Identidade e representação no bolsonarismo. Corpo digital do rei, bivalência conservadorismo-neoliberalismo e pessoa fractal

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.165232

Palavras-chave:

Cibernética, populismo, identidade, representação, bolsonarismo

Resumo

Este artigo aborda a profunda reorganização do campo político-identitário no Brasil, que vinha sendo avançada gradualmente através de redes sociais, mas que ganhou força e projeção repentinas com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018. Partindo de uma perspectiva cibernética inspirada em Gregory Bateson, explora alguns dos dilemas emergentes que a digitalização da política tem colocado para a dupla problemática da identidade e representação na antropologia, a partir de três ângulos: representação populista e formação do “corpo digital do rei”; bivalência reconhecimento-redistribuição; e formação fractal de identidades por meio de mídias digitais.

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Biografia do Autor

  • Letícia Cesarino, Universidade Federal de Santa Catarina
    Letícia Cesarino é Professora no Departamento de Antropologia e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Publicado

2019-12-19

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Cesarino, L. (2019). Identidade e representação no bolsonarismo. Corpo digital do rei, bivalência conservadorismo-neoliberalismo e pessoa fractal. Revista De Antropologia, 62(3), 530-557. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.165232