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Bantus

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(Redirecionado de Banto)
 Nota: Para o grande conjunto de línguas do grupo nigero-congolês oriental faladas na África, veja Línguas bantus.
Bantus

José Eduardo dos Santos  • Samora MachelPatrice LumumbaSam NujomaNelson Mandela
População total

Estimada em 400 milhões[1]

Regiões com população significativa
 Angola
 Moçambique
Namíbia
África do Sul
 Zâmbia
Zimbabwe Zimbábue
Lesoto
 Quênia
Essuatíni Essuatíni
Botswana Botsuana
Tanzânia Tanzânia
República Democrática do Congo República Democrática do Congo
República do Congo República do Congo
Gabão Gabão
Guiné Equatorial Guiné Equatorial
Camarões Camarões
República Centro-Africana República Centro-Africana
Uganda Uganda
Burundi Burundi
Ruanda Ruanda
Comores Comores
Malawi Maláui
Línguas
Quimbundo, conguês, suaíli, zulu, Ovambo, hereró etc.
Religiões
cristianismo, islamismo, religiões tradicionais africanas
Grupos étnicos relacionados
zulus, ovimbundos, ovambo, Hereros, congos, Mbundu, macuas, chócues, Xindonga etc.

Os bantus[2][3][4] ou bantos[5] constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsariana e que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes. A unidade desse grupo, contudo, aparece de maneira mais clara no âmbito linguístico, uma vez que essas centenas de grupos e subgrupos têm, como língua materna, uma língua da família banta.

A palavra "bantu" é derivada da palavra ba-ntu, formado por ba (prefixo nominal de classe 2) e nto, que significa "pessoa" ou "humanos".[6] Versões dessa palavra ocorrem em todas as línguas bantus: por exemplo, como watu em suaíli; Muntu em quicongo; batu em lingala; bato em duala; abanto em Gusii; andũ em quicuio; abantu em zulu, quitara,[7] e ganda; vanhu em xona; Batho em sesoto; vandu em alguns dialetos luia; mbaityo em Tive; e vhathu em venda.

Os bantus são provavelmente originários dos Camarões e do sudeste da Nigéria. Por volta de 2 000 a.C., começaram a expandir seu território na floresta equatorial da África central. Mais tarde, por volta do ano 1000, ocorreu uma segunda fase de expansão mais rápida, para o leste, e finalmente uma terceira fase, em direção ao sul do continente, quando os bantos se miscigenaram. Os bantos se misturaram então aos grupos autóctones e constituíram novas sociedades.

Organização Social dos Bantu

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Os povos e indivíduos de língua Bantu consideravam a família, as linhagens e os clãs como centrais para sua existência. Incluir esses elementos é fundamental para entender a estrutura social do clã. Historicamente, os Bantu representam seu lugar e papel no mundo com base nesses conceitos associados.

Em diversos cenários históricos, os falantes Bantu demostravam verbal, cultural e intelectualmente a importância do pertencimento. Antigos povos de língua Bantu acreditavam que esse costume proporcionava segurança em um mundo duvidoso. O pertencimento, e não a independência, era o esperado dos indivíduos da comunidade.

A vontade de pertencimento manifestava-se na organização espiritual, econômica e política das sociedades Bantu em torno das linhagens. Esse arranjo estrutural criava uma ideia de identidade, aliança e organizava comunidades de aldeias. Ao longo da vida, os indivíduos eram introduzidos à comunidade por meio de atitudes específicas e cultos de iniciação, baseadas em seu ciclo de vida.[8]

Por volta do quarto milênio a.C., o povo proto-Bantu distinguia dois tipos de espíritos: ancestrais e territoriais. Os espíritos ancestrais eram membros falecidos da família que ainda eram recordados pelos vivos. Já os espíritos territoriais influenciavam os vivos, porém, estavam associados a lugares específicos. Para os Bantu, a família e o mundo espiritual estavam intimamente ligados. A família englobava membros vivos, falecidos e futuros, enquanto o mundo espiritual compreendia um criador monoteísta, espíritos ancestrais e entidades associadas a locais específicos. Os espíritos ancestrais eram aqueles que tinham falecido recentemente e ainda estavam na memória dos vivos. Por compreenderem a influência desses espíritos sobre os vivos, os povos Bantu mantinham uma relação próxima com eles.[9]

Os espíritos ancestrais interferiam na vida dos vivos, faziam pedidos e esperavam comunicações e oferendas. Provérbios, tradições orais e histórias familiares mostram que esses espíritos respondiam de duas maneiras: podiam trazer coisas positivas ou, se insatisfeitos, causar problemas na vida das pessoas. Eles acreditavam que os espíritos ancestrais influenciavam a vida cotidiana dos vivos, incluindo a fertilidade da comunidade. Ancestrais insatisfeitos podiam causar crises, enquanto os satisfeitos podiam trazer proteção e bons resultados.[10]

Para manter esses espíritos contentes, os Bantu faziam oferendas de comida, bebida, música, dança e outras expressões. Eles acreditavam que negligenciar os ancestrais poderia trazer desastres para a pessoa, família ou comunidade, por isso, se esforçavam para satisfazê-los com suas ações e palavras.[11]

Distribuição geográfica

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Os bantos distribuem-se, no continente africano, no sentido oeste-leste, desde os Camarões e o Gabão às ilhas Comores; no sentido norte-sul, do Sudão à África do Sul, cobrindo toda a parte meridional da África, onde somente os bosquímanos e os hotentotes têm línguas de origens diferentes.

