SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012-2013: SEGUIR EM FRENTE COM AS LIÇÕES APRENDIDAS, AS DORES SOFRIDAS... (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Não há como negar. Verdade é que o ano de 2012 vai deixar saudade. Não a saudade do que ele causou, mas a saudade de quem nele partiu.
Saudade dos nossos que partiram tão cedo, ainda que já envelhecidos. E uma saudade assim se eterniza e se renova a cada novo ano. Ao menos para os que compreendem o significado das perdas e despedidas.
Forçadamente dei adeus a familiares, a amigos, e chorei por todos no silêncio angustiante do sofrimento. Em novembro meu pai deu adeus ao sertão. Raiz que sou, ainda não brotei a flor do renascimento. Morri um pouco também, e continuo assim com olhos de sequidão.
Mas é na fronteira do ficar e partir que o ser humano deve decidir sua sorte, seu destino. E porque continua com a dádiva divina da existência, o que se tem a fazer é seguir em frente com as lições aprendidas, as dores sofridas...
Deve haver, sim, lugar para a gratidão. Se conseguiu percorrer todo o ano, permaneceu saudável e esperançoso, não há como não ser grato pela existência. Basta olhar para trás e ao redor e sentir que muitos não possuem a mesma sorte.
Ora, só mesmo a força divina para não ser vitimizado pelas aberrações e incongruências do mundo. Num tempo de tecnologias inimagináveis, de avanços científicos surpreendentes, ainda ninguém conseguiu a fórmula para a diminuição da desumanidade.
Ao lado das catástrofes naturais, das inúmeras vidas perdidas nos terremotos, nas enchentes e outros sinistros, coube ao homem acrescentar sua porção de maldade, como sempre faz. Invadiu escolas e matou inocentes, tirou a vida de quem tanto queria viver.
E enquanto burocratizam a vida, assinam protocolos de intenções, prometem mudar os destinos do mundo, eis que crianças continuam vergonhosamente apodrecendo nos descampados africanos, a miséria absoluta se alastrando no interior nordestino, inocentes morrendo nas guerras egoístas.
2012 também foi o ano da hipocrisia, da mentira, da bajulação desavergonhada. Não há nada mais desrespeitoso à inteligência do cidadão do que querer negar o óbvio e pretender transformar o absurdo num cesto de flores. E mais absurdo ainda querer desqualificar a verdade para encobrir podridões. Mas assim aconteceu.
Tornou-se verdadeiramente insuportável ouvir sobre a eterna inocência de Lula, com aquela mesma velha ladainha de que nunca fez nada, nunca soube de nada. Por mais que o crivo da verdade esteja espelhado em tudo, ainda assim lançam perfume em dejeto. E ainda pedem a beatificação. Certamente já está canonizado para muitos. Lamentável que seja assim.
E que ano mais entristecido. Numa só pessoa foi embora Véio Zuza, Haroldo, Painho, Jovem, Alberto Roberto, Azambuja, Bozó, Canavieira, Coalhada, Divino, Gastão, Justo Veríssimo, Nazareno, Popó, Pantaleão. E Chico Anysio.
Saudade muita deixada por Niemeyer, Hebe, Sérgio Britto, Regina Dourado, Tinoco, Millôr Fernndes, Joelmir, Dona Canô, Além de dezenas, milhares de pessoas simples que morreram a espera de atendimento nos deploráveis serviços de atendimento à saúde.
Em muitas situações, 2012 foi um ano para demonstrar quanto ainda vivemos na imbecilidade, no desrespeito, na afronta aos princípios morais. Xuxa recebeu milhões para tingir e enegrecer o cabelo, Ronaldo recebeu outros milhões para perder peso, artistas famosos receberam outros tantos milhões do governo para produzir shows.
E quando foi destinado aos sedentos e famintos do Nordeste, aos desalojados pelas chuvas, aos que ainda vivem em condições subumanas nesse país cujo programa social mais importante chama-se exatamente Brasil Sem Miséria?
2012 foi o ano marcado para acabar, o que acabou sendo adiado. E adiado para data mais próxima do que muitos possam acreditar. O homem que incessantemente destrói, devasta, degrada, violenta de todas as formas a natureza e o seu próprio ambiente de vida não pode esperar viver muito.
Quanto a mim, sofrido, calejado, mas vou seguindo em frente. Enquanto o vento soprar na minha janela estarei seguindo adiante. E quanto mais rápido ele sopra mais rápido vou seguindo. Sou apenas uma folha esperando um outono qualquer.
  

