Educação feminina ao longo da história

Educação feminina ao longo da historia é um termo que abrange um complexo de temas, questões e debates em torno da educação para as mulheres. Entre estes temas estão o acesso à educação, além das questões que envolvem a educação segregada e a educação religiosa, educação formal, e educação informal.A discussão é bastante ampla, e não fica restrita a termos estreitos de referência.[1]
Roma antiga
Na Roma antiga o acesso a educação das mulheres assim como dos homens dependia da classe social a qual pertencia. As mulheres e os homens tinham acesso a educação primaria, as garotas de classe social alta podiam ter acesso a um tutor particular, geralmente um escravo de origem grega ou romana, mas tambem podia ser um parente como no caso de Perilla, que foi ensinada na arte da poesia por seu pai o celebre poeta Ovidio,[2] e Hortencia que foi ensinada na arte da retorica e oratoria gregas, por seu pai o celebre orador romano Hortencio Hortalus, as mulheres que nasciam em uma classe social menor podiam desfrutar de aulas publicas, em classes mistas assim como ocorre hoje em dia.[3]
Na Roma antiga ao contrario do que se imagina, o letramento ou seja ser alfabetizado(a) era visto como uma qualidade admirável, tanto para os homens quanto para as mulheres, podemos notar isso claramente nos afrescos da roma antiga que sobreviveram aos dias de hoje e representam mulheres e homens segurando objetos que indicavam o letramento, esses objetos podiam ser um Papiro, um Tablete de argila ou outros.
Grécia antiga

Na Grécia antiga, as meninas também tinham a oportunidade de ter acesso a algum tipo de educação, sabemos que algumas mulheres principalmente da elite, foram incentivadas por seus pais a se dedicar aos estudos, embora as mesmas preferissem se dedicar a outros assuntos. Algumas escolas filosóficas, permitiam a participação de mulheres como observadoras, alunas e até professoras, um exemplo disso são as academias de Cirene, de Atenas e a escola filosófica do pesador Estilpo, Segundo Ateneo de Naucratis, mulheres famosas do século IV a.C como as hetaira Glícera e Nicarete de Megara, foram discípulas do filosofo grego Estilpo, cuja academia era aberta a participação de mulheres.[4]
Alem de Hetairas, encontramos mulheres atuando como Filosofas, Professoras, Poetisas, Escribas, e outras áreas, que demandavam ter uma instrução educacional mais elevada.
A exemplo disso temos a filosofa Areta de Cirene, ainda criança seu talento para a filosofia foi incentivado por Aristipo seu pai que era discípulo de Platão, ela teve acesso a melhor educação de sua época tendo contato com alguns dos filósofos mais importantes do século IV a.C. Quando adulta ela passou a dar aulas de retorica e oratória na academia de Atenas, e depois assumi a liderança da academia filosofia de Cirene que tinha sido fundada por seu pai, o respeito que os antigos gregos tinham por ela era tão grande que pelo menos 120 filósofos se orgulhavam de terem sido seus discípulos.[5]
A filosofa Fintis de Esparta, escreveu um tratado sobre a maneira que as mulheres deveriam se comportar, foi aluna da academia Pitagórica, nesse tratado entre vários temas, ela afirma que existem papeis sociais que só cabem aos homens, assim como papeis sociais que cabem apenas as mulheres, porem a educação era algo que cabia a ambos os sexos.
Varias foram poetisas, mas entre elas podemos destacar : Telessila de Argos, Mirtis de Antedônia, Corine de Tanagra, Erina de Teos, Boeo de Delos, Anita de Tegea, entre outras.
Europa renascentista
O iluminismo, movimento cultural que nasce na Europa durante a Modernidade, rompe com a maneira de se pensar e traz novas ideias sobre liberdade e intelectualidade. Os iluministas possuíam varias formas de refletir sobre o status quo e o que deveria ser mudado na sociedade, porém o progresso do homem e da humanidade era uma base comum a todos.[6]
No Humanismo, diversos pensadores humanistas como Juan Luis Vives, Agricola e a filosofa Laura Cereta por exemplo, defendiam que as mulheres deveriam receber uma boa educação, lembrando que nesta época a maioria das pessoas independente do sexo não tinham acesso a educação formal.

