Estudo de envelhecimento
Estudo de envelhecimento é um campo de análise cultural teórica, política e empiricamente engajada, desenvolvida por estudiosos de várias disciplinas diferentes. Nos últimos 15 anos, o campo de estudo de envelhecimento floresceu com um número crescente de acadêmicos prestando atenção às implicações culturais do envelhecimento populacional.[1][2]
História e descrição do campo
editarO Estudo do Envelhecimento se separa da disciplina tradicional da gerontologia, por destacar a maneira como o envelhecimento biológico é mediado por construções culturais; e por enfatizar a auto representação da pessoa idosa. [3] A primeira edição do jornal Academic Age, Culture, Humanities (Idade, Cultura, Humanidades) inclui diversos artigos referentes à maturação dessa área de conhecimento, onde Stephen Katz cria uma comparação entre o presente estado do Estudo de Envelhecimento e dos Estudos de Gênero.[4][5]
O Estudo do Envelhecimento é um campo interdisciplinar, que pode ser afiliado com abordagens mais amplas encontradas em estudos culturais, estudos de gênero, estudos de multimídia e cinema, cultura do consumo, etc.. Pesquisadores trabalhando nesse campo questionam os discursos e práticas culturais que constroem o significado do envelhecimento. Por exemplo, invoca-se cálculos de idade, questionando em que idade somos considerados “velhos”, se referindo à pratica social de tentar adivinhar a idade de alguém.[6] Investiga-se também como expressões públicas de envelhecimento no Ocidente, como representação do envelhecimento nas notícias, filmes e televisão, criam visões limitadas da terceira idade, levando à discriminação etária e uma falta de conscientização generalizada da diversidade; e desentendimentos e divisões entre gerações.[7][8] Dentro dessa perspectiva, o envelhecimento não é meramente entendido como um estado biológico, mas uma experiência vivida, incorporada e mediada, ocorrendo dentro de circunstâncias materiais e sociais específicas.[9] Pesquisas nesse campo são primariamente conduzidas através de metodologias associadas com as ciências sociais e as humanidades.
No Brasil, a importância da inclusão das ciências humanas no estudo do envelhecimento populacional e melhora das condições de vida da população idosa já é reconhecida.[10]
Livros notáveis
editar- Margaret M. Gullette foi a primeira a perceber a necessidade para o Estudo do Envelhecimento nos anos 1990.[5] Ela contesta as narrativas de declínio que predominantemente circulam sobre o envelhecimento (por exemplo, declínio físico e isolamento social) em seu livro Aged by Culture (Envelhecido pela Cultura). [11]
- Em Learning to be old: Gender, culture, and aging (Aprendendo a ser velho: Gênero, cultura e envelhecimento), Margaret Cruikshank refere-se aos mitos culturais, incluindo medos, tradições e a medicalização do envelhecimento; e sugere uma metodologia centrada nos pares.[9]
- Em Figuring Age: Women, Bodies, Generations (Entendendo a Idade: Mulheres, Corpos, Gerações), Kathleen Woodward pergunta por que mulheres são movidas para a periferia da sociedade conforme envelhecem. Ela questiona as relações entre a idade e o corpo; e entre a idade e as relações interpessoais.[12]
- Andrew Blaikie foca no envelhecimento na Grã-Bretanha. Em Ageing and Popular Culture (Envelhecimento e Cultura Popular), ele traça uma genealogia da interface entre o Estado e os discursos médicos do envelhecimento, imagens circulando popularmente (principalmente fotografia) e experiência vivida.[13]
- La Vieillesse (A força da Idade), de Simone de Beauvoir, também pode ser visto como precursor da área de conhecimento.[14]
Organizações Acadêmicas
editarCentros e redes de pesquisa
editar- A Rede Europeia de Estudo de Envelhecimento (ENAS) foi fundada em 2010, e sua missão é facilitar a colaboração internacional no estudo do envelhecimento cultural.