Poeta e cronista
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2013 motivos para amar (Poesia)



2013 motivos para amar


No nosso percurso de vida
querer que há muito persiste
como verdade reconhecida
provamos que o amor existe

nos 365 dias percorridos
somados aos outros vividos
é a soma da eternidade
onde não existe saudade

nos resta agora comemorar
2012 instantes amados
e 2013 motivos para amar
brindando de braços dados

uma champanhe aberta
um relógio tão inseguro
não queremos hora certa
se temos todo o futuro.

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 121


Rangel Alves da Costa*


“Existe tanta coisa adiante...”.
“A estrada, a curva...”.
“A pedra, o espinho...”.
“O labirinto, o medo...”.
“Ainda assim querer seguir...”.
“Tal qual navegar, seguir é preciso...”.
“O instante é bom...”.
“Mas a vida sempre pede para seguir adiante...”.
“E então...”.
“Então ter objetivos, saber o passo que vai dar...”.
“Ou mesmo...”.
“Ou mesmo ajeitar as asas, ganhar forças para voar...”.
“Não é partida nem despedida...”.
“Apenas um caminho a seguir...”.
“Colocar os sonhos na mala...”.
“As esperanças na mochila...”.
“Se olhar no espelho...”.
“Sentir que não pode ficar...”.
“Regar o pé de rosa...”.
“Deixar uma vela acesa...”.
“Fechar a janela e a porta...”.
“Abrir porteira ou cancela...”.
“Tanto sol, tanta vida...”.
“Mais tarde a paz do entardecer...”.
“Na beira da estrada existe uma árvore...”.
“Imensa, frondosa, de bom aconchego...”.
“Um descanso para a meditação...”.
“Meditar sobre o que?”.
“Sobre a vida, sobre a estrada...”.
“Sobre o passado, sobre o futuro...”.
“O presente precisa apenas ser vivido...”.
“E talvez uma prece, uma oração...”.
“Sempre uma prece, sempre uma oração...”.
“Deus está bem ao lado e precisa ouvir sua voz...”.
“Através da prece, da oração...”.
“E talvez um sono que chegue...”.
“Um instante adormecido antes de seguir adiante...”.
“E no sonho o norte...”.
“Encontrar o caminho ainda não imaginado...”.
“O melhor e mais seguro caminho...”.
“E ao despertar...”.
“Já nas sombras da noite...”.
“Nos portais da escuridão...”.
“Será que seguirá adiante?”.
“Não há o que temer. Já dialogou com Deus e Ele está bem ao lado...”.
“E que coisa mais bela começa a surgir...”.
“Uma lua, uma estrela...”.
“Uma estrada iluminada...”.
“E um espírito vibrante e cheio de alegria...”.
“Pisa em espinhos e nem sente...”.
“As pedras não atrapalham o andar...”.
“Tudo numa silenciosa melodia...”.
“Voz do vento, orquestra da noite...”.
“E assim vai caminhando sem cansar...”.
“Vira a noite, chega à madrugada...”.
“Ouve o galo cantar e dá bom dia à manhã...”.
“Quer cor mais linda a do alvorecer...”.
“A estrada já é também de passarinhos e borboletas...”.
“Flores do campo dançam suas cores...”.
“E eis que o sol vai surgindo...”.
“E de braços abertos agradece aos céus...”.
“Agradece pelo novo dia...”.
“E por todos os dias que virão como novos...”.
“Porque sempre existe uma estrada...”.
“E é preciso seguir...”.
“Sempre!”.


