Júlia Domna (em latim: Iulia Domna; Emesa, 170 - 217) foi uma imperatriz-consorte romana, esposa do imperador Septímio Severo e mãe dos futuros imperadores Geta e Caracala. Pelo seu longo reinado e posição na corte romana, foi uma das mais poderosas mulheres da história do Império Romano.

Júlia Domna
Augusta

Busto de Júlia Domna na Gliptoteca de Munique.
Imperatriz-consorte romana
Reinado 14 de abril de 193-4 de fevereiro de 211
Consorte Sétimo Severo
Antecessor(a) Mânlia Escantila
Sucessor(a) Nônia Celsa (?)
Nascimento 170
  Emesa, Síria (atual Homs)
Morte 217 (47 anos)
Sepultado em Mausoléu de Adriano, Roma
Nome completo Iulia Domna
Dinastia Severa
Pai Caio Júlio Bassiano
Filho(s) Caracala
Geta

Histórico familiar

editar

Júlia era originária de uma família síria, que acredita-se ser de ascendência árabe, da cidade de Emesa.[1] Ela era a filha mais nova do sumo-sacerdote Caio Júlio Bassiano e sua irmã mais velha era Júlia Mesa, avó dos imperadores Heliogábalo e Alexandre Severo. Seus ancestrais eram os reis-sacerdotes do famoso templo de Heliogábalo (em siríaco: Ilāh hag-Gabal). Sua família era extremamente rica e acabou elevada à aristocracia senatorial romana. Antes do casamento, Júlia herdou as propriedades do seu tio-avô pelo paterno Júlia Agripa, um antigo líder dos centuriões.[2]

Reinado

editar
 
Moeda romana de Júlia Domna

No final da década de 180, Júlia se casou com o futuro imperador Septímio Severo, geralmente considerado como tendo ascendência púnica. O casamento se provou ser muito feliz e Sétimo adorava a esposa, que teve boa educação e se interessava por filosofia, e suas opiniões políticas. Eles tiveram dois filhos, Lúcio Sétimo Bassiano (Caracala), em 188, e Públio Sétimo Geta (Geta) no ano seguinte. Por causa de sua paixão pela filosofia, Júlia protegeu os filósofos e ajudou no florescimento da filosofia em Roma, revertendo a política dos imperadores anteriores.[3]

Guerra civil

editar

Quando Sétimo foi proclamado imperador, em 193 (o "ano dos cinco imperadores"), ele logo enfrentou uma guerra aberta contra os rivais Pescênio Nigério e Clódio Albino. Júlia acompanhou o marido em suas campanhas no oriente, um evento bastante incomum na época, pois esperava-se das mulheres que esperassem em casa pelos maridos. Mesmo assim, ela ficou ele e, entre as diversas provas de amor e agradecimento, está a cunhagem de moedas com o retrato da imperatriz na qual ela foi intitulada mater castrorum ("mãe dos acampamentos [exércitos]"), utilizado anteriormente por Marco Aurélio para homenagear sua esposa Faustina em 174.

Controvérsia e transição

editar

Como imperatriz, Júlia estava geralmente envolvida nas intrigas da corte e fez diversos inimigos políticos, que a acusavam de traição e adultério, sem que nada jamais fosse provado. Severo continuou a favorecê-la e insistiu em tê-la por perto na campanha contra os britanos, iniciada em 208. Quando o imperador morreu em 211, em Eboraco (atual Iorque), Júlia se tornou a mediadora entre os dois filhos, Caracala e Geta, que deveriam governar juntos como co-imperadores de acordo com os desejos do pai expressados em seu testamento. Mas os dois jovens jamais se gostaram e discutiam frequentemente. Geta terminou assassinado pelos soldados de Caracala no final do mesmo ano.

Como único imperador, as fontes atestam as difíceis relações de Caracala com a mãe, provavelmente por causa da morte de Geta. Mesmo assim, Júlia acompanhou Caracala em sua campanha contra o Império Parta em 217. Durante a sua viagem, Caracala foi assassinado e Macrino, por um breve período, o sucedeu. Júlia provavelmente preferiu se matar depois de saber da revolta,[4] embora outros considerem mais provável que ela tenha morrido de câncer de mama.[3] O corpo da imperatriz foi levado à Roma e sepultado no Sepulcrum C. et L. Caesaris (talvez uma câmara separada no Mausoléu de Augusto). Posteriormente, porém, os restos dela e de Geta foram transferidos por sua irmã, Júlia Mesa, para o Mausoléu de Adriano.[5] Ela foi posteriormente deificada.

Apolônio

editar

Se não fosse por Júlia, teríamos hoje em dia pouquíssimas informações sobre o lendário filósofo Apolônio de Tiana. Foi patrocinado pela imperatriz que Filóstrato escreveu seu famoso "Vida de Apolônio", que chegou até nossos dias completo.[6] Acredita-se que Júlia tenha morrido antes de Filóstrato ter terminado sua obra, que contém oito volumes.[4]

Ver também

editar
Júlia Domna
Nascimento: 170 Morte: 212
Títulos reais
Precedido por:
Mânlia Escantila
Imperatriz-consorte romana
193–211
com Fúlvia Plaucila (202–205)
Sucedido por:
Nônia Celsa
Precedido por:
Agripina Menor
Imperatriz-mãe do Império Romano
211–217

Referências

  1. Irfan Shahid, Rome and The Arabs: A Prolegomenon to the Study of Byzantium and the Arabs, Washington, 1984, Dumbarton Oaks Research Library, p. 167, ISBN 0-88402-115-7; Glen Warren Bowersock, Roman Arabia, Cambridge, Harvard University Press, 1983, pp. 126–128, ISBN 0-674-77756-5 [1]; Maxime Rodinson, The Arabs, Chicago, University of Chicago Press, pp. 55, ISBN 0-226-72356-9, [2]
  2. Levick, Julia Domna: Syrian Empress, p.18
  3. a b «Júlia Domna» (em inglês). Women Philosophers. Consultado em 26 de julho de 2013 
  4. a b Jones, Christopher P. (2005). Philostratus, The Life of Apollonius of Tyana. [S.l.]: Harvard University Press. 2 páginas 
  5. Dião Cássio. História Romana (em inglês). [S.l.: s.n.] Consultado em 26 de julho de 2013 
  6. Dzielska, Maria; Stucchi (1986). Apollonius of Tyana in Legend and History. [S.l.: s.n.] 14 páginas. ISBN 88-7062-599-0 

Ligações externas

editar
 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Júlia Domna
  • (em francês) Minaud, Gérard, Les vies de 12 femmes d’empereur romain - Devoirs, Intrigues & Voluptés , Paris, L’Harmattan, 2012, ch. 9, La vie de Julia Domna, femme de Septime Sévère, p. 211-242.
  • B. Levick, Julia Domna: Syrian Empress, Routledge, 2007