Três Princípios do Povo

filosofia política desenvolvida por Sun Yat-sen

Os Três Princípios do Povo (chinês tradicional: 三民主義; chinês simplificado: 三民主义; pinyin: Sān Mín Zhǔyì), também conhecido como Doutrina San-min ou ainda, Tridemismo[1], é uma filosofia política de cunho socialista desenvolvida por Sun Yat-sen como parte de uma filosofia para fazer, inicialmente, a China uma livre, próspera e poderosa nação. O pensamento evoluiu após a morte de Sun Yat-sen, se espalhando em menor escala para outras nações em forma de pequenos movimentos ou grupos políticos. Os três princípios são, muitas vezes, resumidos como nacionalismo, democracia e bem-estar do povo. O Tridemismo também possuí como vertente o Maoísmo, sendo que, dentro do pensamento Mao Zedong, existe ainda os Novos Três Princípios do Povo, criado a partir da visão de Mao sobre o pensamento tridemista durante a Guerra Civil Chinesa e a Revolução Cultural.[2] Sua influência e legado de implementação é mais aparente no governo da República da China, que atualmente administra Taiwan, Penghu, Kinmen e as ilhas Matsu. Essa filosofia também é considerada como peça fundamental na política da República da China pelo Kuomintang. Os princípios também aparecem na primeira linha do Hino Nacional da República da China.

Origem

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O conceito apareceu pela primeira vez no jornal Ming Bao em 1905 como "Três Grandes Princípios" (三大主義) ao invés de "Três Princípios do Povo" (三民主義).

Em 1894, quando a Sociedade para a Regeneração Chinesa foi formada, Sun Yat-sen havia criado somente dois princípios: nacionalismo e democracia. Ele não havia desenvolvido o terceiro princípio, bem-estar social, até sua viagem de três anos para a Europa (1896–1898).[3] Ele não anunciou suas idéias até à primavera de 1905, quando estava na Europa novamente. Sun estava em Bruxelas quando fez seu primeiro discurso sobre os "Três Princípios do Povo".[4] Sun foi capaz de organizar em muitas cidades a Sociedade para a Regeneração Chinesa. Havendo cerca de 30 membros em Bruxelas, 20 em Berlim e 10 em Paris.[4] Depois que Tongmenghui foi formado, Sun publicou no editorial Min Bao (民報).[3] Esta foi a primeira vez em que suas ideias foram expostas. Mais tarde, na edição de aniversário da Min Bao, seu longo discurso sobre os três princípios foram impressos.[3]

 
Sun Yat-sen, o criador dos Três Princípios do Povo.

Acredita-se que a ideologia é fortemente baseada nas experiências de Sun nos Estados Unidos e contém elementos do movimento progressista americano e a linha de pensamento do Discurso de Gettysburg de Abraham Lincoln, "governo do povo, pelo povo, para o povo", servindo como inspiração para os Três Princípios.[4] Os Três Princípios do Povo de Sun Yat-sen é como uma extensão do guia para a modernização da China, desenvolvido por Hu Hanmin.[5]

Ideologia

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Mínzú (Nacionalismo)

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 Ver artigo principal: Nacionalismo

O princípio Mínzú (民族主義, Mínzú Zhǔyì) é comumente referido como "Nacionalismo", literalmente "Populismo" ou "Governo do Povo". Sun Yat-sen se refere à independência do domínio imperialista. Para alcançar isso Sun acreditou que a China deveria desenvolver o "nacionalismo chinês", Zhonghua Minzu, em oposição a um "nacionalismo étnico", então unindo todas as diferentes etnias da China, composta principalmente por cinco grupos étnicos majoritários, sendo eles os Han, Mongóis, Tibetanos, Manchus e os Uigures, que juntos são simbolizados pela Bandeira das Cinco Cores da Primeira República (1911–1928). Este sentimento de nacionalismo é diferente da ideia de "etnocentrismo", que equivale ao mesmo significado de nacionalismo na língua chinesa. Sun argumenta que "minzu", que pode ser traduzido como "povo", "nação" ou "raça", é definida através da partilha comum de sangue, modo de vida, religião, língua e costumes.

Mínquán (Democracia)

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O princípio Mínquán (民權主義, Mínquán Zhǔyì) é comumente referido como "Democracia", literalmente "O Poder do Povo" ou "Governado pelo Povo". Para Sun, é representado pelo governo constitucional do ocidente. Ele dividiu a política de sua China ideal em dois 'poderes': o poder da política e o poder do governo.

O poder da política (政權, zhèngquán) são os poderes do povo para expressar seus desejos políticos, semelhante aos parlamentos de outros países, e representados pela Assembleia Nacional. Há quatro desses poderes: eleição (選舉), recall (罷免), iniciativa popular (創制) e referendo (複決). Esses poderes podem ser equiparados aos "direitos políticos".

O poder do governo (治權, zhìquán) são os poderes da administração. Sun expandiu a teoria constitucional euro-americana de um governo de três ramos e o sistema de pesos e contrapesos incorporando a tradição administrativa chinesa para criar um governo de cinco ramos, sendo cada um deles chamados de Yuan (院, yuàn, literalmente "corte"). O Yuan Legislativo, o Yuan Executivo e o Yuan Judiciário provém da teoria de Montesquieu, enquanto o Yuan de Controle e o Yuan de Exames provém da tradição chinesa. (O Yuan Legislativo foi inicialmente concebido como um ramo do governo, não como um parlamento).