Poeta e cronista
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sábado, 29 de dezembro de 2012

TUDO DEVE SER DIFERENTE, MAS INFELIZMENTE... (CARTA AOS JOVENS DE POÇO REDONDO) (Crônica)


Rangel Alves da Costa*

Infelizmente, grande parte da juventude de Poço Redondo envelheceu antes da idade realmente adulta. É mais fácil os mais velhos desejarem mudanças do que os jovens abraçados ao passado, procurando manter na pedra de sal o antigo, o arcaico, o tenebroso.
Infelizmente, a maioria dos jovens pensa que sabe ler quando não sabe o significado das palavras. Duvido que saiba o significado e a extensão de palavras como mudança, transformação, renovação, futuro, esperança.
Infelizmente, boa parte da juventude poço-redondense está acometida de enfermidade sem perceber a doença. Cegueira não é somente não enxergar o que está adiante, mas também deixar de perceber o que está diante dos olhos.
Infelizmente, soma importante dos jovens de Poço Redondo vive mais em função da bajulação política do que para si mesma. Descaracteriza-se totalmente, se desonra pela esperança de uma falsa promessa. E que enquanto promessa fica somente no prometido.
Infelizmente, grande parte da juventude de minha terra devota mais atenção aos donos do poder, aos políticos e abastados, do que mesmo a seus pais. Não quer ouvir a voz familiar, mas na rua se submete, se torna submisso, vende a alma por preço vil.
Infelizmente, a maior parte da juventude jamais se preocupou com conceitos básicos da existência humana, jamais procurou um norte para ser respeitada perante suas ações. Moral, dignidade, respeito próprio, coerência, vergonha, são conceitos que talvez soem aos ouvidos como afronta. Infelizmente.
Infelizmente, a maioria dos jovens de Poço Redondo não sabe votar, não sabe escolher, não sabe fazer política partidária. Tudo é na base do achincalhe, da zombaria, do desrespeito, do desconhecimento ao próximo. A vida se resumiria a uma política, e em nome desta desconhece-se tudo.
Infelizmente, boa parte da juventude conterrânea se resume a viver o mais insignificantemente possível, se atrelando e se submetendo a esmolas políticas, e esquece-se de seguir pelo mesmo caminho de tantos que nos orgulham através do estudo, da aprovação em vestibulares, da vida em permanente e positiva construção.
Infelizmente, grande soma de jovens poço-redondenses procura perder ou destruir sua personalidade ainda na fase mais importante da vida, que é a juventude. Não procurando agir por conta própria, não buscando responsabilidades, o que acaba fazendo é ser reconhecido apenas como aquele que fez isto ou faz aquilo. E tudo negativamente.
Infelizmente, ainda na flor da idade, muitos já podem ser reconhecidos pelo puxa-saquismo, pela bajulação desenfreada, pelas mentiras e aleivosias, pelas falsidades, pelo descompromisso com o melhor para si e para o seu município. Ao avistá-los, ao invés de enxergar o ser humano potencial, encontrará apenas aqueles que abrem a boca “em nome do pai”.
Mas felizmente temos a outra parte, a outra soma. E é esta que esta sendo aprovada em vestibulares, estudando em faculdades e universidades, pensando grande, lutando por melhores dias. Esta, aí sim, será a grande esperança de Poço Redondo.
Verdade que a vida é feita de contrastes, de contradições, de “felizmentes” e “infelizmentes”, mas creio que seria possível chegar a um meio-termo em Poço Redondo, nem tanto nem tão pouco. Bastaria que os jovens vivessem as potencialidades da juventude, e certamente todos saberiam semear pela estrada as tantas sementes que levam à mão.
Quanto a mim, não fiquem com raiva não. Já deixei de ser jovem há muito tempo. E deixei de ser jovem para ser criança. E juro que só cresço se Poço Redondo voltar a crescer.


Poeta e cronista
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Saudade (Poesia)



Saudade


Pergunte-me o que é saudade
e simplesmente direi
saudade é a cortina aberta
é o pensamento voando
para encontrar a fotografia
saudade é uma fotografia
um retrato que surge no olhar
avistado no pensamento
que após o coração revelar
pôs na moldura o teu nome
que se ausenta da parede
para a saudade ir buscar.

