Fricativa velar surda
A fricativa velar surda é um tipo de fone consonantal empregado em alguns idiomas. O símbolo deste som tanto no alfabeto fonético internacional quanto no X-SAMPA é x
. Este som ocorre na maioria dos dialetos do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, dentro do português brasileiro, em palavras como "rio" e "erro". Ela também ocorre no alemão em palavras como "achtung", em castelhano (pronúncia de Castela-a-Velha) em palavras como "jamón", e em esperanto em palavras como "monaĥo"
Fricativa velar surda | |
---|---|
x | |
IPA | 140 |
Codificação | |
Entidade (decimal) | x
|
Unicode (hex) | U+0078 |
X-SAMPA | x
|
Kirshenbaum | x
|
Som | |
Também é usado na transcrição ampla em vez do símbolo ⟨χ⟩, o chi grego, para a fricativa uvular surda.
Há também uma fricativa pós-velar surda (também chamada de pré-uvular) em algumas línguas.
Características
editar- Sua forma de articulação é fricativa, ou seja, produzida pela constrição do fluxo de ar por um canal estreito no local da articulação, causando turbulência.
- Seu local de articulação é velar, o que significa que se articula com a parte posterior da língua (dorso) no palato mole.
- Sua fonação é surda, o que significa que é produzida sem vibrações das cordas vocais.
- Em alguns idiomas, as cordas vocais estão ativamente separadas, por isso é sempre sem voz; em outras, as cordas são frouxas, de modo que pode assumir a abertura de sons adjacentes.
- É uma consoante oral, o que significa que o ar só pode escapar pela boca.
- É uma consoante central, o que significa que é produzida direcionando o fluxo de ar ao longo do centro da língua, em vez de para os lados.
- O mecanismo da corrente de ar é pulmonar, o que significa que é articulado empurrando o ar apenas com os pulmões e o diafragma, como na maioria dos sons.
Variantes
editarIPA | Description |
---|---|
x | Plano |
xʷ | Labializado |
xʼ | Ejetivo |
xʷʼ | Labializado ejetivo |
x̜ʷ | Semi-labializado |
x̹ʷ | Fortemente labializado |
xʲ | Palatalizado |
xʲʼ | Ejetivo palatalizado |
Ocorrência
editarA fricativa velar surda e sua variedade labializada são postuladas como tendo ocorrido em proto-germânico, o ancestral das línguas germânicas, como o reflexo das oclusivas velares palatais e velares surdas proto-indo-européias e a oclusiva velar surda labializada. Assim, *ḱr̥nom "chifre" proto-Indo-europeu e *kʷód "o que" se tornou *hurnan e *hwat protogermânico, onde *h e *hw eram provavelmente [x] e [xʷ]. Essa mudança de som faz parte da lei de Grimm.
No grego moderno, a fricativa velar surda (com sua consoante alófona a fricativa palatal surda [ç], ocorrendo antes das vogais anteriores) originou-se do stop aspirado surdo /kʰ/ do grego antigo em uma mudança de som que lenitava as paradas aspiradas gregas em fricativas.