Enquanto os bosquímanos e hotentotes eram nômades caçadores-coletores e pastores, os bantos eram agricultores sedentários e já conheciam o uso do ferro. Esses avanços lhes permitiram colonizar um amplo território, ao longo de aproximadamente quatro mil anos, forçando o recuo dos povos nômades. No entanto, os bantos absorveram alguns fenômenos linguísticos típicos das línguas coissãs, como o clique.

Embora não existam informações precisas, o subgrupo etnolinguístico banto mais numeroso parece ser o zulu. A língua zulu é a mais falada na África do Sul, onde é uma das 11 línguas oficiais. Mais da metade dos 50 milhões de habitantes da África do Sul é capaz de compreendê-la; mais de nove milhões de pessoas têm o zulu como língua materna, e mais de 15 milhões falam o zulu fluentemente.[12]

Localização dos subgrupos linguísticos nigero-congoleses.

Todos os subgrupos étnicos falam línguas pertencentes à mesma família linguística, a das línguas bantus, a qual, por sua vez pertence à família linguística nígero-congolesa. Em muitos casos, esses subgrupos têm costumes comuns.[13][14][15][16][17]

Os negros da África do Sul foram, às vezes, chamados oficialmente "bantus" pelo regime do apartheid.[18]

Entre os séculos XIV e XV, estados bantus começaram a surgir na região dos Grandes Lagos Africanos, na savana sul da floresta tropical centro-africana. Na África Austral, no rio Zambeze, os reis Monomatapa construíram o famoso complexo do Grande Zimbábue, o maior dos mais de 200 desses sítios na África Austral, como Bumbusi no Zimbábue e Manikeni em Moçambique. A partir do século XVI em diante, os processos de formação dos estados entre os povos Bantus aumentaram em frequência. Alguns exemplos de tais estados bantus incluem: na África Central, o Reino do Congo,[19] o Império Lunda,[20] o Império Luba[21] de Angola, a República do Congo e a República Democrática do Congo; na Região dos Grandes Lagos Africanos, o Buganda[22] e o Caragué[22] Reino de Uganda e da Tanzânia; e na África do Sul, o Império Monomotapa,[23] Império Rozui,[24] e os Danangombe, Cami e Naletale Reinos de Zimbábue e Moçambique.[23]

Reino do Congo ca. 1630

Em direção dos séculos XVIII e XIX, o fluxo de escravos bantus do Sudeste africano aumentou com o aumento do Omani Sultanato de Zanzibar, com sede em Zanzibar, na Tanzânia. Com a chegada dos colonizadores europeus, o Sultanato de Zanzibar entrou em conflito direto no comércio e na concorrência com portugueses e outros europeus ao longo da Costa Suaíli, levando eventualmente à queda do sultanato e ao fim da negociação de escravos na costa suaíli em meados do século XX.

O uso do termo "bantos" na África do Sul

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Um dançarino tradicional Zulu em África do Sul
Ver artigo principal: Povos bantus na África do Sul

Na década de 1920, os sul-africanos relativamente liberais, os missionários e a intelectualidade negra começaram a usar o termo "bantus" e termos mais depreciativos (como "Cafre") para se referir coletivamente aos bosquimanos sul-africanos. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Partido Nacional governista adotou oficialmente o seu uso, enquanto o crescente movimento indígena apoiado pela União Soviética e seus aliados liberais adotaram o termo "negro", de modo que "bantus" tornou-se identificado com as políticas do Apartheid. Na década de 1970, o termo "bantus" estava tão desacreditado como uma designação etno-racial que o governo do apartheid mudou para o termo "preto" em suas categorizações raciais oficiais, restringindo-a a africanos que falavam idiomas Bantu, mais ou menos na mesma época em que o Movimento da Consciência Negra liderado por Steve Biko e outros estavam definindo, como Black ("preto"), o conjunto de oprimidos sul-africanos (negros, mestiços e indianos).