Mary Wollstonecraft e o modelo educacional feminino
Mary Wollstonecraft e outras filósofas iluministas propunham que todas as mulheres fossem educadas em um novo modelo, prezando a intelectualidade ao invés da futilidade das prendas de salão. Wollstonecraft argumenta que a diferença de natureza que os homens viam nas mulheres era consequência da negligência com a educação feminina e, portanto, algo alheio a condição feminina. Para que as mulheres pudessem exercer seus papeis sociais perfeitamente, elas deveriam ser racionais e, por isso, a educação feminina era uma necessidade da sociedade de forma geral e não das mulheres em especial. A necessidade das mulheres terem educação de qualidade era uma questão social, argumentava Wollstonecraft.
As mulheres eram cobradas pela sociedade para serem boas mães e esposas, respeitáveis, virtuosas e que seguissem a moral. Porém, para Wollstonecraft a ideia de moralidade não existia sem uma boa e efetiva educação, que permita a autonomia do pensamento. O papel social de progenitora também era visto com importância no século XVIII porque a mãe formaria cidadãos aptos e servidores da nação. Nesse sentido, a mulher “deveria dar o máximo de si na tarefa de gerar e criar os filhos, pois só assim conseguiria cumprir o seu papel de cidadã. Portanto, não bastava gerar filhos, era preciso ser educadora e dirigente moral da sociedade".[7] Quanto a essa questão, Wollstonecraft parece considerar o mesmo, porém com o acréscimo de que para que essa função feminina fosse perfeitamente realizada, a educação feminina deveria ser levada com seriedade:
"A humanidade parece concordar que as crianças deveriam ser deixadas sob os cuidados das mulheres durante a infância. Agora, por todas as observações que pude fazer, as mulheres de sensibilidade são as menos adequadas para essa tarefa, porque elas infalivelmente se deixarão levar por seus sentimentos e estragarão o temperamento da criança".[8]
Educação feminina no Brasil
No Brasil a primeira lei que garante a obrigatoriedade do ensino para as mulheres, foi criada durante o periodo Impérial e data de 15 de Outubro de 1827, [9]o que contraria a ideia equivocada de que a educação das mulheres seria uma conquista feminista, pois esta lei foi criada mais de um século antes do movimento feminista surgir, fruto dos anseios da sociedade brasileira e promulgada pelo imperador Dom Pedro I,[10] ela garantia a criação de escolas de primeiras letras em todo o império, alem da criação de escolas para meninas, garantia que também as mulheres deveriam ser professoras para ensinar nessas escolas, assim como os homens, essas professoras segundo a lei ganhariam o mesmo salario que os professores homens. sendo necessário ressaltar que ela também foi a primeira lei genuinamente brasileira que garantia o obrigatoriedade de ensino para os meninos, antes disso a educação tanto dos meninos quanto das meninas se dava por meio de professores(as) ou tutores particulares contratados pelos pais para dar aulas para seus filhos e filhas, algo que era mais comum entre a elite, estes professores e professoras recebiam respectivamente os títulos de mestre de meninos ou de meninas. A partir de 1879
Referências
- ↑ Brent 2006, p. 491-503.
- ↑ O Instituto: revista scientifica e literária. [S.l.: s.n.] 1854
- ↑ Ortigao 1873, p. 51-94.
- ↑ Athenaeus, Deipnosophistae. Livro XIII
- ↑ João), São Pedro (frei (1736). Theatro heroino: abcedario historico, e catalogo das mulheres illustres em armas, letras acc̜oens heroicas, e artes liberaes : offerecido a' serenissima senhora d. Marianna de Austria, rainha de Portugal. [S.l.]: Na Officina da Musica de Theotonio Antunes Lima, Impressor da Sagrada Religiaõ de Malta
- ↑ Gomes 2011.
- ↑ Ferraz 2016.
- ↑ Wollstonecraft 2016.
- ↑ Brazil (1878). Coleção das leis. [S.l.]: Imprensa Nacional
- ↑ Constituição política do Império do Brasil seguida do acto addicional, da lei da sua interpretação e de outras, analysada por um jurisconsulto e novamente annotada com as leis regulamentares, decretos, avisos, ordens, e portarias que lhe são relativas. [S.l.]: E. & H. Laemmert. 1863
Bibliografia
- Brent, Robert (2006). «Does female education prevent the spread of HIV-AIDS in Sub-Saharan Africa?». Applied Economics. 38 (5): 491-503
- Ferraz, Ana Paula (2016). «A construção do ideal feminino: processos e consequências». Anais do Congresso Latino-Americano de gênero e religião
- Gomes, Anderson (2011). «Mulheres, sociedade e iluminismo: o surgimento de uma filosofia protofeminista na Inglaterra do século XVIII». Matraga. 18 (29): 31-51
- Miranda, Anadir (2010). Mary Wollstonecraft e a reflexão sobre os limites do pensamento liberal e democrático a respeito dos direitos femininos (1759-1797) (PDF) (Dissertação de mestrado). Paraná. Expediente: Universidade Federal do Paraná
- Ortigao, Jose Duarte Ramalho (1873). As Farpas: chronica mensal de politica, das letras e dos costumes, Volumes 20-26. [S.l.]: Typographia universal de T. Quintino Antunes. p. 51. 94 páginas
- Wollstonecraft, Mary (2016). Reinvindicações dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo</ref>