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 120


Rangel Alves da Costa*


“Ah, o amor, ainda o amor...”.
“Sempre o amor...”.
“Será que é tudo?”.
“É muito mais...”.
“Eterno e infinito?”.
“Enquanto dure, como disse o poeta...”.
“Tão belo e tão misterioso...”.
“Mas o coração conhece-o bem...”.
“Nem todos os corações...”.
“Porque o amor de coração não está acessível a todos...”.
“Apenas pensam que amam...”.
“Apenas atração, momento, presença...”.
“Da boca pra fora, do sexo pra dentro...”.
“Nenhum sinal de amor...”.
“Quais seriam os sinais do amor?”.
“A revelação no olhar...”.
“O sorriso sincero...”.
“A meiguice, o jeito sublime...”.
“A doce e sincera palavra...”.
“O silêncio audível...”.
“A face repleta de contentamento...”.
“A mão que toca macia e queimando...”.
“O braço trêmulo que abraça...”.
“O lábio que chama...”.
“A boca que acolhe...”.
“O prazer de estar, da presença, em ficar...”.
“O dizer o não...”.
“O dizer o sim...”.
“O voltar atrás porque é bem melhor...”.
“Reconhecer o erro...”.
“O pedir perdão...”.
“O saber perdoar sem exigir...”.
“A cumplicidade...”.
“O companheirismo...”.
“O amor que também é amizade...”.
“A saudade que dá...”.
“A lembrança que vem...”.
“A lágrima que cai...”.
“A poesia que escreve...”.
“O nome na vidraça...”.
“Um coração desenhado e embaçado de chuva...”.
“O olho que busca...”.
“A mão com a flor...”.
“O coração que aperta...”.
“O passo que voa...”.
“O mágico encontro...”.
“Uma face na outra...”.
“A palavra...”.
“Qual palavra?”.
“Esqueça a palavra, acaricie...”.
“Um toque no lábio...”.
“E virá a palavra...”.
“O verso, a poesia...”.
“O grande livro...”.
“Que doce encanto...”.
“Indescritível momento...”.
“Porque o corpo está lendo...”.
“E o coração dizendo...”.
“Amor...”.
“Meu amor!”.


Poeta e cronista
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PERIPÉCIAS DO AMOR (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


O desejo amoroso é bicho danado demais. Ainda que o outro não saiba – e nem precise nem possa saber -, se instala por dentro, bem na porta do coração, e fica só manejando a chave, futucando, querendo entrar.
Quem já não se sentiu assim atire a primeira pedra, mas não na minha janela. Mente, renega desejos deslavadamente. Ainda que ninguém saiba, até mesmo porque segredo guardado a sete chaves, mas todo mundo já se viu despertado por paixões de difíceis ou impossíveis correspondências.
Ama quem jamais imaginaria ser objeto de tanto amor; deseja como nem o amor do outro consegue desejar; se vê na posse, em situações carinhosas, em beijos e abraços, ainda que tenha certeza da impossibilidade de ao menos tocar a face. E basta que o outro passe adiante que o coração começa a ser passarinho.
Quem sofre são os olhos, quem padece são os sentimentos, quem entorpece é o âmago, quem fica dilacerado é o coração. É tudo tão bom e tão ruim, uma indescritível alegria e uma angústia desenfreada, uma sensação de encantamento e outra de desencantamento, um querer ser passarinho pra estar pertinho e também a sensação da faltar as asas.
O corpo em si, e todo, tudo faz para parecer sempre em situação normal. A pele ruboriza e diz que é o calor abrasante; as pernas trêmulas querem seguir e ficar; a mão quer levantar em sinal, em aceno; a boca ensaia um beijo. E os olhos, o peito, o íntimo, a vontade danada de tudo. E nada...
Em certo momento do dia, num horário costumeiro, quando já conhece o itinerário da pessoa desejada, então começa a via-crúcis, o caminho do amor e da perdição. Põe-se à janela esperando passar, fica na esquina fingindo uma coisa qualquer, sai pro meio da rua, pro meio do tempo, para se aproximar, inventa situação, quer revelar o que sente. Mas não pode...
E não pode porque isso sempre acontece quando o amor é realmente muito difícil ou impossível de acontecer. Não é raro que alguém se apaixone por pessoa casada e que viva em perfeita comunhão conjugal, que queira beijar ao menos uma vez quem já está em firme compromisso, que se sinta completamente perdido de amores por quem lhe desdenha, ignora, discrimina, vaidosamente desfaz dos sentimentos.
O pior é que não para por aí não. Verdadeiras loucuras, laivos de insanidades também acontecem. Num tempo já distante alguém saiu por aí à procura de Scarlett O’Hara, aquela mesma que Rhett Butler fez de gato e sapato em ...E o Vento Levou. Um baiano enlouqueceu de tanto procurar a personagem de Sônia Braga dentro de um ônibus, pensando em fazer com ela qualquer daquelas cenas do filme A Dama do Lotação.
Tem gente que ama se jamais ter se aproximado da pessoa desejada. Esta nem sabe de sua existência, mas aquela sofre a cada dia e a cada momento. Acredita em destino, em promessa divina para unir corações. Vão envelhecendo sem alquebrar, sem desfalecer o amor, pois este permanece cada vez mais senhor do que deseja encontrar. Muitas vezes o destino ajuda mesmo e em diversas situações a velhice une quem esteve separado a maior parte da vida.
Eu sou daqueles que de tão apaixonados começam intencionalmente a escrever. São poemas, cartas, contos, romances, palavras soltas, muitas palavras, pois amo demais. Sei quem eu quero que leia. Em cada verso ou frase há um nome oculto, em cada entrelinha há uma declaração de amor. Sei bem que mais fácil seria dedicar de vez, tomar coragem para dizer a quem se endereça. Impossível, pois amo também ocultamente...
E há muita verdade quando afirmo que amo demais. Amo quem já foi meu amor (jamais esquecerei quem me deu a dádiva de estar feliz), amo quem eu poderia estar amando, amo quem não quer me amar, amo quem finge que não me conhece, não me olha, não me vê. E amo mais ainda quem confia no meu amor, que está ao meu lado, e que talvez não importe por eu amar tanto assim. E amo você. Sim. Você. Aceite ou não, eu te amo.
  