Referências

  1. A população total não pode ser estabelecida com precisão dada a indisponibilidade de dados precisos de conso da África subsaariana. Um número superior a 200 milhões foi citado no começo dos anos 2000 (veja Niger-Congo languages: subgroups and numbers of speakers. Estimativas de população estimadas para o Centro-oeste africano são reconhecidads como significamente baixas pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas em 2015 («World Population Prospects: The 2016 Revision – Key Findings and Advance Tables» (PDF). United Nations Department of Economic and Social Affairs, Population Division. Julho de 2016. Consultado em 26 de junho de 2017. Arquivado do original (PDF) em 26 de junho de 2019 ). O crescimento populacional é estimado entre 2.5% and 2.8% anuais, para um aumento anual da população bantu entre 8 e 10 milhões.
  2. Historia de Moçambique
  3. Migrações Bantus
  4. Tradição Bantu
  5. Correia, Paulo. «Etnónimos, uma categoria gramatical à parte?» (PDF). A folha. Consultado em 3 de abril de 2021 
  6. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 230.
  7. Bunyoro-Kitara Kingdom; ARKBK CLBG. «Banyoro - Bunyoro-Kitara Kingdom (Rep. Uganda) - The most powerful Kingdom in East Africa!». Consultado em 13 de maio de 2015 
  8. Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN 978-1-315-17771-7. Consultado em 4 de julho de 2024 
  9. Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN 978-1-315-17771-7. Consultado em 7 de julho de 2024 
  10. Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN 978-1-315-17771-7. Consultado em 7 de julho de 2024 
  11. Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine; Fourshey, Catherine Cymone (14 de julho de 2017). «The Bantu Matrilineal Belt». New York, NY : Routledge, 2018. | Series: Global Africa ; 5: Routledge: 19–42. ISBN 978-1-315-17771-7. Consultado em 7 de julho de 2024 
  12. «Ethnologue report for language code ZUL (zulu)». ethnologue.com 
  13. Castrì, Loredana; Sergio (1 de outubro de 2009). «mtDNA variability in two Bantu-speaking populations (Shona and Hutu) from Eastern Africa: implications for peopling and migration patterns in sub-Saharan Africa». American Journal of Physical Anthropology. 140 (2): 302–311. ISSN 1096-8644. PMID 19425093. doi:10.1002/ajpa.21070 
  14. Alves, Isabel; Margarida (1 de fevereiro de 2011). «Genetic homogeneity across Bantu-speaking groups from Mozambique and Angola challenges early split scenarios between East and West Bantu populations». Human Biology. 83 (1): 13–38. ISSN 1534-6617. PMID 21453002. doi:10.3378/027.083.0102 
  15. de Filippo, Cesare; Chiara (1 de março de 2011). «Y-chromosomal variation in sub-Saharan Africa: insights into the history of Niger-Congo groups». Molecular Biology and Evolution. 28 (3): 1255–1269. ISSN 1537-1719. PMID 21109585. doi:10.1093/molbev/msq312 
  16. Coelho, Margarida; Fernando (21 de abril de 2009). «On the edge of Bantu expansions: mtDNA, Y chromosome and lactase persistence genetic variation in southwestern Angola». BMC evolutionary biology. 9. 80 páginas. ISSN 1471-2148. PMID 19383166. doi:10.1186/1471-2148-9-80 
  17. Plaza, Stéphanie; Antonio (1 de outubro de 2004). «Insights into the western Bantu dispersal: mtDNA lineage analysis in Angola». Human Genetics. 115 (5): 439–447. ISSN 0340-6717. PMID 15340834. doi:10.1007/s00439-004-1164-0 
  18. História da África do Sul
  19. Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 21
  20. Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 23
  21. Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 23.
  22. a b Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 24-25.
  23. a b Roland Oliver, et al. "Africa South of the Equator," in Africa Since 1800. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005, pp. 25.
  24. Isichei, Elizabeth Allo, A History of African Societies to 1870 Cambridge University Press, 1997, ISBN 978-0521455992 page 435
  • Christopher Ehret and Merrick Posnansky, eds., The Archaeological and Linguistic Reconstruction of African History, University of California Press, Berkeley e Los Angeles, 1982
  • Christopher Ehret, An African Classical Age: Eastern and Southern Africa in World History, 1000 B.C. to A.D. 400, James Currey, Londres, 1998
  • April A. Gordon and Donald Trump L. Gordon, Understanding Contemporary Africa, Lynne Riener, Londres, 1996
  • John M. Janzen, Ngoma: Discourses of Healing in Central and Southern Africa, University of California Press, Berkeley e Los Angeles, 1992
  • James L. Newman, The Peopling of Africa: A Geographic Interpretation, Yale University Press, New Haven, 1995
  • Kevin Shillington, History of Africa, 3rd ed. St. Martin's Press, Nova York, 2005
  • Jan Vansina, Paths in the Rainforest: Toward a History of Political Tradition in Equatorial Africa, University of Wisconsin Press, Madison, 1990
  • Jan Vansina, "New linguistic evidence on the expansion of Bantu," Journal of African History 36:173-195, 1995
  • Armando Castro, O sistema colonial Português em África (meados do século XX), Lisboa; Caminho, 1978

Ligações externos

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