- Mulheres, Envelhecimento e Mídia (WAM) foi fundada em 2010, e seus membros estudam o relacionamento entre mulheres mais velhas e a mídia popular (ex. música popular, moda, etc.).
- A Rede Norte-Americana de Estudo de Envelhecimento (NANAS) foi estabelecida em 2013, e é a versão norte-americana da ENAS. Seu objetivo é examinar criticamente a idade avançada.
- Envelhecimento + Comunicação + Tecnologia (ACT) foi estabelecida em 2014. Seus membros se envolvem com três áreas de investigação:
- Agencia, que envolve comunidades no desenvolvimento de projetos que incrementam autonomia;
- Mediações críticas, que examinam criticamente as experiências culturais mediadas de adultos no fim da vida;
- Tecnologias de Telecomunicações, que se refere ao envelhecimento no contexto de sociedades globalizadas.
- O Grupo de Estudos de Envelhecimento, Corpo e Sociedade (ABS) está afiliado com a Associação Britânica de Sociologia; e pretende juntar uma gama de abordagens quanto ao corpo na terceira idade.
Jornais e revistas acadêmicas
editar- Age, Culture, Humanities (Idade, Cultura, Humanidades) publica artigos das humanidades e artes sobre envelhecimento.
- The Journal of Ageing Studies (Jornal de Estudo do Envelhecimento) recebe trabalhos das ciências sociais e comportamentais; e das humanidades.
- Revista Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento: Publicação Semestral do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre o Envelhecimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).[15]
Referências
- ↑ Gilleard, Chris (2014). "Aging and Aging Studies: Celebrating the cultural turn". Age, Culture, Humanities 1 (1). Retrieved 27 July 2015.
- ↑ Looser, Devoney (2014). "Age and Aging Studies, from cradle to grave". Age, Culture, Humanities 1 (1). Retrieved 27 July 2015.
- ↑ Wernick, Andrew (1999). "Andrew Blaikie. Ageing and popular culture". Canadian Journal of Sociology (January 2000). Retrieved 27 July 2015.
- ↑ Katz, Stephen (2014). "What is Age Studies?". Age, Culture, Humanities 1 (1). Retrieved 27 July 2015.
- ↑ a b Segal, Lynne (2014). "The Coming of Age Studies". Age, Culture, Humanities 1 (1). Retrieved 27 July 2015.
- ↑ Riley, Jeannette E. (2000). "Reviewed Work: Figuring Age: Women, Bodies, Generations by Kathleen Woodward". Rocky Mountain Review of Language and Literature 54 (2): 138–141. Retrieved 27 July 2015.
- ↑ Jennings, Ros; Gardner, Abigail (2012). ‘Rock on’: Women, Ageing and Popular Music. Aldershot: Ashgate.
- ↑ Dolan, Josephine; Tincknell, Estella (2012). Ageing Femininities: Troubling Representations. Cambridge Scholars Press.
- ↑ a b Cruikshank, Margaret (2003). Learning to be old: Gender, culture, and aging. Lanham MD: Rowman & Littlefield.
- ↑ Bezerra, F. C., et. al. "Estudos Sobre Envelhecimento no Brasil: Revisão Bibliográfica". Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, 2012; 15(1):155-167
- ↑ Gullette, M. (2004). Aged by culture. Chicago IL: University of Chicago Press
- ↑ Woodward, Kathleen (1999). Figuring Age: Women, Bodies, Generations. Bloomington: Indiana University Press.
- ↑ Blaikie, Andrew (1999). Ageing and popular culture. Cambridge University Press.
- ↑ de Beauvoir, Simone (1971). The Coming of Age. W.W. Norton & Company Inc.
- ↑ http://www.ufrgs.br/periodicos/periodicos-1/estudos-interdisciplinares-sobre-o-envelhecimento. Consultado em 10 de abril de 2022.