Poeta e cronista
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A folha (Poesia)



A folha


Passou o tempo
e veio o outono
e tudo desfolhou
e o vento passou
e a folha levou

estava à janela
e a folha chegou
uma folha flor
folha poesia
e escrevi um nome
acima do verso
soltando no ar
e a folha a voar
na sua direção
um sopro de amor
asas do coração
pouso de pluma
na suave mão

os olhos azuis
azul desse mar
leu a poesia
brilhou seu olhar
uma cor de desejo
desejando amar
e entramos na folha
fomos navegar.

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 119


Rangel Alves da Costa*


“Quem ama...”.
“Venera o amor...”.
“Quem ama...”.
“Divide o querer...”.
“Quem ama...”.
“Não finge amar...”.
“Quem ama...”.
“Não teme amar...”.
“Quem ama...”.
“Esquece o cansaço...”.
“Quem ama...”.
“Faz de voo o passo...”.
“Quem ama...”.
“Conhece o orvalho...”.
“Quem ama...”.
“Alcança a lua...”.
“Quem ama...”.
“Ouve melodia na brisa...”.
“Quem ama...”.
“É viajante do vento...”.
“Quem ama...”.
“É cheio de contentamento...”.
“Quem ama...”.
“Encontra luz na escuridão...”.
“Quem ama...”.
“Em tudo emoção...”.
“Quem ama...”.
“Desenha castelo, flecha e coração...”.
“Quem ama...”.
“É poeta no pensamento...”.
“Quem ama...”.
“Sopra poesia no vento...”.
“Quem ama...”.
“Sabe sonhar...”.
“Quem ama...”.
“Sempre quer mais amar...”.
“Quem ama...”.
“Abre a porta e a janela...”.
“Quem ama...”.
“Se encanta com a paisagem, com a natureza, com a vida...”.
“Quem ama...”.
“Ajoelha-se, ora, faz promessas...”.
“Quem ama agradece a Deus...”.
“Quem ama...”.
“Viaja ficando...”.
“Quem ama...”.
“É jardineiro e jardim...”.
“Quem ama...”.
“É pétala e perfume...”.
“Quem ama...”.
“Navega pelo olhar...”.
“Quem ama...”.
“Sobe à montanha ao entardecer...”.
“Quem ama...”.
“Dá sua mão à outra mão...”.
“Quem ama...”.
“Faz do amor oração...”.
“Quem ama...”.
“Olha o relógio, sente o minuto, vive o segundo...”.
“Quem ama...”.
“Incendeia sem ter chama...”.
“Quem ama...”.
“Escreve verso e bilhete...”.
“Quem ama...”.
“É amor completamente...”.
“Quem ama...”.
“É assim como eu...”.