Língua | Palavra | AFI | Significado | Notas | |
---|---|---|---|---|---|
Abaza | хьзы (hzy) | [xʲzə] | Nome | ||
Adigue | хы (hy) | ⓘ | Seis | ||
Albanês | gjuha | [ɟuxɑ] | Língua | Alofone de /h/. | |
Aleúte | Dialeto atkan | alax | [ɑlɑx] | Dois | |
Árabe | Padrão moderno | خضراء | [xadˤraːʔ] | Verde | Pode ser velar, pós-velar ou uvular, dependendo do dialeto.[1] |
Assamês | অসমীয়া | [ɔxɔmia] | Assamês | ||
Assírio neoramaico | kha | [xaː] | Um | ||
Avar | чeхь / ҫe�� | [tʃex] | Umbigo | ||
Azerbaijani | xoş / хош/خوش | [xoʃ] | Prazeroso | ||
Basco | Alguns falantes[2] | jan | [xän] | Comer | Velar ou pós-velar.[2] Para outros falantes é j ~ ʝ ~ ɟ.[3] |
Bretão | hor c'hib | [or xiː] | Nosso cachorro | ||
Búlgaro | тихо / tiho | ⓘ | Quietamente | Descrito como tendo "apenas fraca fricção" ([x̞]).[4] | |
Chinês | Mandarim | 河 / hé | [xɤ˧˥] | Rio | |
Tcheco | chlap | [xlap] | Cara | ||
Dinamarquês | Sul da jutlândia | kage | [ˈkʰæːx] | Bolo | |
Neerlandês | Belga padrão[5][6] | acht | [ɑxt] | Oito | Pode ser pós-palatal /ç̠/ ao invés. Em dialetos falados acima dos rios Rhine, Meuse and Waal o som correspondente é um trinado fricativo pósvelar-uvular /ʀ̝̊˖/.[6] |
Sul dos Países Baixos[6][7] | |||||
Inglês | Escocês | loch | [ɫɔx] | Loch | Falantes mais jovens juntam esse som com /k/.[8][9] |
Scouse[10] | book | [bʉːx] | Livro | Um alofone do final de sílabas de /k/ (lenição). | |
Esperanto | monaĥo | [monaxo] | Monge | ||
Eyak | duxł | [tʊxɬ] | Armadilhas | ||
Finlandês | kahvi | [ˈkɑxʋi] | Café | Alofone de /h/. | |
Francês | jota | [xɔta] | Jota | Aparece em palavras emprestadas (de espanhol, árabe, chinês, etc.). | |
Georgiano[11] | ჯოხი / joxi | [ˈdʒɔxi] | Graveto | ||
Alemão | Buch | ⓘ | Livro | ||
Grego | τέχνη / téchnî | [ˈte̞xni] | 'art' | ||
Hebraico | מִיכָאֵל/micha'el | [mixaʔel] | Michael | ||
Hindustâni | Hindi | ख़ुशी/khushii/khushī | [xuʃiː] | Felicidade | |
Urdu | خوشی/khushii/khushī | ||||
Húngaro | sahhal | [ʃɒxːɒl] | Com um xá | ||
Islandês | október | [ˈɔxtoːupɛr̥] | Outubro | ||
Indonésio | khas | [xas] | Típico | Aparece em palavras emprestadas do árabe. Normalmente pronunciado como [h] ou [k] por alguns indonésios. | |
Irlandês | deoch | [dʲɔ̝̈x] | Beber | ||
Japonês | 発表 / happyō | [xa̠p̚ʲpʲo̞ː] | Anúncio | Alofone de /h/. | |
Cabardiano | хы | ⓘ | Mar | ||
Coreano | 흥정 / heungjeong | [xɯŋd͡ʑʌŋ] | Barganha | Alofone de /h/ antes /ɯ/. | |
Curdo | xanî | [xɑːˈniː] | Casa | ||
Limburguês[12][13] | loch | [lɔx] | Ar | A palavra de exemplo vem do dialeto maastrichtiano. | |
Lituano | choras | [ˈxɔrɐs̪] | Coro | Apenas em palavras emprestadas (normalmente palavras internacionais) | |
Lojban | xatra | [xatra] | Carta | ||
Macedônio | Охрид / Ohrid | ⓘ | Ohrid | ||
Malaio | akhir | [a:xir] | Fim | Ocorre em empréstimos em árabe. Frequentemente pronunciado como [h] ou [k] por alguns malaios. | |
Manês | aashagh | [ˈɛːʒax] | Fácil | ||
Nepali | आँखा | [ä̃xä] | Olho | Alofone de /kʰ/. | |
Norueguês | Urbano oriental[14] | hat | [xɑːt] | Ódio | Possível alofone de /h/ em vogais quase anterior; pode ser expresso [ɣ] entre dois sons sonoros.[14] |
Persa | دُختَر/dokhtar | [dox'tær] | Filha | ||
