Monte (Alentejo)
Este artigo não cita fontes confiáveis. (Julho de 2020) |
Chama-se monte alentejano à propriedade rural, mais ou menos extensa, e respectivas instalações. No sentido restrito, o termo é também aplicado apenas ao conjunto da moradia e dependências do proprietário ou lavrador. Estas casas ficam normalmente situadas no alto de uma elevação, sobressaindo na planície alentejana.
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História e descrição
editarO Monte Alentejano consistia num conjunto de várias estruturas ligadas à produção rural, construídas segundo um esquema de arquitectura de terra, onde foram utilizados os materiais da área em que se situam.[1] O local de implantação era rigorosamente escolhido tendo em vista vários atributos, como a orientação em relação ao nascimento do Sol, e a presença de recursos aquáticos, tanto no subsolo como à superfície.[1] O monte era a unidade central da herdade, em torno do qual se articulavam os vários processos de produção agrícola.[1] Uma das principais funções do monte era a residencial, servindo por vezes de habitação a uma família, como sucedeu com a Casa Museu Manuel Chainho, em Santa Margarida da Serra, no concelho de Grândola.[2] As casas estavam organizadas em várias divisões, com uma chaminé de grandes dimensões no compartimento principal.[2] As janelas normalmente eram de reduzidas dimensões.[2]
No artigo Chaminés de Portugal, publicado em 1929 na revista Alma Nova, Luís Chaves faz uma descrição dos interiores e das chaminés nas casas da região: «Na casa rural do Alentejo, a cozinha é a sala nobre: enfeita-se garrida com a louça popular da provincia, entre a qual aparecem os «pratos velhos», alguns sem valimento que não seja o de terem sido dos pais ou do avós, e que são apontados como relíquias. Tem os armários rendados, de rótulos verdes, a louça de arame (de estanho, mas principalmente de cobre), a estanheira, escaparate com a louça de estanho, a cantareira ou pial, o poial de «pedra-mar» com as quartas de Estremôz, do Redondo ou de Viana-do-Alentejo, vendidas mais o outro vasilhame nas cargas ambulantes, de aldeia em aldeia, em ceirões e alforges de esparto ao lombo dos machos, ou nos típicos carros alentejanos de «molas-de-azinho». A um canto da cozinha está a chaminé. Aqui é um pormenor, como a arca ali a um canto, a mesa no meio da parede, e os armários aqui e ali. No Norte é o objecto principal, o que não admira onde há o culto familiar do fogo a maior parte do ano, e o não menor nem menos duradouro prazer da mesa à lareira. [...] O lar no Sul é raso, não em estrado ou banqueta, por vezes bem alto, de Trás-os-Montes; num ressalto, na frente, no pano da chaminé, uma estante lisa de tijolo forma a prateira, onde se expôem os pratos mais berrantes de cor, e por isso mais decorativos, grandes, da Flor-da-Rosa, Viana e algures.».[3]
Segue-se a descrição da chaminé: «No Alentejo, a chaminé assenta logo sôbre a parede-mestra, e é-lhe perpendicular ou, o que é mais freqüente, paralela ou continuando-a. Lá para cima é de ordinário branca, e o mesmo acontece no Sul, onde a cal abunda e toda a casa vibra na brancura intensa, que lhe dá. No entanto, no Alentejo, onde o tijolo quási exclue a pedra na alvenaria, fazem-se combinações decorativas com êsse tijolo, prática inconsciente da decoração arquitectónica moderna, que consiste em obter efeitos ornamentais do emprêgo dos mesmos materiais da construção; pintam-se também elementos da decorativa popular nas faces da chaminé, com combinação de azul, vermelho e amarelo, em maior ou menor fantasia de desenho (estrêlas, círculos, meias-luas, cadeias, o signo-saimão, etc., a que não falta a data em caracteres bem visíveis e legíveis e às vezes as iniciais do artista («alvanéo»).».[3]
O conceito do monte conheceu várias alterações ao longo da história, acompanhando as mudanças económicas e sociais que atingiram a região do Alentejo, principalmente a partir do século XIX, com a implementação das grandes herdades de produção cerealífera.[1] Assim, ganharam novas funções como os núcleos das grandes herdades, funções que levaram a modificações na sua estrutura, como o aumento no número de edifícios, e a instalação de torreões.[1]
Preservação
editarOs montes alentejanos ganharam assim um grande significado como parte do património histórico do Alentejo, sendo um testemunho das várias alterações sociais e económicas pelas quais passou a região, além de constituírem importantes marcos na paisagem.[1]
No século XXI, alguns dos antigos montes passaram a ter novas funções, principalmente como unidades turísticas,[1] tendo vários sido igualmente preservados como núcleos museológicos, como sucedeu por exemplo com a Casa Museu Manuel Chainho, em Grândola,[2] o Núcleo Museológico Agro-florestal da Barroca, no concelho de Mora,[4] e o Núcleo Etnográfico do Monte das Oliveiras, no concelho de Castro Verde.[5]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c d e f g SIMÕES, Paula Maria (2018). Os Montes Alentejanos: uma sábia aliança com a paisagem (PDF) (Tese). Universidade de Évora. p. 4,6,9,13. Consultado em 19 de Outubro de 2024
- ↑ a b c d «Casa Museu Manuel Chainho». Câmara Municipal de Grândola. Consultado em 18 de Outubro de 2024
- ↑ a b CHAVES, Luís (Janeiro de 1929). «Chaminés de Portugal» (PDF). Alma Nova. Série V (11-12). Lisboa. p. 6-7. Consultado em 19 de Outubro de 2024 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
- ↑ NOGUEIRA, Francisco (18 de Agosto de 2016). «Um museu agrícola num monte alentejano». Público. Consultado em 18 de Outubro de 2024
- ↑ «Núcleo Etnográfico do Monte das Oliveiras». Câmara Municipal de Castro Verde. Consultado em 18 de Outubro de 2024