Poeta e cronista
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

DEUSES PRECISAM DE DEUS (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Os deuses, entidades e seres imaginários que povoam a mente e até a fé de pessoas das mais diversas culturas, não se distinguem muito dessas mesmas pessoas quando precisam do único Deus. Também necessitam da graça divina para continuarem mantendo seus status de protetores.
Não se imagine, pois, que o Grande Xamã invoque o deus do fogo e a divindade tribal tenha o poder de satisfazer todas as necessidades da tribo. Esse deus do fogo é criado espiritualmente e surge quase como um mero aspecto de proteção a mais. E só é criado porque alguém acredita que é possível ter uma garantia terrena, mas nada em comparação com a proteção celestial.
Mesmo no mundo primitivo, principalmente entre os povos cultuadores de divindades pagãs, ainda assim prevalecia a crença numa força criadora superior. Assim, o grande celeiro de deuses jamais se mostrou suficiente para a proteção que buscavam. Portanto, os deuses só se justificam pela existência de um grande Deus.
Os ídolos não são onipotentes, onipresentes ou oniscientes; portanto, faltam-lhes os atributos da presença constante sobre tudo e todos. Do mesmo modo, os deuses pagãos só possuem a força de ativação da crença perante as pessoas que os cultuam. Assim, são entidades de valor reduzido. Suas ações nunca vão além da crença que se tem nos seus poderes. O que nem sempre se confirma.
As denominações são muitas para identificar cultos a deuses familiares ou circunscritos a tendências tribais, primitivas ou ancestrais. Politeísmo, monoteísmo, xamanismo, panteísmo, animismo, tribalismo, mitraísmo, totemismo, druidismo, xintoísmo, dodecanteísmo, dentre tantas outras. Em muitas sociedades serão tantos deuses quanto mais fragilizada for a crença dos povos. Por se relacionarem demais com suas divindades, acabam fragilizando os cultos.
Ora, os deuses cultuados estão envoltos em características humanas ou possuem poderes sobrenaturais específicos. Seja no totem ou num talismã, num deus olimpo ou numa divindade céltica, sempre haverá a representação do bem, do mal, da construção, da destruição. E não cabe que se faça tal destinação ao Deus da Criação. Nos atributos deste é que estão inspirados os poderes benéficos das divindades.
Em religiões antropormórficas, por exemplo, os deuses carregam em si características de humanos, de homens comuns, mas com poderes sobrenaturais. Tal fato já indica que ao equiparar-se ao homem comum obviamente se põe em obediência a uma força superior, e que não será Zeus porque outro deus superior não existe senão o próprio Deus.
No politeísmo, os deuses, masculinos, femininos ou de sexualidade indefinida, possuem personalidades próprias e, ao modo, dos governados, agem sob atribuições, pois não possuem poder sobre tudo, mas apenas dentro de certos contextos. Ademais, as deidades são tão diversas como são as aceitações pelos grupos onde são cultuados.
Isto significa que uma divindade das chuvas não se volta para proteger contra feitiçarias, uma entidade de proteção aos homens não será a mesma que protegerá as mulheres. E mesmo que todas as divindades fossem reunidas, e todas trazendo sua cota de poderes e atribuições, ainda assim não se aproximariam da verdadeira divindade, do poder de Deus.
Quando os povos se vêem em extremas aflições, em situações de flagelos e penúrias, quando a peste e a morte começam a exterminar tribos inteiras, povos inteiros, e a todos os deuses já se ergueram louvores e súplicas, então restará rogar pelo Deus único, aquele que é o primeiro e o último refúgio. E somente deste virá a salvação para as atribulações da vida.
Erroneamente imagina-se que as culturas politeístas, cuja religiosidade se baseia na adoração e culto de vários deuses, tornando em verdadeira divindade objetos, animais e outros seres, reverenciavam apenas seus ídolos. Pelo contrário, pois os deuses das culturas primitivas politeístas eram adorados ritualmente, eram idolatrados ocasionalmente e exercendo função espiritual bastante definida, mas não de modo a terem, por exemplo, um tronco de madeira como o grande Deus.
Sabiam que os seus deuses, seus ídolos e suas imagens possuíam uso restrito, voltados que eram para o diálogo com os mortos, conhecer os segredos dos vivos, saber do tempo certo para as colheitas, proteger contra enfermidades. Mas noutras situações buscavam uma proteção mais efetivamente profunda. E tal proteção só era possível tendo ciência da existência de um Deus único, infinitamente superior aos ídolos terrenos.
E se alguma força ou poder esses deuses possuem, tal será o dom para reconhecer que não são absolutamente nada sem a crença primitiva do povo e que, principalmente, precisam de Deus no espelho do bem ou do mal que possam realizar. Do mal porque ainda que fujam das lições divinas estão se mirando pelo avesso do sublime espelho.