Polonês[15] | chleb | [xlɛp] | Pão | Também (na grande maioria dos dialetos) representado ortograficamente por ⟨h⟩. | |
Português | Fluminense | arte | [ˈaxtɕi] | Arte | Variação livre de [χ], [ʁ], [ħ] e [h] antes de consoantes surdas. |
Brasileiro geral[16] | arrasto | [ɐ̞ˈxastu] | Arrasto | Alguns dialetos, corresponde a uma consoante rótica /ʁ/. | |
Punjabi | Gurmukhi | ਖ਼ਬਰ/khabar | [xəbəɾ] | Notícias | |
Shahmukhi | خبر/khabar | ||||
Romeno | hram | [xräm] | Festa patronal de uma igreja | Alofone de /h/. | |
Russo[17] | хороший / chorošij | ⓘ | Bom | ||
Gaélico escocês[18] | drochaid | [ˈt̪ɾɔxɪtʲ] | Ponte | ||
Servo-Croata | храст / hrast | [xrâːst] | Carvalho | ||
Eslovaco | chlap | [xɫäp] | Cara | ||
Somali | khad | [xad] | Tinta | ||
Espanhol[19] | Latino-americano[20] | ojo | [ˈo̞xo̞] | Olho | Pode ser glotal no lugar;[20] no norte e centro da Espanha é normalmente pós-velar[20][21][22] ou uvular /χ/|/h/.[22][23] |
Sul da Espanha[20] | |||||
Sylheti | ꠈꠛꠞ/khabar | [xɔ́bɔɾ] | Notícias | ||
Tagalo | bakit | [baxit] | Porque | Alofone de /k/ em posições intervocálicas. | |
Turco[24] | ıhlamur | [ɯxlamuɾ] | Tília | Alofone de /h/.[24] | |
Tyap | kham | [xam] | 1. Cabaça; 2. Prostituta | ||
Xhosa | rhoxisa | [xɔkǁiːsa] | Cancelar | ||
Ucraniano | хлопець / chlopeć | [ˈxɫɔ̝pɛt͡sʲ] | Menino | ||
Usbeque[25] | xurma | [xurma] | Tamareira | Pós-velar.[25] Ocorre em ambientes diferentes da palavra-inicial e pré-consonantal, caso contrário, é pré-velar.[25] | |
Vietnamita[26] | không | [xəwŋ͡m˧] | Não, zero | ||
Yagan | xan | [xan] | Aqui | ||
Yi | ꉾ / he | [xɤ˧] | Bom | ||
Zapoteco | Tilquiapano[27] | mejor | [mɘxoɾ] | Melhor | Usado na maior parte em palavras emprestadas do espanhol |
Ver também
editarReferências
- ↑ Watson (2002), pp. 17, 19–20, 35–36 and 38.
- ↑ a b Hualde & Ortiz de Urbina (2003), pp. 16 and 26.
- ↑ Hualde & Ortiz de Urbina (2003), p. 16.
- ↑ Ternes, Elmer; Vladimirova-Buhtz, Tatjana (1999). «Bulgarian». Handbook of the International Phonetic Association. [S.l.]: Cambridge University Press. 55 páginas. ISBN 978-0-521-63751-0
- ↑ Verhoeven 2005, p. 243.
- ↑ a b c Collins & Mees 2003, p. 191.
- ↑ Gussenhoven 1999, p. 74.
- ↑ Annexe 4: Linguistic Variables
- ↑ «University of Essex :: Department of Language and Linguistics :: Welcome». Essex.ac.uk. Consultado em 1 de agosto de 2013
- ↑ Wells (1982):373
- ↑ Shosted & Chikovani (2006), p. 255.
- ↑ Gussenhoven & Aarts 1999, p. 159.
- ↑ Peters 2006, p. 119.
- ↑ a b Vanvik 1979, p. 40.
- ↑ Jassem (2003), p. 103.
- ↑ Barbosa & Albano (2004), pp. 5–6.
- ↑ Padgett (2003), p. 42.
- ↑ Oftedal, M. (1956) The Gaelic of Leurbost. Oslo. Norsk Tidskrift for Sprogvidenskap.
- ↑ Martínez-Celdrán, Fernández-Planas & Carrera-Sabaté (2003), p. 255.
- ↑ a b c d Chen (2007), p. 13.
- ↑ Hamond 2001, p. ?, citado em Scipione : et al. 2005, p. 128
- ↑ a b Lyons (1981), p. 76.
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- ↑ a b Göksel & Kerslake 2005, p. 6.
- ↑ a b c Sjoberg (1963), pp. 11–12.
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- ↑ Merrill (2008), p. 109.
Bibliografia
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