Mínshēng (Bem-estar social ou Subsistência)

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 Ver artigo principal: Princípio de Subsistência

O princípio Mínshēng (民生主義, Mínshēng Zhǔyì) é comumente referido como "O Bem-estar do Povo" ou "Governo para o Povo". O conceito pode ser entendido como o bem-estar social da população e como uma crítica direta às imperfeições tanto do socialismo quanto do capitalismo. Neste princípio Sun foi influenciado pelo pensador americano Henry George, assim planejando implantar uma reforma tributária georgista.[6] O imposto sobre o valor da terra em Taiwan é um legado desta reforma. Sun dividiu o bem-estar em quatro áreas: roupas, comida, habitação e transporte; e planejou como um governo ideal poderia cuidar dessas áreas para seu povo. Sun morreu antes de ser capaz de explicar plenamente sua visão desse princípio, o que tem sido alvo de muito debate tanto no Partido Nacionalista quanto no Partido Comunista. Sun Yat-sen escreveu o Mínshēng no contexto chinês, mas não abordou os detalhes antes de morrer. Chiang Kai-shek aprofundou o princípio Mínshēng tanto na importância do bem-estar social quanto nas atividades recreativas para uma China modernizada em 1953 na ilha Formosa, Taiwan.[7]

Revisionismo

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Após a morte de Sun Yat-sen e a Divisão Nanjing-Wuhan, os partidos nacionalista e comunista (na China) passaram a idealizar e revisar os pensamento tridemista, procurando complementar o Três Princípios do Povo (Livro);[8]

Releitura Maoista

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 Ver artigo principal: Maoismo

O Maoísmo (ou "Pensamento Mao Zedong") compreende os Três Princípios do Povo e particularidades do Comunismo como crucial para o desenvolvimento da nação após a revolução e implementação de um novo governo popular que podem ser encontradas no pensamento da Nova Democracia. Ainda para Mao, o Partido Nacionalista traiu o tridemismo e já não representava mais os interesses populares; reeinvindicando pra sí o legado revolucionário de Sun Yat-sen a partir do ínicio da Grande Marcha.[9] A Releitura de Mao Zedong sobre os três princípios compreende-se por:

"A república democrática da China que queremos implantar agora só pode ser uma república democrática sob ditadura conjunta de todos os que se opõem ao imperialismo e ao feudalismo, dirigida pelo proletariado, quer dizer, uma república de democracia nova, uma república dos novos Três Princípios do Povo genuinamente revolucionários mais as suas Três Grandes Políticas."[9]

Releitura Chianguista

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 Ver artigo principal: Chianguismo

O Chianguismo, também conhecido como "Pensamento Chiang Kai-Shek", revisita a ideologia partindo de uma ponto de vista que ainda é muito debatido entre os acadêmicos. Para Keith Schopp, o chianguismo é o contrario de todo o pensamento tridemista, e busca fundir o Nacionalismo, o Autoritarismo e o Cristianismo, em um sistema próximo do Fascismo.[10] Toda via, Jonathan Fenby, contraría que Chiang Kai-Shek seria capitalista ou completamente anticomunista.[11]

Ver também

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Referências

  1. 武, Matheus Costa 马 德. «(Slides) INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO CHINÊS». Consultado em 7 de maio de 2024 
  2. Choquette, Éléna (24 de maio de 2013). «Markets in the Name of Socialism: The Left-Wing Origins of Neoliberalism, Johanna Bockman, Stanford CA: Stanford University Press, 2011, pp. 332.». Canadian Journal of Political Science (2): 483–485. ISSN 0008-4239. doi:10.1017/s0008423913000401. Consultado em 17 de outubro de 2024 
  3. a b c Li Chien-Nung, translated by Teng, Ssu-yu, Jeremy Ingalls.
  4. a b c Sharman, Lyon (1968). Sun Yat-sen: His life and its meaning, a critical biography (em inglês). Stanford: Stanford University Press. pp. 94, 271 
  5. «三民主義的連環性» (em chinês). 中華百科全書 (Chinese Encyclopedia Online). Consultado em 16 de setembro de 2017 
  6. Trescott, Paul B. (2007). Jingji Xue: The History of the Introduction of Western Economic Ideas Into China, 1850-1950 (em inglês). [S.l.]: Chinese University Press. pp. 46–48 
  7. «民生主義育樂兩篇補述» (em chinês). 國家教育研究院 (National Academy for Educational Research). Consultado em 16 de setembro de 2017 
  8. «Chiangism». Wikipedia (em inglês). 8 de novembro de 2024. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  9. a b «Sobre a Democracia Nova». www.marxists.org. Consultado em 17 de outubro de 2024 
  10. Schoppa, R. Keith (10 de julho de 2019). «Revolution and Its Past». doi:10.4324/9781315182025. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  11. Fenby, Jonathan (2015). Chiang Kai Shek: China's generalissimo and the nation he lost. New York, NY: Carroll & Graf 

Bibliografia

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  • Yat-Sen, Sun (1974). D'Elia, Pasquale, ed. The Triple Demism of Sun Yat-Sen (em inglês). [S.l.]: Ams Press Inc. ISBN 978-0404569297