Poeta e cronista
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Livro de poesia (Poesia)



Livro de poesia


O amor que sinto
me fez procurar
a palavra amorosa
um verso de amar
num livro de poesia
o querer namorar

a flor de Shakespeare
sussurra doces segredos
a cantiga de Vinícius
a chave do coração
Florbela tem asas
e quis ser passarinho
no livro azul de Cecília
uma nuvem e um céu
fogo do amor que arde
na chama camoniana
em toda a poesia
a palavra que eu queria

e com a poesia na boca
versos tomando o coração
fui poeta ao seu encontro
mas cheguei perto dela
e disse apenas te amo
e repeti que amava
e recebi outro beijo...

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS - 118


Rangel Alves da Costa*


“Queria ouvir uma velha canção...”.
“Melodia dos tempos idos...”.
“Sim, uma velha canção de vento e de fogo...”.
“As velhas canções se perderam no ar...”.
“Por isso que a aldeia nunca mais cantou...”.
“As aldeias estão com parabólica...”.
“As aldeias estão com visitantes...”.
“As aldeias estão sem aldeões...”.
“Mas a velha canção ainda adormece na terra...”.
“Para a voz dos antepassados...”.
“Cantiga de semeadura...”.
“Cantiga de colheita...”.
“Cantiga de festejar a boa sorte...”.
“Cantiga de espantar os maus espíritos...”.
“O velho aldeão acende a fogueira...”.
“A chama crepita chamando as raízes...”.
“E o vento soprando trazendo a saudade...”.
“Um trago de dor e de agonia...”.
“Melancólica recordação...”.
“A dor da saudade, a dor da ausência...”.
“Assim mesmo a velha canção ecoa...”.
“O menino roda na roda da vida...”.
“A menina roda na roda sem roda...”.
“E os braços se abraçam celebrando a vida...”.
“Um beijo na face, um olhar de carinho...”.
“Já é tarde, é noite, é lua...”.
“O pio na mata esconde o mistério...”.
“A cantiga canta quase que sozinha...”.
“As bocas tremulam sem dizer palavras...”.
“A garganta esqueceu a voz...”.
“Que linda canção que não se canta mais...”.
“Traga uma flor, traga uma rosa...”.
“Um pau de incenso e um baú aberto...”.
“A vida quando era vida...”.
“A vida sem história perdida...”.
“Num tempo de luas e muitas canções...”.
“Fogueiras acesas...”.
“Alegres corações...”.
“Folha de mascar e vinho pra beber...”.
“O sono não vem até o amanhecer...”.
“Mas a da fogueira nem restaram as cinzas...”.
“O vento passou e tudo levou...”.
“Quem quiser cantar tem de emudecer...”.
“Pra lembrar a canção do anoitecer...”.
“Um dia a porteira abriu...”.
“O rangido dos passos cortaram a estrada...”.
“Não era aldeão, era desconhecido...”.
“Que levou a canção e deixou o silêncio...”.
“Os olhos tão tristes não sorriem da janela...”.
“As portas batendo parece abandono...”.
“Brisa que passeia sem trazer recado...”.
“Uma dor de saudade, uma dor...”.
“O hoje que existe não existe mais...”.
“Só se sobrevive pelo que ficou atrás...”.
“Uma dor de saudade, uma dor...”.
“Vontade de cantar sem saber canção...”.
“Pergunte ao pai, pergunte ao irmão...”.
“Lembre a cantiga que dizia assim...”.
“A canção de um povo não pode calar...”.
“O povo é cantiga...”.
“Na vida a girar...”.
“A vida é canção...”.
“Então vamos cantar...”.


