigo” há meses. Evidentemente, trataram de explorar propagandisticamente a questão, principalmente em proveito da imagem do seu líder (“O Brasil deu razão a Plinio Salgado”), que desde agosto vinha falando na existência de uma grande trama comunista em preparação. Aqui temos um caso interessante de profecia auto realizada, dado o envolvimento de militantes integralistas na elaboração do Plano Cohen. 
  8. Doria, Pedro (2020). Fascismo à brasileira : como o integralismo, maior movimento de extrema-direita da história do país, se formou e o que ele ilumina sobre o bolsonarismo. São Paulo: Planeta. OCLC 1202075679. Nas décadas seguintes, cada pessoa que teve algo a ver com a fraude deu uma ou mais versões diferentes sobre como ocorreu. Em comum a maioria dos testemunhos dão conta de que, após mostrar o documento a Plínio, Mourão Filho também o mostrou ao general Álvaro Mariante, seu padrinho de casamento e conselheiro, ministro do Superior Tribunal Militar. “Dez horas da noite, na porta do elevador, encontrou Mariante, que disse: ‘Ô mineiro, me dá aquele teu trabalho aí que eu vou mostrar ao Góis’”, lembrou um amigo de Mourão. O general morava no mesmo prédio, entre os bairros de Copacabana e Ipanema, que Góis Monteiro – e mostrou o plano ao comandante do Estado-Maior do Exército. Justamente o comandante de Mourão Filho. E foi assim que o Plano Cohen terminou sobre uma mesa, na reunião entre Góis Monteiro, Dutra e Müller. De lá, para a mesa do presidente da República. “Ninguém ignora que se tratava de solerte utilização para fins políticos, de um documento que havia sido escrito apenas como peça integrante de um exercício”, lembraria mal-humorado Miguel Reale. 
  9. Doria, 2020. "Olímpio Mourão Filho de primeira assinou o documento “Béla Kun”. Mas aí se lembrou de que Kun era não mais que a transliteração da palavra em hebraico que designava os sacerdotes, Cohen. Com um lápis, rasurou o “Kun” e, à mão, pôs “Cohen”. Queria deixar mais óbvio o raciocínio para quem o lesse. Quando passou a uma datilógrafa o trabalho, a moça não entendeu a rasura e, assim, em vez de “Béla Cohen” limitou-se a firmar com o sobrenome. Aquelas páginas entrariam para a história como Plano Cohen."

Bibliografia