O Discurso de Adeus ou Discurso de Despedida é um trecho do Evangelho de João, ao final da Última Ceia, que cobre os capítulos 14 ao 17. Nele, Jesus fala aos onze discípulos (Judas já havia saído para traí-lo) na noite anterior à sua crucificação.[1]

Jesus se despedindo dos apóstolos.
1308-1311. Por Duccio, atualmente no Museo dell'Opera Metropolitana del Duomo, em Siena, na Itália.

Este discurso é rico em conteúdo cristológico, reiterando a pré-existência de Cristo (João 17:5) quando ele diz que teve a glória do Pai "antes que houvesse mundo".[2]

Estrutura do discurso

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Embora todo o trecho entre os capítulos 13 e 18 de João possam ser vistos como uma única narrativa, a maior parte do capítulo 13 pode ser interpretada como uma preparação para o adeus e a oração do adeus no capítulo 17, como sua conclusão.[3][4]

Após a introdução em João 13:31–38,[5] o discurso pode ser separado em quatro componentes[6]:

  1. Primeiro discurso: capítulo 14. O tema deste discurso, similar ao terceiro, é a partida e o retorno, a paz e a alegria. Jesus afirma que irá ao Pai, mas Ele lhes enviará o Paráclito ("aquele que conforta") para ajudá-los. Além disso, ele deixa sua paz e pede que os discípulos não tenham medo.
  2. Segundo discurso: primeira parte do capítulo 15 (João 15:1–17). Conhecida como "A Videira", esta seção trata do amor de Jesus e como Ele é a fonte da vida para a comunidade. No final, inicia-se a discussão sobre o ódio do mundo que tomará a próxima seção.
  3. Terceiro discurso: segunda parte do capítulo 15 e capítulo 16 (João 15:18–27João 16:1–33). Esta seção novamente trata da partida de Jesus e do Paráclito que virá para confortar os discípulos. Além disso, o amor de Jesus é contrastado ao ódio do mundo.
  4. "Oração de Adeus": capítulo 17 (João 17:1–26). Neste trecho, Jesus apresenta cinco pedidos específicos ao Pai quando reza pelos discípulos e pela comunidade de fieis.[7]

Porém, esta divisão em quatro partes não é universal entre os acadêmicos e alguns afirmam que a terceira começa no início de João 16.[8] Outros estudiosos propõem uma estrutura em três partes, unificando os capítulos 15 e 16 numa única estrutura.[9]

A Videira

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O discurso inclui uma extensa metáfora de Jesus como a verdadeira videira. Deus é descrito como o agricultor que cuida das videiras e seus discípulos, como seus galhos, que precisam "residir" nele para gerar frutos. Os discípulos são alertados que galhos secos são podados pelo agricultor. Esta imagem foi muito influente na arte e iconografia cristãs. Os discípulos são lembrados do amor de Deus por Jesus e deste por eles (especialmente o "discípulo amado") e são instruídos a "amar um ao outro" da mesma forma. Ele segue falando do "maior amor" sendo a disposição de "dar a vida" por um amigo, sendo esta passagem amplamente utilizada para afirmar o sacrifício dos mártires e dos soldados na guerra, sendo muito comum em cemitérios e monumentos sobre a guerra.

O sermão segue falando de Jesus "prometendo outro Paracleto" (em grego: ἄλλο Παράκλητον), um "Espírito da Verdade" que irá "testemunhar sobre" Jesus (João 14:16). Paracleto (ou "Paráclito") vem do grego koiné παράκλητος (paraklētos - "aquele que consola, aquele que intercede por nós, um confortador ou advogado"). Quando a definição dogmática de Trindade se tornou necessária no século III, a passagem se tornou central para os argumentos sobre o papel do Espírito Santo. Argumentos sobre a cláusula Filioque, que foram parcialmente responsáveis pelo Grande Cisma do Oriente entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, girou em torno deste tema também.

Autenticidade

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O Jesus Seminar defende que João 14:30–31 seria a conclusão do discurso e que os três capítulos seguintes teriam sido inserções posteriores. Este argumento considera do Discurso de adeus como falso e postula que ele teria sido construído depois da morte de Jesus.[10] De forma similar, Stephen Harris questionou a autenticidade do discurso pelo fato de ele aparecer apenas em João e não nos evangelhos sinóticos.[11] Porém, estudiosos como Herman Ridderbos enxergam João 14:30-31 como um "fim provisório" apenas daquela seção e não o final de todo o discurso.[12]

Fernando Segovia argumenta que o discurso originalmente consistia apenas do capítulo 14 e que os demais capítulos teriam sido adicionados depois, mas Gary M. Burge contrapõe-se a este argumento reafirmando a unidade teológica e literária da obra e indicando que o discurso tem muito em comum com o Evangelho como um todo, como, por exemplo, nos temas da morte e ressurreição de Jesus e seu cuidado com "os seus".[13]

Em 2004, Scott Kellum publicou uma análise detalhada da unidade literária de todo o Discurso de adeus e afirmou que ela prova não apenas que ele teria sido escrito por um único autor como também que sua localização dentro do Evangelho de João é consistente com o restante da obra.[4][14]

Manuscritos

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Ver também

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Referências

  1. John by Gail R. O'Day, Susan Hylen 2006 ISBN 9780664252601, Chapter 15: The Farewell Discourse, pages 142-168
  2. Creation and Christology by Masanobu Endo 2002 ISBN 3161477898 page 233
  3. John by Andreas J. Köstenberger 2004 ISBN 080102644X page 419
  4. a b The Unity of the Farewell Discourse by L. Scott Kellum 2004 ISBN 0567080765 pages 1-6
  5. John by Andreas J. Kostenberger 2004 ISBN 080102644X pages 424-441
  6. Johannes Beutler, 2001 "Synoptic Jesus Tradition in the Johannine Farewell Discourse" in Jesus in Johannine tradition by Robert Tomson Fortna, Tom Thatcher 2001 ISBN 9780664222192 pages 165-174
  7. The Gospel according to John by Herman Ridderbos 1997 ISBN 9780802804532 The Farewell Prayer: pages 546-576
  8. The Gospel of John: Question by Question by Judith Schubert 2009 ISBN 0809145499 pages 112-127
  9. Reading John: A Literary and Theological Commentary on the Fourth Gospel by Charles H. Talbert 1999 ISBN 1573122785 page 219-229
  10. Funk, Robert W., Roy W. Hoover, and the Jesus Seminar. The five gospels. HarperSanFrancisco. 1993. "Introduction," p 1-30.
  11. Harris, Stephen L., Understanding the Bible. Palo Alto: Mayfield. 1985. "John" p. 302-310
  12. The Gospel according to John by Herman Ridderbos 1997 ISBN 978-0-8028-0453-2 pages 510-512
  13. Interpreting the Gospel of John by Gary M. Burge 1998 ISBN 0801010217 pages 67-71
  14. John, Jesus, and History, Volume 2 by Paul N. Anderson, Felix Just, Tom Thatcher 2007 ISBN 1589832930 page 273