Poeta e cronista
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

ESPERANDO A VISITA (Crônica)


Rangel Alves da Costa*

 
Que venha e chegue logo. Estou cansado de esperar, de ver o tempo passar e sempre as mesmas horas açoitando os mesmos dias. E depois os anos, depois o cansaço por esperar, e depois...
Imagino que a vida não seja isso não. Creio piamente que não seja só isso não. Acordar para o dia, viver para as horas, ter que acostumar com a mesmice de sempre, com a mesma notícia, o mesmo carteiro que apenas passa, a mesma janela aberta, o mesmo olhar, a mesma ventania.
Não que eu tenha me afastado da realidade lá fora, que eu não tenha buscado caminhar por aí, que eu não tenha lutado para conseguir o riscado no caderninho e plantado na mente. Vou atrás com ânsia, com sede, vontade de conseguir tudo. O problema é que o desencanto sempre me recolhe ao mesmo canto.
É difícil, mas o que corro o risco de conseguir não vai além da conquista de outros que não pensam em alcançar nada mais significativo na vida. Não aceito isso em ninguém e muitos menos em mim. Por mais que os outros acabem acostumando, jamais irei me contentar em apenas comer, beber, adormecer e acordar, e ainda por cima dizer que tudo é maravilhoso.
O que é verdadeiramente maravilhoso na vida é ter sempre um sonho para ser transformado em realidade, lutar pelo aparentemente impossível por saber que tudo é possível de ser conseguido, cismar de botar o pé na nuvem e andar, criar asas de passarinho e voar, ter a certeza de um dia entrar como rei no palácio da felicidade.
O que é divinamente maravilhoso na vida é subir na montanha com a certeza do diálogo com Deus; é acreditar nos anjos bons e tê-los sempre ao lado, guiando, confortando, mostrando os caminhos; é ter a fé e a religiosidade como santuários no firmamento do meu coração; é ser templo e igreja, capela e catedral, tudo dentro de mim.
O que é maravilhosamente na vida é ter a certeza que um dia a visita chegará. Ainda que esteja recolhido na penumbra do quarto, entristecido no beiral da janela ao entardecer, desesperançado pelo que acontece ao redor, ter a certeza que virá o anúncio da chegada daquele que não me canso de esperar.
Mas não imagine que a visita será de um ex-amor que foi embora e voltará para tentar reconciliação; de um amigo viajante que estará de retorno; do poeta que vem me pedir para forçosamente dizer que seus versos são belos; do engraxate que um dia prometi uma roupa nova quando começasse a estudar. Nem pense nada disso, pois nada disso será.
A visita que tanto espero não chegará num passo nem a galope, voando nem de automóvel, de roupa nova ou no traje de todo dia. A visita tão aguardada não entrará pela janela nas asas de passarinho, não chegará no sopro do vento, não estará aqui pela luz do sol nem pelo brilho da lua.
Por consequência, para receber a visitação não prepararei almoço nem janta, não vestirei roupa nova, não precisarei ter à disposição refrigerantes, licores ou vinhos. Também não precisarei me preocupar com doces, salgados e bolos; não colocarei toalha nova na mesa nem cortinado mais vistoso. Tudo será muito simples, conforme a simplicidade da minha visita.
Uma coisa é certa. Desde já - e todos os dias - abrirei todas as janelas e portas, colocarei cadeira de balanço na varanda, esticarei a rede na varanda, limparei as folhas que caem e se espalham pelo jardim. O ar de limpeza e a ventilação nos ambientes não permitem que o desconhecido venha se instalar por aqui. E quero receber minha visita com a purificação maior que a vida requer.
Nem palmas nem campainha, nem grito nem toque. O meu coração sentirá quando ela chegar e for se instalando. Os meus olhos certamente brilharão e a minha boca se abrirá num sorriso. Como hei de cumprimentar a esperança?
Direi apenas que vá entrando para nunca mais partir. Direi que somente ela, a esperança, a visita tão esperada, será capaz de tornar o próximo momento e o dia de amanhã no melhor que se deseja na vida.
  

Poeta e cronista
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